Prisão de diretora não afeta os planos ambiciosos da Huawei
A detenção de Meng, longe de diminuir as ambições, vai acelerar a queda da "cortina de silício", quando EUA e China deixarão de fornecer chips um ao outro
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 18h00.
Última atualização em 13 de dezembro de 2018 às 18h00.
A surpreendente prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei Technologies, detonou uma bomba política na empresa e intensificou um risco fundamental: que mais e mais países coloquem seus switches, roteadores e telefones na lista negra por causa do crescente receio de que eles possam ser sequestrados por espiões estrangeiros.
No entanto, dentro da sede da Huawei em Shenzhen, um sigiloso grupo de engenheiros trabalha sem se preocupar com esses riscos. Eles estão voltados para o que vem a seguir: uma série de tecnologias de inteligência artificial, computação em nuvem e chip que é crucial para as prioridades nacionais da China e para o futuro da Huawei. Enquanto a guerra comercial se desenrola, o governo da China faz pressão para criar uma indústria menos dependente dos semicondutores e software de ponta dos EUA.
A detenção de Meng, longe de diminuir essas ambições, vai acelerar a queda desta "cortina de silício", quando os EUA e a China deixarão de fornecer chips um ao outro, escreveu Gus Richard, analista da Northland Capital Markets, em relatório recente. "A Huawei é o ícone da ascensão da potência industrial da China", escreveu ele.
Embora um tribunal canadense tenha concedido fiança a Meng, ela deve permanecer na região de Vancouver enquanto aguarda a possível extradição para os EUA por acusações de fraude.
A empresa está investindo grandes recursos em tecnologia de última geração, na tentativa de replicar o sucesso que teve em outras áreas. Durante a última década, a companhia de capital fechado discretamente se tornou um titã em equipamentos de redes e de telecomunicações, agora atrás apenas da Cisco Systems, que tem sede em San Jose, Califórnia.
Em seguida, a Huawei entrou no mercado de smartphones e, surpreendendo a maioria dos analistas, superou a participação de mercado da Apple no início deste ano. No trimestre de setembro, a empresa chinesa teve 15 por cento das remessas mundiais, atrás apenas da Samsung Electronics, de acordo com dados da IDC. Apenas dois anos antes, tinha cerca de 9 por cento do mercado.
A expertise técnica da Huawei, combinada com seus vínculos com empresas de alto nível e com o governo da China, poderia engenhar outra surpresa em um campo que muitos consideram ser a espinha dorsal da tecnologia futura.
Essas ambições condizem com os objetivos do governo. O presidente Xi Jinping quer que a China seja um líder autossustentável em semicondutores - e a Huawei está mostrando que isso é possível. Xi quer que a China tenha uma presença global - e a Huawei tem. Xi quer que a China passe da manufatura básica para indústrias mais lucrativas, com benefícios para o país - e a Huawei também.
A Enterprise Business Group da Huawei, que fica atrás de redes e smartphones em vendas, vende componentes e serviços para dispositivos conectados à internet, cidades inteligentes e produtos em nuvem. A empresa faturará mais de US$ 10 bilhões em receita neste ano, cerca de um décimo do total geral da companhia, disse Qiu Heng, diretor de marketing da divisão, em uma entrevista em novembro.
A empresa espera que as vendas corporativas dobrem a cada dois anos. Isso significa que a unidade faturaria US$ 100 bilhões em 2025, ano estabelecido pelo governo da China para chegar à independência na produção tecnológica. E essas projeções não computam negócios nos EUA - Qiu disse que as estimativas para sua divisão excluem os EUA, onde a Huawei é um pária político.