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Plataforma PrevisIA ajuda na prevenção do desmatamento da Amazônia

Desenvolvida por Microsoft, Imazon e Fundo Vale, ela utiliza cloud e inteligência artificial para coletar dados e preservar a maior floresta do planeta

Floresta amazônica: desmatamento registrado no mês de setembro representa uma área quase quatro vezes maior que Fortaleza (PrevisIA/Divulgação)
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Publicado em 17 de novembro de 2021 às 09h00.

Última atualização em 17 de novembro de 2021 às 09h02.

Na Amazônia, que se espalha por 4,1 milhões de quilômetros quadrados, vive e se reproduz mais de um terço das espécies existentes no planeta. Mas as ameaças à maior floresta do mundo também são gigantescas.

No primeiro semestre de 2021, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, registrou a maior área da Amazônia sob alerta de desmatamento dos últimos seis anos. Só em setembro foram abaixo 1.224 quilômetros quadrados, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon — que representa uma área quase quatro vezes maior que Fortaleza. Foi o maior registro de desmatamento no mês de setembro nos últimos dez anos.

Mas também há boas notícias, e uma delas é a PrevisIA. Trata-se de uma plataforma baseada em inteligência artificial e computação em nuvem para prever áreas com risco de desmatamento futuro na Amazônia.

Lançada no dia 4 de agosto deste ano, foi desenvolvida pela Microsoft em parceria com o Imazon e o Fundo Vale. A ferramenta também foi apresentada na COP26, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro. A utilização da plataforma foi abordada no painel “Metas baseadas em ciência: o papel de governos subnacionais e non-state actors brasileiros na implementação do Acordo de Paris” que contou com a participação de Lucia Rodrigues, Líder de Filantropia da Microsoft Brasil; Helder Zahluth Barbalho, governador do estado do Pará; e Andrea Alvares, vice-presidente de Marca, Inovação, Internacionalização e Sustentabilidade da Natura, debatendo sobre o que as metas climáticas baseadas na ciência significam para diferentes setores e por que elas são estratégias-chave para um ciclo virtuoso de ambição Net Zero.

O objetivo da ferramenta é municiar tanto o poder público como a sociedade em geral com informações valiosas — que fazem toda a diferença na hora de traçar estratégias de preservação e prevenção ao desmatamento ( leia quadros ao longo da reportagem ).

-(PrevisIA)

Ameaça monitorada

Veja o ranking dos estados com maior área sob risco de desmatamento para 2022:

1 - Pará: 4.639 km² sob risco
2 - Acre: 1.871 km² sob risco
3 - Amazonas: 1.824 km² sob risco
4 - Rondônia: 1.216 km² sob risco
5 - Mato Grosso: 1.163 km² sob risco
6 - Maranhão: 405 km² sob risco
7 - Roraima: 396 km² sob risco
8 - Amapá: 57 km² sob risco
Fonte: PrevisIA

A novidade faz parte do chamado Microsoft Mais Brasil, plano lançado em outubro de 2020 com o intuito de apoiar o crescimento econômico sustentável do país. Seus objetivos são três: habilitar a economia digital com ajuda da tecnologia; fomentar educação, capacitação profissional e empreendedorismo; e apoiar o crescimento sustentável e o impacto social.

A plataforma Escola do Trabalhador 4.0, parceria da Microsoft com o Ministério do Trabalho que já reúne 52.000 alunos em busca de novas oportunidades, é uma das iniciativas do plano.

“Na Microsoft, acreditamos que a Inteligência Artificial pode auxiliar a resolver desafios do planeta e da sociedade”, diz Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil. “A preservação do meio ambiente, sem dúvida, é um desses desafios”.

Lançada pela companhia há alguns anos, a iniciativa AI for Good está contribuindo com 185 milhões de dólares ao longo de cinco anospara fornecimento de financiamento, tecnologia e especialização para indivíduos e organizações sem fins lucrativos para que eles possam enfrentar alguns dos maiores desafios da sociedade. O AI for Earth, um dos pilares dele, é um dos apoiadores dessa inciativa em parceria com o Fundo Vale e o Imazon.

Situação crítica

Conheça os municípios com maior risco de desmatamento

1 - São Félix do Xingu (PA): 475 km² sob risco
2 - Altamira (PA): 452 km² sob risco
3 - Porto Velho (RO): 428 km² sob risco
4 - Feijó (AC): 329 km² sob risco
5 - Pacajá (PA): 293 km² sob risco
6 - Lábrea (AM): 291 km² sob risco
7 - Itaituba (PA): 272 km² sob risco
8 - Sena Madureira (AC): 242 km² sob risco
9 - Novo Progresso (PA): 232 km² sob risco
10 - Portel (PA): 223 km² sob risco
Fonte: PrevisIA

Para maximizar o potencial da PrevisIA, o Imazon firmou uma parceria com o Ministério Público do Pará e com o Centro de Apoio Operacional Ambiental. A parceria já está sendo ampliada para outros estados.

O objetivo da união é fornecer subsídios técnicos e facilitar a cooperação e o intercâmbio de informações entre os dois órgãos, vitais para o combate ao desmatamento, seja por meio de ações preventivas ou coercitivas. O Pará, afinal, é o estado com maior área sob risco ( veja quadro acima ). O município escolhido como piloto para implementar um plano de ações para prevenção e controle do desmatamento para o projeto foi Altamira, no Pará. Espalhado por cerca de 159.000 quilômetros quadrados, segundo o IBGE, costuma ser apontado como um dos dez municípios que mais contribuem com o desmatamento na Amazônia.

O conjunto das informações fornecidas pelo Imazon servirá de base para um plano estrutural de atuação de diversos setores, incluindo governos, empresas e a sociedade civil. Depois do diagnóstico, o órgão terá dados necessários para definir as ações de controle e prevenção e agir em prol da conservação.

“O grande diferencial da PrevisIA é não olhar para o desmatamento que já aconteceu na Amazônia, mas para o futuro, pois ações de prevenção se mostram com melhor custo-benefício se comparadas com as de recuperação de áreas já desmatadas ”, diz Lucia Rodrigues, líder de filantropia da empresa no Brasil.

Já Carlos Souza Jr., pesquisador associado do Imazon, diz que “o grande avanço deste projeto foi democratizar o acesso a recursos avançados de tecnologia da informação para facilitar o engajamento de diversos usuários e organizações na prevenção e no controle do desmatamento.”

“A PrevisIA tem potencial de ser usada também para avaliar áreas de restauração florestal e vulnerabilidade ao fogo, ajudando a produzir dados mais concretos para arranjos de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que poderão ser adotados pela Vale em mercados de créditos de carbono”, explica a diretora de operações do Fundo Vale, Patrícia Daros. A mineradora assumiu o compromisso de zerar suas emissões de carbono até 2050. Entre as iniciativas, está a meta de recuperar e proteger 500.000 hectares de florestas até 2030.

Etnias em xeque

Conheça as terras indígenas com maior desmatamento previsto

1 - TI Apyterewa: 96 km² sob risco
2 - TI Mundurucu: 42 km² sob risco
3 - TI Trincheira/Bacajá: 35 km² sob risco
4 - TI Cachoeira Seca do Iriri: 34 km² sob risco
5 - TI Kayapó: 14 km² sob risco
6 - TI Yanomami: 13 km² sob risco
7 - TI Sete de Setembro: 9 km² sob risco
8 - TI Andirá-Marau: 8 km² sob risco
9 - TI Ituna/Itatá: 8 km² sob risco
10 - TI Karipuna: 8 km² sob risco
Fonte: PrevisIA

Para definir que regiões estão mais ameaçadas, a plataforma analisa diversas variáveis. Com a ajuda de um algoritmo, cruza dados de estradas legais e ilegais, topografia, cobertura do solo, infraestrutura urbana e dados socioeconômicos.

O modelo de risco adotado foi desenvolvido pelo Imazon e utiliza recursos avançados de nuvem do Microsoft Azure.

A plataforma é capaz de cruzar dados e medir a área total da Amazônia e o número de municípios, unidades de conservação, terras indígenas, territórios quilombolas e assentamentos rurais sob risco de desmatamento. E mais: possibilita a análise por estados e municípios, o que permite a elaboração de rankings.

Risco à preservação

As unidades de conservação estadual com maior desmatamento previsto

1 - APA Triunfo do Xingu: 297 km² sob risco
2 - Florex Rio Preto-Jacundá: 279 km² sob risco
3 - Resex Jaci Paraná: 72 km² sob risco
4 - APA Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças: 35 km² sob risco
5 - APA Rio Pardo: 27 km² sob risco
6 - Resex Guariba-Roosevelt: 26 km² sob risco
7 - APA Arquipélago do Marajó: 26 km² sob risco
8 - FES Afluente do Complexo do Seringal Jurupari: 25 km² sob risco
9 - PES de Guajará-Mirim: 25 km² sob risco
10 - APA do Lago de Tucuruí: 22 km² sob risco
Fonte: PrevisIA

Políticas em chamas

As unidades de conservação federal com maior desmatamento previsto

1 - Resex Chico Mendes: 231 km² sob risco
2 - APA do Tapajós: 86 km² sob risco
3 - Flona do Jamanxim: 75 km² sob risco
4 - Flona de Altamira: 30 km² sob risco
5 - Resex Verde para Sempre: 16 km² sob risco
6 - Esec da Terra do Meio: 15 km² sob risco
7 - Resex do Cazumbá-Iracema: 15 km² sob risco
8 - Resex Alto Juruá: 13 km² sob risco
9 - Flona do Amanã: 10 km² sob risco
10 - Rebio Nascentes da Serra do Cachimbo: 9 km² sob risco
Fonte: PrevisIA

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