Renault informa Justiça sobre transferência suspeita a Carlos Ghosn
Segundo a Renault, "identificou-se um depósito no valor de 50.000 euros, como parte de um acordo assinado com o Palácio de Versalhes" para Ghosn
AFP
Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 13h25.
Suspeito de crimes financeiros no Japão, Carlos Ghosn teria cometido delitos na França? A Renault reportará à justiça que seu ex-chefe recebeu 50.000 euros no contexto de um acordo de patrocínio com o Palácio de Versalhes.
"Identificou-se um depósito no valor de 50.000 euros, como parte de um acordo de patrocínio assinado com o Palácio de Versalhes, tendo como beneficiário Carlos Ghosn", informou a Renault nesta quinta-feira em um comunicado.
A fabricante de automóveis "decidiu levar esses fatos ao conhecimento das autoridades judiciais". O estaria ligado à festa de casamento de Ghosn no castelo, em 8 de outubro de 2016.
"Os elementos reunidos até agora necessitam de verificações adicionais", acrescentou o grupo.
Em um comunicado, o Palácio de Versailles informou que a Renault "solicitou" uma parte do Grand Trianon, um pequeno palácio dentro do domínio do castelo de Versailles, "para organizar um jantar em 8 de outubro de 2016".
A instituição pública registrou a locação do Palácio de Versailles e do Grand Trianon, no valor de 50.000 euros, em troca deum contrato de patrocínio, no valor de 2,3 milhões de euros, assinado entre os dois parceiros em junho de 2016.
Uma fatura da empresa que organizou o casamento indica que o aluguel foi "oferecido por Versalhes", o que pode sugerir um presente dado diretamente a Ghosn.
Caberá à Procuradoria que receber as informações da Renault ordenar ou não a abertura de um inquérito judicial e definir a possível classificação criminal dos fatos.
Contactadas pela AFP, as Procuradorias de Paris, Versailles e Nanterre (região de Paris) não receberam nenhum relatório até esta manhã.
Auditoria interna
A montadora fez esta descoberta como parte das investigações lançadas internamente em novembro, logo após a prisão de seu ex-chefe no Japão.
Até agora, esta auditoria não revelou qualquer deficiência atribuível ao responsável pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Motors.
Questionado pela AFP à margem do salão de empresários em Paris, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, assegurou que haveria "total transparência".
"Neste caso", o Estado, o maior acionista da Renault, com 15% do capital e 22% dos direitos de voto, "assumiu todas as suas responsabilidades desde o início", acrescentou, lembrando que solicitou ao grupo duas auditorias separadas, uma na Renault e outra na sociedade holandesa Renault-Nissan BV (RNBV), que coordena as atividades da aliança automobilística franco-japonesa.
"A auditoria sobre a Renault foi lançada e começa a dar resultados", disse Le Maire.
Preso em Tóquio em 19 de novembro, alvo de três acusações por abuso de confiança e ocultação de rendimentos às autoridades financeiras entre 2010 e 2018, Ghosn nega envolvimento em qualquer atividade de malversação.
Elecontinuará preso até seu processo, que ainda deve elvar alguns meses para acontecer, segundo sua defesa. Se for considerado culpado, por ser condenado a até 15 anos de prisão.
Ghosn, que era diretor da Renault desde 2005, renunciou ao cargo no final de janeiro. Ele foi retirado da presidência da Nissan e Mitsubishi logo após as primeiras revelações.
Em uma entrevista no final de janeiro à AFP e ao jornal econômico francês Les Echos, Ghosn denunciou uma "conspiração" da Nissan para destruir seu plano de integrar mais estreitamente as três empresas parceiras.