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Volkswagen, mais uma multinacional desestabilizada por ONG

As ONGs se transformaram em atores de peso na vigilância do cumprimento dos direitos sociais e normas ambientais, como pôde ser comprovado pela Volkswagen

Logo da Volkswagen, em Berlim (Odd Andersen/AFP)

Logo da Volkswagen, em Berlim (Odd Andersen/AFP)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2015 às 23h12.

As ONGs se transformaram em atores de peso na vigilância do cumprimento dos direitos sociais e normas ambientais das multinacionais, como pôde ser comprovado pela Volkswagen.

O caso que abalou a fabricante alemã, que conta com 590.000 operários e um volume de negócios de 200 bilhões de euros, foi exposto pelo International Council on Clean Transportation (ICCT), uma organização não governamental (ONG) com sede nos Estados Unidos, que tem somente 27 colaboradores, segundo sua página na internet.

O ICCT e pesquisadores da Universidade de Virgínia Ocidental revelaram que a Volkswagen tinha instalado um software de manipulação de resultados dos controles de poluição dos veículos a diesel.

A empresa reconheceu ter colocado esse dispositivo fraudulento em onze milhões de veículos. O caso já forçou a denúncia do presidente da VW, fez as ações da VW despencarem (-35% entre segunda e quarta-feira) e lhe rendeu uma enxurrada de ações judiciais que podem custar dezenas de bilhões de dólares.

"As ONGs se transformaram em atores inevitáveis nas denúncias" de práticas empresariais, afirma Yann Louvel, da rede associativa BankTrack, que monitora os procedimentos do setor bancário.

A VW soma-se, assim, a outros gigantes do mercado que caíram nas redes de investigações das ONGs.

Em agosto passado, vários bancos desistiram de financiar um megaprojeto de mineração na Austrália, após uma companhia em defesa de uma grande barreira de coral.

A construtora francesa Vinci encontra-se envolvida em uma disputa judicial aberta pela associação Sherpa, pelas condições de trabalho impostas nas obras da Copa do Mundo de 2022 no Catar.

A mesma associação apresentou uma denúncia contra o grupo de grande distribuição Auchan, pela queda em 2013 de um prédio em Bangladesh, que custou a vida de 1.138 operários da indústria têxtil.

Numerosas ONG não param, desde então, de aumentar a pressão para que diversas marcas, como a italiana Benetton, que fabricam seus produtos no edifício, contribuam com um fundo de indenização.

Multinacionais do setor de alimentação também tiveram que ceder às ONGs de proteção da floresta tropical e revisar seus contratos de fornecimento de óleo de palma.

A Apple, acusada de se omitir em relação às condições deploráveis de trabalho nas fábricas de seus fornecedores, acabou aceitando a inspeção de uma ONG nas instalações da sua subcontratada chinesa Foxconn.

As investigações das ONGs também alertaram as autoridades nacionais sobre a evasão de impostos pela Starbucks e pela Google.

Ativistas de gravata

"As ONGs se profissionalizaram e se fortaleceram", explica Nicolas Vercken, da ONG Oxfam.

"Há dez anos, quando pedíamos uma reunião [no ministério francês das Relações Exteriores], achavam que vínhamos pedir dinheiro por uma catástrofe humanitária. Hoje em dia nos recebem por nossa perícia ou porque nos percebem como uma ameaça potencial", inclusive em assuntos meramente técnicos.

O caso Volkswagen ilustra perfeitamente essa profissionalização do ativismo. A fraude foi descoberta por uma ONG integrada principalmente por engravatados que já fizeram parte dos quadros da indústria automobilística.

A associação Sherpa monta seus expedientes legais com equipes de advogados e juristas, capazes de sofisticadas "acrobacias legais" para levar poderosas multinacionais ao banco dos réus e conseguir avanços na legislação, explica sua diretora, Laetitia Liebert.

Como as demais ONGs, a Sherpa sabe usar as redes sociais, "uma força que pode servir de holofote e também como uma proteção durante os processos contra grandes empresas", acrescenta.

Para Yann Louvel (de BankTrack), o escândalo da Volkswagen "confirma o papel preponderante das ONGs", mas ressalta a preocupante escassez de recursos dessas entidades.

"Nunca teremos a capacidade de estar por trás de cada empresa, por trás de cada um de seus contratos", concorda Nicolas Vercken, da Oxfam.

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