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As ressalvas do mercado à possível fusão Braskem-Quattor

Aumento do endividamento e possível controle da Petrobras sobre a Braskem preocupam mercado

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

O surgimento de um gigante do setor petroquímico com a possível compra da Quattor pela Braskem é visto com ressalvas pelo mercado. Se por um lado a aquisição do Quattor criaria um monopólio na fabricação resinas plásticas no Brasil e dirimiria os riscos de ingresso de um concorrente internacional no país, por outro abriria espaço para possíveis arranhões à saúde financeira da Braskem e também a deixaria mais exposta ao risco política de ter a Petrobras como acionista majoritária.

Foram exatamente esses temores que levaram as ações preferenciais classe A da Braskem – as mais negociadas na Bovespa – a registrar queda de 2,13% no pregão desta segunda-feira, o primeiro após o Portal EXAME revelar as negociações para a Braskem comprar a Quattor com participação da Petrobras. Nesta terça, às 10h13, os papéis se recuperam com alta de 1,39%, para 10,24 reais.

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Na avaliação da corretora do Itaú-Unibanco, a operação traria mais perdas do que ganhos para a Braskem. Primeiro porque a Braskem herdaria dívidas da Quattor justamente em um momento no qual consolida um importante processo de redução de custos, ampliação das atividades e redução gradual do próprio endividamento. A Quattor surgiu, em 2007, com a compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras e sua união com a Unipar, da família Geyer. Desde o acordo, a relação dívida líquida/ EBITDA (geração de caixa operacional) da Unipar alcançou 15 vezes. O endividamento da empresa ultrapassa 6 bilhões de reais e combina as dívidas originais da Unipar às da petroquímica da Suzano. Ao absorver esses débitos, a dívida da Braskem subiria de 3,16 vezes o Ebitda para 4,7 vezes, segundo a corretora SLW.

O segundo problema está justamente na possibilidade de a Petrobras ampliar sua participação como acionista nessa nova empresa. A avaliação do Itaú é que, se a Odebrecht passar a dividir o controle da Braskem com a estatal, pode haver uma maior interferência do governo brasileiro nos preços de resinas termoplásticas. A estatal terá um grande poder sobre o negócio porque também controla a venda da nafta, fonte para a produção de eteno e propeno que, por sua vez, são as matérias-primas para a produção de resinas termoplásticas.

Hoje a Petrobras é minoritária tanto na Quattor, onde detém 40% do capital controlador, quanto na Braskem, na qual detém 31% das ações. O Itaú não faz previsões sobre o impacto que essa mudança poderia ter nos resultados da Braskem. Mas, para imaginá-los, basta lembrar que o governo Lula não escondeu seu descontentamento com a Embraer ou a Vale quando as duas empresas privadas decidiram demitir funcionários no final do ano passado para enfrentar a crise que se espalhava pelo mundo. Seria difícil imaginar que, nas mãos do governo, as duas empresas teriam dispensado algum funcionário. (Continua)


Da mesma forma, sob controle estatal, a Braskem, apesar de tornar-se praticamente monopolista no setor petroquímico brasileiro, dificilmente poderia usar seu poder de mercado para impor preços maiores aos clientes. Além disso, se no futuro os brasileiros elegerem um presidente da República com um perfil mais populista, a empresa poderia até mesmo ser utilizada para a adoção de políticas anti-inflacionárias, com a redução do preço de suas resinas.

Monopólio não preocupa

Controlada pelo grupo Odebrecht, a Braskem nasceu em 2001, resultado da união das empresas petroquímicas dos grupos Odebrecht e Mariani com a compra da Copene. Desde então, com o objetivo de se fortalecer e enfrentar a concorrência estrangeira, a Braskem passou a adquirir concorrentes, como a parte petroquímica da Ipiranga. Caso conclua o negócio com a Quattor, a Braskem consolida sua liderança na região e terá de adquirir empresas estrangeiras para dar sequência a seu plano de expansão.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, Merheg Cachum, descarta eventuais prejuízos ao segmento caso a negociação se concretize. “Na verdade, você sai de um duopólio para um monopólio. Vivemos em uma economia aberta. Sempre é melhor adquirir insumos no mercado interno, mas caso isso se torne impraticável, temos uma válvula de escape: importar.”

Braskem e Quattor também são as únicas na fabricação de polietileno de baixa densidade linear e polipropileno e são as maiores em copolímero de etileno e acetato de vinila (EVA), além de ocupar posição de destaque em todos os outros tipos de resina.

Ainda segundo Cachum, uma união entre Braskem e Quattor também promete não afetar os preços das resinas, uma vez que se trata de uma commodity. Em julho, os preços médios para referência de resinas termoplásticas no Brasil eram de 1.788 dólares a tonelada, após um pico de queda em janeiro quando chegaram a 1.670 dólares a tonelada. (Continua)


Além disso, embora a possível compra da Quattor pela Braskem venha se traduzir na maior concentração em um determinado segmento econômico já vista na história do país, ela talvez não tenha tantas dificuldades para ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Segundo um ex-conselheiro do órgão, as restrições costumam ser maiores quando se trata de empresas cuja união afetam mais diretamente o consumidor final, a exemplo de outros casos como Kolynos-Colgate, Antarctica-Brahma, Nestlé-Garoto, Sadia-Perdigão.

De quem importar

Entre os fornecedores estrangeiros de resinas termoplásticas para o Brasil estão Estados Unidos, Europa e China. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Braskem e Quattor praticamente dominam a produção de matérias-primas básicas de resinas termoplásticas, o eteno e propeno, embora a Petrobras também tenha capacidade para produzir 395 mil toneladas/ano desse último item.

No ano passado, o Brasil produziu 4,919 milhões de toneladas de resinas plásticas. O consumo aparente (que inclui produção local mais importação menos exportação) foi de 5,248 milhões de toneladas. As importações somaram 1,560 milhão de toneladas e as exportações alcançaram 903,6 mil toneladas. Vale destacar que 2008 foi um ano atípico, uma vez que as centrais petroquímicas nacionais realizaram paradas técnicas para ampliação e manutenção de suas atividades.

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