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Somos a petrolífera mais certeira do mundo, diz OGX

Diretor-geral da empresa diz a EXAME.com que a OGX não está "afobada" para vender blocos da bacia de Campos e nega avaliação de que precisará fazer nova oferta de ações

Paulo Mendonça, diretor-geral da OGX: "a sensação de que estamos fazendo promessas não cumpridas deve ser reavaliada" (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2011 às 16h05.

São Paulo – Desde que a consultoria D&M divulgou o relatório com suas estimativas de reservas para a OGX, as ações da companhia de exploração de petróleo do bilionário Eike Batista apresentam um desempenho sofrível na bolsa. Até o final da manhã desta quinta-feira (28/04), os papéis acumulavam uma queda de quase 22%, o que representa uma perda de quase 14 bilhões de reais em valor de mercado. Em entrevista a EXAME.com, no entanto, dois dos principais executivos da empresa afirmaram que não há motivo para a desconfiança do mercado.

Para o diretor-geral, Paulo Mendonça, e o diretor de desenvolvimento da produção, Reinaldo Belotti, a companhia entregou todas as promessas feitas até agora. Segundo os executivos, que trabalharam mais de 30 anos na Petrobras antes de ingressarem na OGX, nenhuma empresa de petróleo conseguiu agregar um volume de reservas tão alto em tão pouco tempo na história. O índice de acerto de 90% na perfuração de poços também seria inédito no mundo – ainda que o próprio Mendonça admita que será difícil mantê-lo no futuro.

Os executivos afirmaram que a OGX não está "afobada" para concretizar a venda de parte dos blocos da Bacia de Campos e que também não precisam fazer uma nova emissão de ações para financiar a continuidade da campanha exploratória. Com quase 5 bilhões de reais em caixa e a expectativa de produzir 18.000 barris de petróleo por dia até o final do ano, a companhia teria outras alternativas para financiar seus investimentos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

EXAME.com - O mercado atribuiu a queda das ações da OGX desde a semana passada ao fato de que o relatório da D&M teria mostrado números abaixo das expectativas. Vocês concordam?

Paulo Mendonça - Não é que não conseguimos atingir as expectativas. Você acha que descobrir 4 bilhões de barris de petróleo é fácil? Eu tenho 40 anos de experiência no setor do petróleo. Muitas companhias estão aí desde então e não têm nem 100 milhões de barris em reservas. A OGX não só tem 4 bilhões de barris em reservas descobertas como também mostrou capacidade de agregar valor com outros projetos exploratórios no futuro.

EXAME.com - Por que as pessoas esperavam ainda mais do que isso?

Mendonça – Dizer que os analistas nos avaliam mal é indevido. Dos 20 relatórios que eu li sobre a empresa, 15 recomendam a compra da nossa ação e quatro estão neutros. A única recomendação de venda que temos é da Merrill Lynch, que nos avalia dessa maneira desde que chegamos à bolsa. O que eu concordo é que havia expectativas muito divergentes dentro do mercado. Mas lembro que não podíamos dar um guidance [estimativa de resultados futuros].

EXAME.com – Vocês consideram o relatório conservador?

Mendonça - A certificação funciona da seguinte maneira. Eu levo para eles as informações da empresa. O cara usa a metodologia dele e faz o relatório. A metodologia é a mesma há 50 anos. Não podíamos fazer nada para tentar mudá-la porque alguém da consultoria poderia dizer que foi pressionado. Então não é uma crítica quando a gente diz que a metodologia da consultoria D&M é conservadora. É porque é mesmo.

EXAME.com – O relatório da D&M quebrou o encanto do mercado com a OGX?

Reinaldo Belotti – Para nós, o relatório foi muito bom. Ele quebrou algumas expectativas que foram criadas de uma maneira que ainda não é muito clara para a gente. Mas pensando na atividade de exploração de petróleo e nas nossas próprias expectativas, é alto muito positivo.

Mendonça – No passado, fizemos uma estimativa de reservas de 2,6 bilhões e 5,5 bilhões de barris. Esses números conversam com os 5,7 bilhões que obtivemos da consultoria na Bacia de Campos mesmo sem incluir o pré-sal. Os números conversam de maneira altamente positiva com o que prometemos e se encontram no patamar mais alto do intervalo estimado.


EXAME.com - Por que o Eike Batista sugeriu que o relatório era ultrapassado?

Mendonça - O Eike comparou o relatório ao Bejamin Button porque já nasceu velho, mas ele não quis se queixar da consultoria. A D&M é uma tremenda certificadora com 50 anos de experiência e é óbvio que voltaremos a contratá-la. O Eike só quis chamar a atenção que, entre o momento que foi iniciada a certificação e a divulgação do relatório, 15 novos poços foram perfurados. A gente podia pedir para incluí-los, mas isso atrasaria a divulgação em mais seis a oito meses. O relatório ficou velho não por culpa da D&M, mas pela nossa velocidade.

EXAME.com – O mercado não esperava que as reservas da OGX fossem avaliadas de uma forma que indicasse que o estágio de produção estaria mais próximo?

Mendonça - Acho que os analistas que recomendam a compra de nossa ação entenderam claramente que estamos no meio de uma campanha exploratória em que havia duas opções. Quando encontramos o primeiro ou o segundo campo, poderíamos ter parado por ali para delimitá-lo e transformá-lo em reserva provada para começar a produzir logo. Outra possibilidade era continuar a campanha exploratória como nós fizemos, agregando mais volume ao total de reservas. Ao optarmos por isso, não fazia mais sentido fazermos furos a 1 ou 1,5 km de locais onde já havíamos encontrado óleo. Isso faria com que as reservas fossem consideradas mais maduras no relatório. Também seria barbada furar a 1,5 km e encontrar óleo de novo. Mas só faz sentido fazer isso na hora de produzir, o que não é o caso na maioria dos poços.

EXAME.com – A empresa se arrepende agora por ter tomado esse caminho?

Belotti - Estávamos na primeira fase exploratória e não tínhamos o objetivo de transformar tudo em reserva. Como fizemos muito mais em termos de perfuração do que o esperado, de repente o mercado criou uma expectativa ainda maior que em momento nenhum saiu de nossa boca. Mas a verdade é que em apenas um ano e meio de exploração conseguimos colocar 10,8 bilhões de barris de petróleo em várias categorias de reservas, sendo que boa parte na melhor categoria delas. Isso é uma coisa excepcional em qualquer parte do mundo. Se você pesquisar, não vai encontrar paralelo a isso.

EXAME.com - Em nenhuma outra empresa na história?

Belotti - Não há registro que tenha acontecido.

Mendonça - Eu tenho 40 anos na indústria de petróleo e nunca vi nada igual. Fico me perguntando onde a gente pode ter errado, talvez tenha sido na comunicação. Porque eu nunca vi ninguém divulgar 4 bilhões de barris ao mercado e apanhar tanto. Vou lhe dar um exemplo. Durante o período de 35 anos em que trabalhei na Petrobras, passei uma temporada na Colômbia. As reservas que tínhamos lá passaram de zero a 100 milhões de barris nesse período. E essas descobertas foram encaradas com festa. Há 15 anos, o que descobrimos naquele momento é o que ainda alimenta produção da Petrobras por lá.

EXAME.com - Explorar petróleo é mais arriscado do que muita gente pensa?

Mendonça - Eu não tenho a menor dúvida de que é arriscado. Mas quem sabe construir uma companhia de petróleo tem muito mais chance de se dar bem. A OGX tem times de exploração, de perfuração, de reservatórios e de produção de alto gabarito. Foi exatamente toda essa inteligência que nós juntamos aqui. Qual é o resultado? Chegamos a um índice de sucesso de 90% na perfuração de poços, algo que você não vai encontrar no mundo. O índice é de 100% em Parnaíba, de 100% em Campos e de 60% em Santos. Perfuramos 47 poços e já posso dizer que somos uma empresa efetiva e capaz de descobrir petróleo. A área de exploração é muito arriscada quando a gente analisa o índice de sucesso mundial, de 15% a 30%. Mas não é o nosso caso. O maior risco de o investidor quebrar a cara é escolher mal a companhia em que ele vai colocar o dinheiro.

EXAME.com - É possível manter o percentual de acerto de 90% até o final da campanha exploratória?

Mendonça - Eu acho difícil. Começamos nosso trabalho de exploração por Campos, que é uma bacia fantástica. Mas mesmo em Parnaíba, que é uma bacia esquecida pelos deuses, conseguimos 100% de acerto. Com esse time que nós temos, posso dizer que vamos continuar mantendo índices altos. Às vezes, o mercado não nos dá o valor que a gente tem.


EXAME.com - Parte do risco atribuído à OGX está no fato de que ainda se trata de uma empresa pré-operacional?

Mendonça – A empresa só é pré-operacional do ponto de vista de geração de caixa.

Belotti – Estamos operando com nove sondas, mais de uma dezena de barcos e quatro helicópteros. Usamos três aeroportos e dois portos. Temos 250 técnicos altamente capacitados e mais de 5.000 pessoas trabalhando conosco. Temos um centro integrado operacional onde acompanhamos diuturnamente todas as operações de nossas sondas com o suporte de uma das melhores empresas da área no mundo. Então não acho que seja uma empresa pré-operacional.

EXAME.com - Quando a empresa efetivamente começa a produzir petróleo?

Mendonça - Nossa primeira plataforma está sendo concluída em Cingapura. A estimativa mais precisa que tenho neste momento é que devemos começar a produzir petróleo no final de setembro ou começo de outubro.

Belotti – O poço já está perfurado com a árvore de natal [conjunto de válvulas para exploração] instalada. O navio está comprado. Está tudo pronto. Dependemos só de acertos finais para começar. No final do ano, é provável que estejamos produzindo entre 16.000 e 18.000 barris de petróleo por dia. Será um teste de longa duração em um poço só. Já sabemos a qualidade desse óleo e começamos a fase de comercialização.

EXAME.com – E os demais poços?

Mendonça – Vamos enviar à ANP na semana que vem o plano de avaliação de outros dois poços da bacia de Campos: Pipeline e Waikiki. E também já encaminhamos um plano para a bacia de Santos.

EXAME.com – Qual é a velocidade de crescimento da produção da OGX?

Belotti – Precisamos de autorizações da ANP, do Ibama e de outras coisas para iniciar a produção em alguns campos. Mas até o final de 2012, devemos produzir cerca de 40.000 barris por dia em três poços diferentes.

EXAME.com - Quanto tempo demora para que a empresa tenha caixa próprio ou possa tomar crédito em bancos para dar continuidade à campanha exploratória? A empresa terá de fazer uma nova oferta de ações em breve?

Mendonça - Não haverá nova emissão de ações. Temos muitas opções. Para chegarmos ao pico de produção, teremos necessariamente de fazer uma nova captação de recursos. Mas não será por meio de uma emissão de ações.

EXAME.com - Essa operação de venda de ações começou a ser considerada pelos analistas depois que a OGX adiou a venda de parte dos blocos da bacia de Campos e reduziu o percentual do que será oferecido. O que aconteceu?

Mendonça - O Eike explicou que reduziu a operação de venda dos blocos da bacia de Santos de 30% para 10% porque o risco do nosso negócio diminuiu. Com a perfuração de mais poços, entendemos que não era necessário oferecer ao mercado a oportunidade de explorar tantas áreas. Todas as empresas do setor agem assim. Decidimos oferecer menos porque podemos fazer mais dinheiro dessa forma. Com os números do relatório da D&M, conseguiremos nos capitalizar.


EXAME.com – Mas sem a venda dos blocos de Santos nem a emissão de ações, como isso será feito?

Belotti – Poderíamos, por exemplo, fazer a venda do petróleo que produziremos futuramente. Podemos fazer a captação de recursos em algum banco. Dá para fazer uma série operações.

EXAME.com - Mas os analistas não trabalham muito com esses cenários porque a empresa ainda não produz, certo?

Mendonça – Uma coisa que o mercado não lembra é que ainda temos 4,8 bilhões de reais em caixa mesmo após um processo intensivo de perfuração. Não estamos afobados porque temos várias opções. Hoje dinheiro não é problema. O que incomoda hoje é constatar que há certa desconfiança no mercado. A exploração, a produção e a captação de recursos estão indo muito bem. Trabalhamos muito e temos zero de dívida. Os problemas vêm de fora.

EXAME.com - Quando a venda dos blocos de Campos foi adiada no ano passado, o Eike veio a público dizer que o negócio sairia após a divulgação do relatório da D&M. De certa forma, ele mesmo não alimentou no mercado uma expectativa de que o relatório seria extraordinário?

Mendonça - O otimismo do Eike não é dele. Nós é que passamos. Eu não estou otimista com esse projeto, estou encantado. Trabalho há muito tempo com petróleo e, mesmo assim, acho que batemos em uma senhora província em água rasa, a 80 km da costa, com reservatórios de alta produtividade. Eu levo o Eike a ser entusiasta porque acredito nessa empresa. É verdade que o mercado vai captar nossa mensagem da maneira que quer. O que não dá para atropelar é o fato de que temos cumprido tudo que prometemos.

EXAME.com - A empresa vai continuar entregando o que prometeu?

Mendonça – Desde que entrei nessa companhia, só ouço que a gente não vai conseguir. Disseram na licitação dos blocos que a gente não ganharia nada, e ganhamos. Disseram no IPO que a gente não conseguiria levantar recursos, e foi um sucesso. Depois disseram que não haveria sondas para fazer a campanha exploratória, e já temos nove. Quando começamos a perfuração, diziam que a gente não encontraria nada, mas estamos sempre avançando. Essa sensação de que estamos fazendo promessas não cumpridas deve ser reavaliada porque estamos entregando mais do que prometemos.

EXAME.com - Os investidores estão então diante de uma oportunidade de compra das ações da OGX neste momento?

Mendonça – O que eu posso te dizer é que o relatório foi fantástico para a OGX e atendeu amplamente nossas expectativas. O Brasil tem hoje uma opção à Petrobras, que não é mais a única grande companhia de petróleo do país.

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São Paulo – Desde que a consultoria D&M divulgou o relatório com suas estimativas de reservas para a OGX, as ações da companhia de exploração de petróleo do bilionário Eike Batista apresentam um desempenho sofrível na bolsa. Até o final da manhã desta quinta-feira (28/04), os papéis acumulavam uma queda de quase 22%, o que representa uma perda de quase 14 bilhões de reais em valor de mercado. Em entrevista a EXAME.com, no entanto, dois dos principais executivos da empresa afirmaram que não há motivo para a desconfiança do mercado.

Para o diretor-geral, Paulo Mendonça, e o diretor de desenvolvimento da produção, Reinaldo Belotti, a companhia entregou todas as promessas feitas até agora. Segundo os executivos, que trabalharam mais de 30 anos na Petrobras antes de ingressarem na OGX, nenhuma empresa de petróleo conseguiu agregar um volume de reservas tão alto em tão pouco tempo na história. O índice de acerto de 90% na perfuração de poços também seria inédito no mundo – ainda que o próprio Mendonça admita que será difícil mantê-lo no futuro.

Os executivos afirmaram que a OGX não está "afobada" para concretizar a venda de parte dos blocos da Bacia de Campos e que também não precisam fazer uma nova emissão de ações para financiar a continuidade da campanha exploratória. Com quase 5 bilhões de reais em caixa e a expectativa de produzir 18.000 barris de petróleo por dia até o final do ano, a companhia teria outras alternativas para financiar seus investimentos. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

EXAME.com - O mercado atribuiu a queda das ações da OGX desde a semana passada ao fato de que o relatório da D&M teria mostrado números abaixo das expectativas. Vocês concordam?

Paulo Mendonça - Não é que não conseguimos atingir as expectativas. Você acha que descobrir 4 bilhões de barris de petróleo é fácil? Eu tenho 40 anos de experiência no setor do petróleo. Muitas companhias estão aí desde então e não têm nem 100 milhões de barris em reservas. A OGX não só tem 4 bilhões de barris em reservas descobertas como também mostrou capacidade de agregar valor com outros projetos exploratórios no futuro.

EXAME.com - Por que as pessoas esperavam ainda mais do que isso?

Mendonça – Dizer que os analistas nos avaliam mal é indevido. Dos 20 relatórios que eu li sobre a empresa, 15 recomendam a compra da nossa ação e quatro estão neutros. A única recomendação de venda que temos é da Merrill Lynch, que nos avalia dessa maneira desde que chegamos à bolsa. O que eu concordo é que havia expectativas muito divergentes dentro do mercado. Mas lembro que não podíamos dar um guidance [estimativa de resultados futuros].

EXAME.com – Vocês consideram o relatório conservador?

Mendonça - A certificação funciona da seguinte maneira. Eu levo para eles as informações da empresa. O cara usa a metodologia dele e faz o relatório. A metodologia é a mesma há 50 anos. Não podíamos fazer nada para tentar mudá-la porque alguém da consultoria poderia dizer que foi pressionado. Então não é uma crítica quando a gente diz que a metodologia da consultoria D&M é conservadora. É porque é mesmo.

EXAME.com – O relatório da D&M quebrou o encanto do mercado com a OGX?

Reinaldo Belotti – Para nós, o relatório foi muito bom. Ele quebrou algumas expectativas que foram criadas de uma maneira que ainda não é muito clara para a gente. Mas pensando na atividade de exploração de petróleo e nas nossas próprias expectativas, é alto muito positivo.

Mendonça – No passado, fizemos uma estimativa de reservas de 2,6 bilhões e 5,5 bilhões de barris. Esses números conversam com os 5,7 bilhões que obtivemos da consultoria na Bacia de Campos mesmo sem incluir o pré-sal. Os números conversam de maneira altamente positiva com o que prometemos e se encontram no patamar mais alto do intervalo estimado.


EXAME.com - Por que o Eike Batista sugeriu que o relatório era ultrapassado?

Mendonça - O Eike comparou o relatório ao Bejamin Button porque já nasceu velho, mas ele não quis se queixar da consultoria. A D&M é uma tremenda certificadora com 50 anos de experiência e é óbvio que voltaremos a contratá-la. O Eike só quis chamar a atenção que, entre o momento que foi iniciada a certificação e a divulgação do relatório, 15 novos poços foram perfurados. A gente podia pedir para incluí-los, mas isso atrasaria a divulgação em mais seis a oito meses. O relatório ficou velho não por culpa da D&M, mas pela nossa velocidade.

EXAME.com – O mercado não esperava que as reservas da OGX fossem avaliadas de uma forma que indicasse que o estágio de produção estaria mais próximo?

Mendonça - Acho que os analistas que recomendam a compra de nossa ação entenderam claramente que estamos no meio de uma campanha exploratória em que havia duas opções. Quando encontramos o primeiro ou o segundo campo, poderíamos ter parado por ali para delimitá-lo e transformá-lo em reserva provada para começar a produzir logo. Outra possibilidade era continuar a campanha exploratória como nós fizemos, agregando mais volume ao total de reservas. Ao optarmos por isso, não fazia mais sentido fazermos furos a 1 ou 1,5 km de locais onde já havíamos encontrado óleo. Isso faria com que as reservas fossem consideradas mais maduras no relatório. Também seria barbada furar a 1,5 km e encontrar óleo de novo. Mas só faz sentido fazer isso na hora de produzir, o que não é o caso na maioria dos poços.

EXAME.com – A empresa se arrepende agora por ter tomado esse caminho?

Belotti - Estávamos na primeira fase exploratória e não tínhamos o objetivo de transformar tudo em reserva. Como fizemos muito mais em termos de perfuração do que o esperado, de repente o mercado criou uma expectativa ainda maior que em momento nenhum saiu de nossa boca. Mas a verdade é que em apenas um ano e meio de exploração conseguimos colocar 10,8 bilhões de barris de petróleo em várias categorias de reservas, sendo que boa parte na melhor categoria delas. Isso é uma coisa excepcional em qualquer parte do mundo. Se você pesquisar, não vai encontrar paralelo a isso.

EXAME.com - Em nenhuma outra empresa na história?

Belotti - Não há registro que tenha acontecido.

Mendonça - Eu tenho 40 anos na indústria de petróleo e nunca vi nada igual. Fico me perguntando onde a gente pode ter errado, talvez tenha sido na comunicação. Porque eu nunca vi ninguém divulgar 4 bilhões de barris ao mercado e apanhar tanto. Vou lhe dar um exemplo. Durante o período de 35 anos em que trabalhei na Petrobras, passei uma temporada na Colômbia. As reservas que tínhamos lá passaram de zero a 100 milhões de barris nesse período. E essas descobertas foram encaradas com festa. Há 15 anos, o que descobrimos naquele momento é o que ainda alimenta produção da Petrobras por lá.

EXAME.com - Explorar petróleo é mais arriscado do que muita gente pensa?

Mendonça - Eu não tenho a menor dúvida de que é arriscado. Mas quem sabe construir uma companhia de petróleo tem muito mais chance de se dar bem. A OGX tem times de exploração, de perfuração, de reservatórios e de produção de alto gabarito. Foi exatamente toda essa inteligência que nós juntamos aqui. Qual é o resultado? Chegamos a um índice de sucesso de 90% na perfuração de poços, algo que você não vai encontrar no mundo. O índice é de 100% em Parnaíba, de 100% em Campos e de 60% em Santos. Perfuramos 47 poços e já posso dizer que somos uma empresa efetiva e capaz de descobrir petróleo. A área de exploração é muito arriscada quando a gente analisa o índice de sucesso mundial, de 15% a 30%. Mas não é o nosso caso. O maior risco de o investidor quebrar a cara é escolher mal a companhia em que ele vai colocar o dinheiro.

EXAME.com - É possível manter o percentual de acerto de 90% até o final da campanha exploratória?

Mendonça - Eu acho difícil. Começamos nosso trabalho de exploração por Campos, que é uma bacia fantástica. Mas mesmo em Parnaíba, que é uma bacia esquecida pelos deuses, conseguimos 100% de acerto. Com esse time que nós temos, posso dizer que vamos continuar mantendo índices altos. Às vezes, o mercado não nos dá o valor que a gente tem.


EXAME.com - Parte do risco atribuído à OGX está no fato de que ainda se trata de uma empresa pré-operacional?

Mendonça – A empresa só é pré-operacional do ponto de vista de geração de caixa.

Belotti – Estamos operando com nove sondas, mais de uma dezena de barcos e quatro helicópteros. Usamos três aeroportos e dois portos. Temos 250 técnicos altamente capacitados e mais de 5.000 pessoas trabalhando conosco. Temos um centro integrado operacional onde acompanhamos diuturnamente todas as operações de nossas sondas com o suporte de uma das melhores empresas da área no mundo. Então não acho que seja uma empresa pré-operacional.

EXAME.com - Quando a empresa efetivamente começa a produzir petróleo?

Mendonça - Nossa primeira plataforma está sendo concluída em Cingapura. A estimativa mais precisa que tenho neste momento é que devemos começar a produzir petróleo no final de setembro ou começo de outubro.

Belotti – O poço já está perfurado com a árvore de natal [conjunto de válvulas para exploração] instalada. O navio está comprado. Está tudo pronto. Dependemos só de acertos finais para começar. No final do ano, é provável que estejamos produzindo entre 16.000 e 18.000 barris de petróleo por dia. Será um teste de longa duração em um poço só. Já sabemos a qualidade desse óleo e começamos a fase de comercialização.

EXAME.com – E os demais poços?

Mendonça – Vamos enviar à ANP na semana que vem o plano de avaliação de outros dois poços da bacia de Campos: Pipeline e Waikiki. E também já encaminhamos um plano para a bacia de Santos.

EXAME.com – Qual é a velocidade de crescimento da produção da OGX?

Belotti – Precisamos de autorizações da ANP, do Ibama e de outras coisas para iniciar a produção em alguns campos. Mas até o final de 2012, devemos produzir cerca de 40.000 barris por dia em três poços diferentes.

EXAME.com - Quanto tempo demora para que a empresa tenha caixa próprio ou possa tomar crédito em bancos para dar continuidade à campanha exploratória? A empresa terá de fazer uma nova oferta de ações em breve?

Mendonça - Não haverá nova emissão de ações. Temos muitas opções. Para chegarmos ao pico de produção, teremos necessariamente de fazer uma nova captação de recursos. Mas não será por meio de uma emissão de ações.

EXAME.com - Essa operação de venda de ações começou a ser considerada pelos analistas depois que a OGX adiou a venda de parte dos blocos da bacia de Campos e reduziu o percentual do que será oferecido. O que aconteceu?

Mendonça - O Eike explicou que reduziu a operação de venda dos blocos da bacia de Santos de 30% para 10% porque o risco do nosso negócio diminuiu. Com a perfuração de mais poços, entendemos que não era necessário oferecer ao mercado a oportunidade de explorar tantas áreas. Todas as empresas do setor agem assim. Decidimos oferecer menos porque podemos fazer mais dinheiro dessa forma. Com os números do relatório da D&M, conseguiremos nos capitalizar.


EXAME.com – Mas sem a venda dos blocos de Santos nem a emissão de ações, como isso será feito?

Belotti – Poderíamos, por exemplo, fazer a venda do petróleo que produziremos futuramente. Podemos fazer a captação de recursos em algum banco. Dá para fazer uma série operações.

EXAME.com - Mas os analistas não trabalham muito com esses cenários porque a empresa ainda não produz, certo?

Mendonça – Uma coisa que o mercado não lembra é que ainda temos 4,8 bilhões de reais em caixa mesmo após um processo intensivo de perfuração. Não estamos afobados porque temos várias opções. Hoje dinheiro não é problema. O que incomoda hoje é constatar que há certa desconfiança no mercado. A exploração, a produção e a captação de recursos estão indo muito bem. Trabalhamos muito e temos zero de dívida. Os problemas vêm de fora.

EXAME.com - Quando a venda dos blocos de Campos foi adiada no ano passado, o Eike veio a público dizer que o negócio sairia após a divulgação do relatório da D&M. De certa forma, ele mesmo não alimentou no mercado uma expectativa de que o relatório seria extraordinário?

Mendonça - O otimismo do Eike não é dele. Nós é que passamos. Eu não estou otimista com esse projeto, estou encantado. Trabalho há muito tempo com petróleo e, mesmo assim, acho que batemos em uma senhora província em água rasa, a 80 km da costa, com reservatórios de alta produtividade. Eu levo o Eike a ser entusiasta porque acredito nessa empresa. É verdade que o mercado vai captar nossa mensagem da maneira que quer. O que não dá para atropelar é o fato de que temos cumprido tudo que prometemos.

EXAME.com - A empresa vai continuar entregando o que prometeu?

Mendonça – Desde que entrei nessa companhia, só ouço que a gente não vai conseguir. Disseram na licitação dos blocos que a gente não ganharia nada, e ganhamos. Disseram no IPO que a gente não conseguiria levantar recursos, e foi um sucesso. Depois disseram que não haveria sondas para fazer a campanha exploratória, e já temos nove. Quando começamos a perfuração, diziam que a gente não encontraria nada, mas estamos sempre avançando. Essa sensação de que estamos fazendo promessas não cumpridas deve ser reavaliada porque estamos entregando mais do que prometemos.

EXAME.com - Os investidores estão então diante de uma oportunidade de compra das ações da OGX neste momento?

Mendonça – O que eu posso te dizer é que o relatório foi fantástico para a OGX e atendeu amplamente nossas expectativas. O Brasil tem hoje uma opção à Petrobras, que não é mais a única grande companhia de petróleo do país.

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