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Para Petrobras, preços do petróleo tendem a ganhar novo patamar

Em entrevista à EXAME, executivo da companhia afirma que a pandemia do coronavírus deixará cicatrizes e efeitos perenes na economia mundial

Plataforma da Petrobras na Bacia de Campos (Germano Lüders/Exame)
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Juliana Estigarribia

Publicado em 21 de maio de 2020 às 11h00.

Última atualização em 21 de maio de 2020 às 11h23.

Embora a Petrobras reforce a importância do petróleo para o futuro, nos mais diversos segmentos da indústria, a companhia acredita que os preços da commodity devam ficar em um novo patamar após a pandemia do novo coronavírus .

“O desaquecimento da demanda global, potencializado pelas mudanças de hábitos e pressões sociais por uma aceleração da transição energética, tende a pressionar o preço do petróleo a se manter num patamar inferior ao verificado no período pré-pandemia”, afirma Rafael Chaves Santos, gerente executivo de estratégia da Petrobras, em entrevista à EXAME.

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Para ele, o retorno da pandemia será para um “novo normal”, com mudanças permanentes no comportamento da sociedade, incluindo a adoção mais ampla do trabalho remoto, queda das movimentações aérea, terrestre e marítima, além da reorganização da cadeia produtiva, privilegiando, em muitos casos, a oferta local.

“Há evidências de que as crises produzem efeitos permanentes sobre a economia e, em especial, sobre os preços das commodities. Acreditamos que a pandemia deixará cicatrizes e efeitos perenes."

Ele ressalta, por outro lado, que nas próximas décadas o petróleo ainda será uma fonte de energia necessária e o consumo continuará relevante. “Nossa expertise na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas nos possibilitará gerar valor sustentado em ativos de classe mundial.”

Ele cita como exemplo o campo de Búzios, na costa brasileira, que segundo a companhia tem um “grande diferencial competitivo”.

A Petrobras vinha trabalhando com um preço médio do Brent em torno de 65 dólares no longo prazo. Após a pandemia, a companhia revisou seu planejamento e passou a se basear em uma cotação média de 50 dólares.

Mesmo com as fortes oscilações de curto e médio prazo projetadas pelo mercado, a estatal tem o trunfo de um custo médio de produção (breakeven) de cerca de 21 dólares no pré-sal.

Conforme apurou a reportagem da EXAME, em Marlim e Roncador, campos operados pela Petrobras no pré-sal, o custo de extração vai de 5 a 7 dólares, um dos mais baixos do mundo, próximo dos valores registrados nos grandes campos de óleo convencional do Oriente Médio.

Apesar dos custos altamente competitivos, a companhia precisará de muito mais do que disciplina para sobreviver à tempestade que se forma sobre toda a indústria petrolífera no mundo.

Segundo projeção da Wood Mackenzie, consultoria especializada na área, estima-se que as empresas nacionais de petróleo, como Petrobras, Gazprom e Rosneft (Rússia), Petronas (Malásia) e Pemex (México), devem cortar mais de um quarto dos investimentos em exploração neste ano.

Para a consultoria, as estatais do petróleo podem obter forte redução de custos principalmente se a área de exploração e produção for o grande foco do planejamento estratégico - como é o caso da Petrobras. “Para atingir importante redução de custos nesta crise, basta cortar investimentos na área”, diz Huong Tra Ho, analista da Wood Mackenzie.

Equilíbrio

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou em evento virtual promovido pelo Banco Safra, nesta semana, que a reavaliação dos ativos da companhia no primeiro trimestre - o chamado impairment - foi um “banho de sangue”.

O reconhecimento, obrigatório para as empresas, foi baseado principalmente na perspectiva de um barril mais baixo e custou 65,3 bilhões de reais ao balanço da companhia no período, e levou ao maior prejuízo já registrado na história da Petrobras em um trimestre, de 48,5 bilhões de reais.

Para sobreviver em um horizonte de enormes desafios do setor, a Petrobras afirma ter adotado medidas de curto a longo prazo. Além da garantia de liquidez, obtida através da captação de 8,7 bilhões de dólares, a companhia postergou o pagamento de dividendos e de bônus por performance dos funcionários referentes ao exercício de 2019.

Para 2020, a empresa anunciou a redução dos investimentos em aproximadamente 40% e dos gastos operacionais em 2 bilhões de dólares.

“Quando olhamos para o longo prazo, não temos dúvidas de que o petróleo será demandado ao longo das próximas décadas. Contudo, o mundo está passando por uma transição energética gradual”, diz Santos.

Segundo o executivo, a velocidade deste processo dependerá de inovações tecnológicas que permitam uma substituição competitiva das fontes fósseis.

“Para ser uma empresa competitiva nesta indústria em transformação, precisamos de um portfólio duplamente resiliente no contexto da transição energética: resiliente economicamente, com baixo breakeven, e ambientalmente.”

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