Quem é o empresário do PR que investiu R$ 200 milhões para criar o bairro mais sustentável do mundo
O projeto do Eurogarden, idealizado por Jefferson Nogaroli, foi inaugurado em agosto deste ano, em Maringá, no norte do Paraná
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de dezembro de 2023 às 08h03.
Última atualização em 17 de janeiro de 2024 às 14h33.
A cidade de Maringá, no Paraná, ganhou um novo bairro, o Eurogarden, um projeto audacioso com a promessa de ser o mais sustentável do mundo e para o qual já foram direcionados mais de 200 milhões de reais.
Inspirado em cidades europeias, o bairro vai comportar mais de 20.000 árvores, grandes alamedas, parques e ciclovias.O objetivo é criar um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para circular e transitar sem o uso de carros.
A área está localizada em uma região central da cidade e que abrigará o novo centro cívico de Maringá. Órgãos como a Justiça do Trabalho, o Fórum Eleitoral e o Hospital da Criança já estão na região e novos devem chegar ao longo dos próximos anos.
O bairro está sendo construído em um espaço bruto de 1,4 milhão de metros quadrados, terreno um pouco menor que o Parque Ibirapuera, em São Paulo, que acumula 1,6 milhão. Deste total, a Argus Empreendimentos Imobiliários e a Sisa Construções Civis, empresas do Grupo Nogaroli, são donas de 583.000 metros quadrados. O restante é propriedade da União, que cedeu para equipamentos públicos de diferentes esferas, federal, estadual e municipal.
“Nós já investimos mais de 200 milhões de reais em terreno, benfeitorias na área e sistema de tecnologia para implementar o modelo de cidade inteligente”, afirma Jefferson Nogaroli, CEO do Eurogarden Maringá. “Nós estamos chamando o modelo de one-stop-life, um lugar onde as pessoas podem morar em superquadras, caminhar até a escola, escritório, sem ter que gastar com carro”.
Qual é a trajetória de empreendorismo de Jefferson Nogaroli
O projeto é um sonho antigo do empresário, presidente do conselho de administração do Grupo Nogaroli, uma holding composta por 12 empresas. O negócio mais estabelecido da família é a rede de supermercados Amigão, com unidades pelo Paraná, interior de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
- Em 2022, fechou 2022 como o 20º maior grupo supermercadista do país e um faturamento de 4 bilhões de reais
- O valor foi obtido em suas 70 lojas, 90% delas supermercados tradicionais e 10% atacarejos, na bandeira Stock Atacadista
- No Paraná, ocupa a segunda posição, atrás da Muffato. Para este ano, a expectativa é de 4,5 bilhões de reais
O empreendimento começou como uma sorveteria criada pelo pai de Nogaroli, Valdir. Em 1982, o negócio foi transformado no Supermercado São Francisco, uma homenagem ao pai e avô de Jefferson, Francisco Nogaroli.
Francisco iniciou a trajetória de empreendedorismo na família com um pequeno comércio.
Antes da Segunda Guerra Mundial, ele teve um problema de saúde e, debilitado, acabou perdendo tudo.
Valdir carregou a motivação e mais tarde, com os ganhos como funcionário público, começou a empreender.
O Supermercado São Francisco cresceu e andou sozinho ao longo de mais de duas décadas. Em 2010, a família fundiu a operação com a Cidade Canção, rede criada em 1977, também em Maringá.
Hoje, a família Nogaroli detém 50% do negócio, o mesmo percentual da família Cardoso, criadora da Canção. Filho mais velho dos Nogaroli, Jefferson começou a acompanhar os negócios do pai desde os 13 anos. Mais tarde, assumiu a liderança.
O bom desempenho da rede supermercadista preparou a família para entrar em outros mercados.
Atualmente, os empreendimentos estão em setores como cartão de crédito, vinícola, construtora e loteamentos imobiliários, verticais que adicionam um faturamento anual em torno de 200 milhões de reais. Foi em uma dessas que o grupo adquiriu em 2009 o terreno agora transformado em bairro.
Quais serão os próximos passos no desenvolvimento do bairro
E o empresário, que quando criança tinha entre as principais brincadeiras imaginar-se construindo ruas e cidades, começou a colocar o projeto de pé.
“Eu achava que não era justo com a cidade fazer qualquer bairro, eu queria fazer alguma coisa que deixasse um legado. E o pessoal me chamava de louco, algo que ouço com certa frequência”, afirma ele, morador de Maringá desde os seis meses de vida. Além dos negócios da família, o profissional também presidiu o Sebrae Paraná e foi o idealizador da cooperativa Sicoob Sul.
Os primeiros passos do projeto foram direcionados à procura de um escritório que pudesse canalizar o desejo de construir algo diferente, uma abordagem mais próxima da Europa, privilegiando o pedestre, a caminhada, em contraposição à vida motorizada.
Com o plano desenhado, vem ao longo dos últimos 10 anos alinhando e estruturando os rumos do novo bairro. O projeto deveria ter sido lançado antes, por volta de 2015, mas as crises política e econômica no meio da década passada atrasaram os planos.
“Nós optamos por esperar e fizemos uma coisa que acho que foi interessante. Nós avançamos em todos os projetos para fazer a drenagem das galerias pluviais, esgotamento sanitário, das redes elétricas e compramos muitas árvores para fazer o sistema de arborização”, diz.
O processo serviu também para a empresa correr atrás de organizações que certificam as boas ações na adoção de práticas e construções sustentáveis. Um selo veio da LEED, sistema de certificação da Green Building Council, entidade criada nos Estados Unidos e presente em mais de 160 países.
O empreendimento conquistou o nível platinum, o mais elevado entre os oferecidos e acumulou 95 pontos, a maior no mundo.Daí, o uso do superlativo de "bairro mais sustentável do mundo". O projeto ainda recebeu uma pré-certificação “Well”, um selo internacional criado para reconhecer o impacto positivo que as obras podem gerar para os seus moradores.
A estrutura entra agora em um novo momento. Após a criação de um café , o empresário anuncia nesta sexta, 11, ao lado do governador do estado do Paraná, a comercialização de dois lotes da área para a construção de torres residenciais, com até 50 andares, e a inauguração do prédio que funciona como um centro para recepção de visitantes e clientes.
- A previsão é de que entre o fim de 2014 e início de 2025, o espaço comece a receber os seus primeiros moradores.
- Nos cálculos de Nogaroli, o bairro deve abrigar uma população em torno de 50.000 e 60.000 ao longo dos próximos anos.
- Em valores atuais, o metro quadrado do terreno está sendo negociado em torno de 8.000 a 10.000 reais.
Esta reportagem foi publicada originalmente em 11 de agosto de 2023.Leia aqui o texto original.