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Travis Kalanick de volta ao comando do Uber?

Os cotados para assumir o Uber são estrelas de primeira grandeza. Mas o escolhido pode ser o próprio fundador afastado

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Travis Kalanick, cofundador do Uber: ele sonha com um retorno para a companhia à la Steve Jobs (Stephen Lovekin/Getty Images)

Travis Kalanick, cofundador do Uber: ele sonha com um retorno para a companhia à la Steve Jobs (Stephen Lovekin/Getty Images)

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David Cohen, de Exame Hoje

Publicado em 10 de agosto de 2017 às, 17h14.

Última atualização em 10 de agosto de 2017 às, 17h15.

Travis Kalanick, o fundador da empresa de transporte Uber, tem uma baita admiração por Steve Jobs. Especialmente pela parte de sua biografia em que Jobs retornou à Apple, depois de ter sido empurrado para fora pelo CEO que ele próprio contratara.

Jobs tem sido uma espécie de modelo para Kalanick. Segundo o site de tecnologia Recode, ele tem dito a vários amigos que está “dando uma de Steve Jobs”. Com uma senhora aceleração: Jobs levou 12 anos para voltar à Apple, depois de passar por duas companhias (numa delas, a Pixar, ajudando a revolucionar os desenhos animados). Kalanick quer voltar ao comando do Uber em menos de seis meses.

Não vai acontecer, garantiu o co-fundador do Uber, Garrett Camp, num email na segunda-feira 7, aos funcionários da empresa. “A busca por um CEO é a prioridade máxima do conselho de administração”, disse Camp no email. “É tempo de um novo capítulo e o líder certo para a nossa próxima fase de crescimento.”

Na sequência, ele foi ainda mais explícito: “Apesar dos rumores que vocês certamente já viram nos noticiários, Travis não vai voltar como CEO. Nós estamos comprometidos a contratar um novo CEO de classe mundial para liderar o Uber.” Uma negativa tão peremptória deveria encerrar os boatos sobre a volta de Kalanick, certo? Nem tanto.

De acordo com o Wall Street Journal, a mensagem de Camp pegou o conselho de administração de surpresa. Pessoas próximas aos conselheiros disseram ao jornal que ninguém viu o conteúdo do email nem foi avisado de seu teor antes da divulgação. E, embora seja o presidente da empresa, Camp não está no comitê de cinco pessoas encarregado de contratar um novo CEO. Kalanick está.

Como mostrou o jornalista Brad Stone no livro As Upstarts, Camp teve a ideia do Uber sozinho, mas Kalanick soube se infiltrar no mito de origem da empresa (quando os dois se irritaram com um taxista na França, o “estalo” conforme a história oficial, a ideia já estava amadurecida para Garrett).

E, quando o Uber era pequeno demais para que alguém desejasse dirigi-lo, ele aceitou a missão – e acabou tornando-o a startup mais valiosa do planeta, metamorfoseando-a de serviço de luxo de motoristas regulares para uma plataforma de caronas pagas, ao estilo do concorrente Lyft.

A essa altura, Kalanick já havia implantado a cultura machista e briguenta que, exposta em um post de uma ex-funcionária, em vídeo do próprio Kalanick discutindo com um motorista e em inúmeros casos de desrespeito às autoridades regulatórias, acabou por derrubá-lo.

Em termos. Kalanick parece ter-se arrependido logo depois que aceitou uma saída temporária, provavelmente abalado pela morte da mãe num acidente de barco ao final de meses de escândalos (da denúncia de machismo à divulgação de que o Uber desrespeitou as regras da Apple em seu aplicativo, da briga judicial com o Google sobre roubo de patentes para criar automóveis autônomos a investigações de espionagem sobre o aplicativo de concorrentes).

Seus dois sócios principais – Camp e Ryan Graves – já se convenceram de que o Uber deve arranjar outro CEO. Mas Kalanick ainda tem muito apoio. “Ainda bem que ele foi embora, é um estúpido”, disse-me um alto funcionário do Uber nos Estados Unidos. Do outro lado, porém, a torcida não é pequena. Mais de mil funcionários do Uber assinaram uma carta ao conselho pedindo que Kalanick volte a assumir um cargo operacional – presumivelmente, a direção da companhia, em vez de apenas uma cadeira no conselho.

Não é que necessariamente 1.000, dos quase 7.000 funcionários do Uber, sejam a favor do machismo e das táticas truculentas. Podem simplesmente ser favoráveis ao espírito do “fazer primeiro, perguntar depois”, da competitividade que Kalanick também encarna.

O risco é que, livrando-se dos absurdos de Kalanick, o Uber caia no pólo do bom-mocismo vazio – algo que entrou em questão esta semana, no Google, com a demissão de um engenheiro apenas por ter divulgado que crê em uma maior “propensão masculina” ao trabalho em tecnologia.

No Uber, sinais da ascensão do politicamente correto já começaram a aparecer: a antiga “sala de guerra”, em que se analisavam ações contra a concorrência, virou “sala de paz”.

As mulheres não toparam

A batalha de Kalanick para retornar ao comando do Uber não será nada fácil. Embora tenha uma boa quantia de ações com direito a voto, ele enfrenta acionistas poderosos que não o querem mais no cargo de CEO, como Matt Cohler, líder de uma firma de capital de risco, e David Trujillo, investidor que representa os poderosos fundos Benchmark e TPG Capital.

Uma das estratégias de Kalanick para contrabalançar a luta, de acordo com o New York Times, seria um investimento significativo da holding japonesa Softbank, do bilionário Masayoshi Son – que estaria do seu lado. Por sua vez, Kalanick continua comprando ações de empregados, fortalecendo sua posição.

É bem possível que Kalanick não consiga retornar agora ao posto de CEO. Afinal, tanto Cohler quanto Trujillo estão no comitê de cinco conselheiros encarregado da escolha do novo líder. Além deles, a jornalista e empresária Arianna Huffington estaria inclinada a uma mudança radical. Se possível, com uma mulher no comando, para indicar com clareza cristalina a nova fase “pós-machista”.

Mas a mera disposição de Kalanick já tem surtido efeitos. Serviu, por exemplo, para afugentar candidatos, que não estão dispostos a entrar numa empresa não só em crise, mas em guerra interna.

A ideia de um CEO do sexo feminino, por exemplo, já parece descartada. Sheryl Sandberg, braço direito de Mark Zuckerberg no Facebook, descartou o convite. Susan Wojcicki, chefe do YouTube, também não se interessou. Tampouco Mary Barra, da General Motors, e Carolyn McCall, da EasyJet. E, no final de julho, Meg Whitman, da HP, declinou da oferta publicamente (ao estilo Trump, por meio do Twitter).

Como escreveu o Washington Post, “a busca do Uber por uma CEO mulher está centrada agora em três homens”. Um deles, diz o jornal, é Jeff Immelt, que está de saída da GE. Os outros dois são uma incógnita.

Um desses dois talvez seja… Travis Kalanick.

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