Petrobras busca ampliar mercado na China com novo tipo de petróleo
A nova oferta pode ampliar a participação de mercado do Brasil na China, já que os compradores cortaram as importações de petróleo dos Estados Unidos
Reuters
Publicado em 27 de julho de 2018 às 10h26.
Cingapura/Rio de Janeiro - A Petrobras planeja levar mais petróleo ao maior importador global, a China, com a comercialização de um novo tipo de óleo, o "medium-sweet grade", que poderá ser enviado a partir de outubro, disseram duas fontes com conhecimento do assunto.
A Petrobras espera começar a bombear o petróleo do pré-sal de novas plataformas no quarto trimestre, o que aumentaria a produção do maior produtor da América Latina e elevaria suas exportações.
A nova oferta pode ampliar a participação de mercado do Brasil na China, já que os compradores cortaram as importações de petróleo dos Estados Unidos após o anúncio de Pequim de que irá estabelecer tarifas sobre o petróleo dos EUA em retaliação amedidas semelhantes de Washington.
"A curva de exportação de petróleo da Petrobras está aumentando e a China é atualmente o principal mercado da empresa", disse um porta-voz da Petrobras em um e-mail.
"Com o crescente interesse das refinarias (chinesas) em comprar petróleo diretamente dos produtores... a Petrobras aumentará sua presença com essas refinarias."
A Petrobras iniciou a produção em abril em seu campo de Búzios, na bacia de Santos, a partir da plataforma P-74, localizada a cerca de 200 quilômetros da costa do Rio de Janeiro, em lâmina d'água de 2.000 metros, segundo o site da companhia.
Mais duas plataformas, a P-75 e a P-76, devem entrar em operação no quarto trimestre. A produção total da Búzios deve crescer para 750 mil bpd até 2021, quando mais quatro plataformas entrarem em operação, disse a empresa.
O petróleo bruto de Búzios tem densidade API de 28,4 graus e contém cerca de 0,31 por cento de enxofre, semelhante em qualidade ao do campo de Lula, um dos óleos mais populares na China, disse a empresa.
A nova oferta pode ajudar a elevar as exportações de petróleo bruto da Petrobras, que caíram 53,8 por cento em junho ante o ano anterior, para 696 mil barris por dia (2,86 milhões de toneladas), em meio a um aumento da produção de refino da empresa.
A produção total da Petrobras em junho foi de 2,03 milhões de bpd, queda de 1,5 por cento em relação a maio.
A produção líquida de petróleo do Brasil, incluindo os biocombustíveis, deverá aumentar em 200 mil bpd, para 3,5 milhões bpd em 2019, depois de se manter estável em 2018, de acordo com a consultoria Energy Aspects.
Impulso chinês
A demanda da China por petróleo com baixo teor de enxofre, como o petróleo de Angola e do Brasil, saltou nos últimos dois anos depois que seus refinadores independentes, também conhecidos como "teapots", foram autorizados a importar petróleo bruto.
Isso elevou o Brasil em dois patamares desde 2017, para o quinto lugar na lista de fornecedores da China, com 657 mil bpd no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados da alfândega chinesa.
As importações de petróleo do Brasil por teapots mais que dobraram no primeiro semestre de 2018, para 350 mil bpd, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com a consultoria SIA Energy, de Pequim.
Mais da metade dos embarques do Brasil para a China passou por portos na província de Shandong, que abriga a maioria das refinarias independentes da China, segundo dados do Thomson Reuters Eikon.
A Petrobras também forneceu a primeira carga de petróleo à fabricante de químicos chinesa Hengli Group para o início de operação de sua nova refinaria no nordeste da China no quarto trimestre deste ano. Petróleo da área de Mero também foi entregue em Shandong em junho.
A Petrobras inclusive ampliou sua equipe de comercialização em Cingapura para ampliar os esforços de marketing na China, disseram duas fontes com conhecimento do assunto. A estatal recrutou um profissional que já era da companhia e contratou e operador de petróleo de uma refinaria chinesa para início em setembro, segundo as fontes.
"Para melhorar sua participação no mercado chinês, e considerando a entrada das 'teapots' no mercado internacional, a Petrobras considera que é necessário ter um profissional fluente em mandarim para o desenvolvimento específico desse mercado", disse a Petrobras, sem confirmar a nova contratação.
A líder em refino na Ásia, Sinopec, comprou um terço das importações de petróleo do Brasil pela China no primeiro semestre de 2018, alta de 13 por cento ante o ano anterior, segundo o analista da SIA Energy, Seng Yick Tee.
"A Sinopec e as independentes têm apetite por importações adicionais de petróleo do Brasil, e as potenciais tarifas sobre o óleo dos EUA são uma das razões", afirmou Tee.
Ele adicionou que margens fracas e um aperto no crédito tem pressionado as refinarias independentes, o que deve levá-las a buscar oferta de petróleo mais competitivo.
Outros vendedores de petróleo do Brasil incluem a Royal Dutch Shell e a Equinor. As estatais chinesas China National Petroleum Corp (CNPC) e CNOOC Ltd também possuem fatias em campos de petróleo no país.