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Troca de comando na Petrobras enfraquece governança na estatal, dizem analistas

A mudança no comando da Petrobras, com a nomeação do general Joaquim Silva e Luna no lugar de Roberto Castello Branco, traz um risco aos esforços para recuperação da lucratividade na petroleira

General Joaquim Silva e Luna, alçado à presidência da Petrobras: mercado aguarda com ansiedade os próximos passos no comando da estatal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

General Joaquim Silva e Luna, alçado à presidência da Petrobras: mercado aguarda com ansiedade os próximos passos no comando da estatal (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 20h21.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2021 às 20h51.

A mudança no comando da Petrobras, com a indicação do general Joaquim Silva e Luna no lugar de Roberto Castello Branco, traz um risco aos esforços para recuperação da lucratividade na petroleira que é a maior empresa do país, dizem analistas que acompanham de perto os rumos da estatal. Além disso, eles preveem turbulência nos papeis de Petrobras nos próximos dias e mais incertezas sobre a política de preços da estatal.

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Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, a mudança, se confirmada, pode significar que o presidente Bolsonaro "deu um perigoso passo fora da agenda que o sustenta no poder abrindo espaço para especulações sobre suas convicções liberais de fato", em referência à agenda liberal responsável por boa parte do apelo de sua campanha eleitoral à Presidência, em 2018.

'Opção mais segura'

A chegada de um general à presidência da Petrobras está longe de ser uma novidade, pontua o professor Edmar Almeida, do Instituto de Energia do Centro Técnico Científico da PUC-Rio. Entre as décadas de 1960 e 1970, no auge do regime militar, não era raro altos executivos da empresa virem a ocupar cargos no Executivo. Um desses exemplos é o do general Ernesto Geisel, que comandou a estatal antes de assumir a Presidência da República entre 1974 e 1979.

"A opção do general Luna é a opção mais segura por estar alinhada aos interesses do governo federal", diz Almeida.

A questão, agora, é como o país deverá enfrentar o problema da política de preços da estatal, diz o especialista, que lembra o fato de outro executivo tarimbado no mercado – o administrador Pedro Parente – ter pedido demissão da presidência da estatal em 2018 na esteira da pressão de caminhoneiros contra os reajustes no preço do diesel feitos pela estatal, um episódio que culminou na greve dos caminhoeiros de maio daquele ano.

"O que vai ficar disso é que política de preço da Petrobras continua a ser um problema a ser solucionado, um debate em aberto no país", diz Almeida.

Guedes enfraquecido

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, e colunista da EXAME, a decisão é "muito ruim".  Mesmo trocando o presidente, diz Vale, a estatal estará às voltas com a necessidade de aumentar o preço com a provável subida do preço do petróleo nos próximos meses. Se a mudança foi para evitar que os preços sejam repassados, há o risco de voltarmos aos mesmos problemas do governo Dilma, que usava o represamentos para controlar a inflação.

"Isso mostra também enfraquecimento do Guedes", diz Vale. "Em episódio parecido em 2019 o Guedes conseguiu contornar a situação, mas agora não. Mostra de qualquer maneira que agenda liberal no Brasil no governo Bolsonaro não passa de ilusão, é isto tem sido confirmado nos últimos dois anos."

Para Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, o risco de uma interferência política na estratégia da estatal, se consumada, pode afugentar investidores daqui para frente.

"Esse é um primeiro passo de interferência política, ainda não sabemos se haverá uma interferência de fato nos planos de reestruturação da empresa", diz Paloma. "O que o mercado precisa aguardar são as diretrizes do novo presidente e a relação com o governo Bolsonaro. Depende de cenas dos próximos capítulos."

Cenas dos próximos capítulos

A analisa frisa, ainda, que há o risco de perda de qualidade da governança na estatal em caso de novos episódios de interferência política.

"Pode ser que outros membros da diretoria e do conselho de administração venham a declinar de seus cargos porque muitos deles estão comprometidos com estruturação e enrijecimento da governança corporativa e de transparência com o mercado. Se os rumos dessa reestruturação essas pessoas que estão nesses cargos na Petrobras podem não querer se envolver nessa mudança de rumos", diz Paloma, para quem isso traria uma sinalização muito negativo para o mercado.

"A companhia vinha seguindo uma política bastante positiva, de ser um negócio voltado ao mercado e não ser uma estatal que vive em função de vontades política de determinados grupos da sociedade", diz.

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