Premiê português defende golden share em setores estratégicos
Lisboa - A Europa tem que permitir direitos especiais dos seus Estados em empresas de setores estratégicos, como energia e telecomunicações, para que possam proteger o interesse público geral nessas indústrias, disse o primeiro-ministro português, José Sócrates. "Não posso estar de acordo com aqueles que na Europa acham que o importante é agora retrocedermos em […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
Lisboa - A Europa tem que permitir direitos especiais dos seus Estados em empresas de setores estratégicos, como energia e telecomunicações, para que possam proteger o interesse público geral nessas indústrias, disse o primeiro-ministro português, José Sócrates.
"Não posso estar de acordo com aqueles que na Europa acham que o importante é agora retrocedermos em relação aos direitos especiais que cada Estado tem nas companhias de tecnologia da informação e comunicação e na área da energia", afirmou.
Bruxelas está contestando os direitos que Portugal tem na Portugal Telecom, Galp Energia e Energias de Portugal (EDP) por Lisboa ter golden share --ação que dá poder de veto em decisões estratégicas-- nessas companhias.
"(O Estado) é a única entidade que, em muitos momentos, pode defender o interesse geral. Não escondo que este episódio da Portugal Telecom é bem revelador do que está em cima da mesa", disse Sócrates.
Em 30 de junho, Lisboa usou suas 500 "golden shares" para vetar a venda da participação da Portugal Telecom na Vivo à Telefónica, apesar de 74 por cento dos votos de acionistas em assembleia geral da empresa terem sido favoráveis ao negócio.
Contudo, a Corte Europeia de Justiça decide no dia 8 a validade da golden share e analistas apostam que o tribunal vai deliberar por sua extinção.
Sócrates realçou que as áreas de comunicações e de informação e energia são críticas para os Estados, qualificando-as de "áreas sensíveis para o interesse de todos os cidadãos".
"Julgo que uma das formas de regular justamente esses setores, fazendo com que o interesse geral também seja considerado, e não apenas os interesses particulares, é justamente a possibilidade dos Estados terem alguns direitos especiais", frisou o premiê português.
Para Sócrates, um Estado fraco não serve os interesses da sociedade e os direitos especiais em empresas de setores importantes europeus são a melhor forma de defender os interesses gerais e não só os privados.
O premiê destacou que Lisboa vetou a venda da Vivo porque "o setor de tecnologia da informação e comunicação representa um dos setores mais promissores em termos de alavancagem do crescimento econômico e é um dos setores essenciais para a sociedade da informação do país".
Ele afirmou que "a dimensão de uma empresa é condição fundamental para o desenvolvimento de projetos de inovação, para o desenvolvimento de investimento em pesquisa e desenvolvimento e para o desenvolvimento de um projeto industrial".
"O Estado votou contra porque teve em conta os interesses nacionais. Votou contra porque não tem vergonha de defender o interesse geral e porque essa é a nossa obrigação", disse Sócrates.