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Sadia nega que tenha sido inábil quanto à Perdigão

Fonte ligada à negociação classifica o movimento da Sadia como uma "tentativa válida"

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

A oferta frustrada de compra da Perdigão pela Sadia nesta semana suscitou uma questão no setor: a gigante brasileira de alimentos se precipitou na proposta? Como afirmou o presidente da Perdigão, Nildemar Secches, no dia da oferta (17/7), a empresa teria errado a forma para abordar os sócios da concorrente? Na Sadia, a quinta maior empresa do setor de Alimentos, Bebidas e Fumo, segundo o Anuário EXAME Melhores e Maiores, a percepção é positiva. A companhia rejeita a idéia de ter sido pouco hábil na tentativa de conduzir o que seria o primeiro caso brasileiro de aquisição hostil de uma empresa. Parte dos analistas acredita que a empresa tenha errado ao propor um valor inicial muito baixo pela concorrente, esperando que as negociações elevassem o preço até o ponto desejável. "Não fomos inábeis. Tudo foi muito bem calculado e a oferta foi uma tentativa válida", rebateu um dos negociadores da Sadia.

Especialistas em fusões e aquisições acreditam que o melhor caminho para a Sadia seria pesquisar, previamente, o preço pago por grandes investidores no último ano - e oferecer algo acima disso. Mesmo que não conseguisse a adesão de todos, os acionistas que aderissem à oferta ajudariam a pressionar os nove fundos de pensão, liderados pela Previ (do Banco do Brasil) a aceitar a proposta. Foram esses fundos, em conjunto com a Weg Participações, que lideraram as duas recusas ao negócio ao longo da semana. O bloco detém 55,38% do capital da empresa e, ao atuar conjuntamente, impediu o andamento do acordo, pois a própria Sadia havia condicionado a conclusão da oferta à adesão de 50% mais uma do total das ações.

Para o negociador da Sadia, dois pontos pesaram na decisão de retirar a oferta. O primeiro foi a intransigência dos fundos de pensão. "Sabíamos que os fundos poderiam bloquear a oferta a qualquer momento, pois, mesmo com o capital pulverizado, os acionistas da Perdigão agem como um bloco de controle. O que surpreende é que os fundos sequer avaliaram as ofertas", diz.

Ao recusar prontamente a primeira oferta (27,88 reais por papel) e a segunda (29 reais), os fundos não deram margem para que a Sadia apresentasse seus argumentos financeiros. A Perdigão alega que os valores são baixos e que foram baseados em cotações depreciadas pelas crises sanitárias dos últimos meses. O representante da Sadia questiona, porém, as projeções de mercado, que apontam um forte potencial de valorização da empresa. "Dizem que os papéis podem chegar a 35, 37 reais. Mas são especulações. Um novo foco de gripe aviária pode derrubar a cotação para 23 reais", afirma. Atualmente, os papéis da Perdigão são negociados na faixa de 26 reais por ação.

Elevar mais o preço ofertado não está nos planos da Sadia, segundo a fonte. "Temos uma visão do valor de mercado da Perdigão. Não tem sentido oferecer mais", diz. Ao reajustar a oferta em 4%, o valor total que a Sadia se dispôs a pagar pela concorrente subiu de 3,7 bilhões de reais para 3,85 bilhões - muito próximo do preço, em bolsa, da própria Sadia (3,9 bilhões). Para o negociador, não há sentido em oferecer um preço que supere o da própria adquirente, já que a diferença de porte das operações é nítida.

No ano passado, por exemplo, a receita bruta da Sadia foi de 8,328 bilhões de reais - 42% superior aos 5,873 bilhões da Perdigão. Com 13 unidades industriais cada uma, a Sadia tem vantagens no volume de operações - abateu 626 milhões de frangos e 3,8 milhões de suínos, contra 521 milhões e 3,6 milhões, respectivamente, da rival. "Não estávamos no patamar de oferecer o mesmo preço da Sadia pela Perdigão", diz.

Como em outras ofertas hostis, muitos analistas não dão o caso por encerrado e apostam que a Sadia fará outro lance. Até porque, se não o fizer, corre o risco de ver gigantes do setor, como a americana Tyson Foods, arrematar a rival. "Tudo é possível, mas ainda não há nenhuma sinalização a esse respeito", diz o negociador. "O importante é que mostramos que a Sadia é uma empresa com visão de mercado e que está olhando para o futuro. Quer ser cada vez maior e buscar o exterior", afirma.

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