Suzano diz que não vai usar a MP que permite redução de salários
Mesmo com coronavírus, fábricas da empresa estão operando normalmente; companhia doou 50 milhões de reais em ações de combate à doença
Carolina Ingizza
Publicado em 14 de abril de 2020 às 16h21.
A Suzano não vai aplicar neste momento os mecanismos de suspensão de contratos de trabalho previstos pela Medida Provisória 936, afirmou nesta terça-feira 14 Walter Schalka, presidente-executivo da maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.
A MP, chamada pelo governo de Jair Bolsonaro de "Programa Emergencial de Manutenção do Emprego", permite às empresas suspender contratos de trabalho e a reduzir salários e jornadas por até 90 dias sem necessidade de negociação com sindicatos.
"Não temos intenção de aplicar esta MP neste momento", disse Schalka em teleconferência com jornalistas, afirmando que a Suzano possui 11 fábricas no Brasil e que todas estão operando normalmente após medidas de proteção dos funcionários tomadas pela empresa contra riscos de contágio pelo novo coronavírus .
O setor de celulose é um dos poucos no mundo que tem passado pela pandemia de Covid-19 sem sofrer grandes impactos de queda de receita, uma vez que o produto é matéria-prima para a confecção de uma série de itens médicos e de higiene como máscaras de proteção, lenços descartáveis e outros papéis sanitários.
E é justamente esta demanda por celulose para aplicação no segmento de "tissue" que está crescendo. Segundo apresentação da Suzano na semana passada, o segmento de papel tissue representa 61% da receita da Suzano e a procura cresce em todas as regiões do mundo, incentivada pela pandemia de Covid-19.
Doações: máscaras e respiradores
Por conta desta posição favorecida, Schalka afirmou que a Suzano está trabalhando em ações de redução dos impactos da doença no Brasil. A companhia está doando 50 milhões de reais na forma de uma série de ações que incluem embarque de 159 respiradores e milhares de máscaras hospitalares compradas na China para envio ao Brasil.
Os produtos devem chegar ao Brasil na quarta-feira em um voo da Emirates, depois de uma escala em Dubai, nos Emirados Árabes. "A escolha desta rota foi proposital, o risco da carga ser retida (por autoridades de outros países) é muito baixo", disse Schalka.
O diretor-executivo de relações e gestão legal da Suzano, Pablo Machado, afirmou que a Suzano comprou 1 milhão de máscaras hospitalares na China e que o primeiro lote de entre 250 mil a 500 mil máscaras virá junto com os respiradores. A razão para a variação no número é justamente o "risco de confisco", disse o executivo. "Trabalhamos junto ao Itamaraty e à embaixada brasileira na China para medidas para que a carga possa chegar a salvo ao Brasil", disse Machado.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou na semana passada que o governo federal praticamente desistiu de comprar 15 mil respiradores junto a uma fabricante chinesa uma vez que a empresa não garantiu a entrega das máquinas em meio à intensa disputa global pelos equipamentos.
Os respiradores que a Suzano espera receber na quarta-feira, começarão a ser distribuídos na quinta-feira ao governo federal e junto às comunidades que abrigam fábricas da companhia no país, nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Maranhão, Pará, Mato Grosso do Sul e Paraná.
Situação emergencial
Além desta carga, a Suzano emprestou 10 milhões de reais para que a fabricante brasileira de respiradores Magnamed consiga atender ao pedido do Ministério da Saúde de entrega de 6.500 respiradores até agosto. A empresa tem atualmente capacidade para produzir 200 equipamentos por mês, disse Schalka, e o contrato acertado com o ministério tem custo de 322,5 milhões de reais, segundo a pasta.
"É uma situação emergencial. Muitas empresas estavam exigindo pagamento antecipado para entregarem os componentes para a Magnamed produzir os respiradores porque há uma disputa muito grande por eles no mundo", disse Schalka ao explicar o envolvimento da Suzano no empreendimento, que envolveu até o presidente do conselho de administração da companhia, David Feffer.
"Até nosso chairman (Feffer) ligou para os presidentes das empresas de componentes", disse Schalka. "Emprestamos o dinheiro, não temos relação societária e não teremos relação societária com a Magnamed", acrescentou.
Além da Suzano, o apoio à produção da Magnamed está sendo concedido pelas empresas Positivo Tecnologia, Klabin, Embraer, Fiat Chrysler, White Martins e Flex.
Atualmente a Suzano tem 15 mil funcionários, a maioria no Brasil, dos quais 4 mil estão trabalhando em regime de home office e 650 afastados "por diversas razões" como serem de grupo de risco do Covid-19. Schalka afirmou que a companhia ainda não registrou casos da doença entre os trabalhadores.
"Afastamos todas as pessoas das fábricas que não eram essenciais para a produção...As fábricas estão operando exatamente como antes, sem nenhum problema. Mas caso tenhamos casos de contaminação, estamos estudando medidas como mudanças nos regimes de turnos. Temos vários níveis de contingência que podemos adotar", disse Schalka.