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Oferta da Xerox pela HP tenta salvar dois ícones dos anos 2000

Um dos argumentos da Xerox em favor da união é a sinergia de mais de 2 bilhões de dólares, que poderia ser investido em inovação

A HP já foi uma das empresas mais lucrativas do Vale do Silício, mas está em um mercado em encolhimento (HP/Divulgação)

A HP já foi uma das empresas mais lucrativas do Vale do Silício, mas está em um mercado em encolhimento (HP/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 13h07.

A Xerox, fabricante de máquinas copiadoras, acaba de tornar sua proposta pela HP mais agressiva. A HP, fabricante, entre outros, de impressoras e notebooks, continua rejeitando as ofertas. O impasse em torno do negócio pode manter as duas companhias presas em um setor em contração. Juntas e mais eficientes elas certamente não conseguirão alterar o futuro, mas estarão mais fortes para tentar encará-lo. 

As duas companhias, que se baseiam em um mercado de impressões que encolhe cada vez mais, buscam alternativas para cortar custos e se manter relevantes num mundo que as deixou para trás. Para a Xerox, a solução clara seria a aquisição da HP, que tem valor de mercado quatro vezes superior a ela. Para a HP, essa proposta não faz sentido aos acionistas.

A Xerox afirmou que já levantou 24 bilhões de dólares do total de 33 bilhões de dólares necessários para a aquisição da rival. Para financiar essa proposta, procurou os bancos Citi, Mizuho e Bank of America.

Tanto a HP quanto seus acionistas levantaram questionamentos a respeito da capacidade da Xerox de levantar capital para financiar a proposta. Por isso, o apoio dos bancos ao negócio poderia remover qualquer dúvida de sua capacidade de pagamento, diz a Xerox.

As últimas propostas foram apresentadas também aos acionistas da HP, depois que o conselho de administração da companhia rejeitou o negócio duas vezes. Em novembro, o diretor-presidente da Xerox, John Visentin, disse em carta à diretoria da HP que "sua recusa em entrar em duo diligência com a Xerox desafia a lógica".

"Os benefícios potenciais de uma combinação entre HP e Xerox são evidentes. Juntos, poderíamos criar um líder do setor - com escala aprimorada e as melhores ofertas da categoria em um portfólio completo de produtos - que estará posicionado para investir mais em inovação e gerar maiores retornos para os acionistas", escreveu o executivo na ocasião.

Segundo a HP, o valor oferecido é muito baixo e não traz vantagens para seus acionistas. Com as propostas, o valor da HP subiu para 30 bilhões de dólares, quase quatro vezes o tamanho da Xerox.

Um dos argumentos da Xerox em favor da união é a sinergia de mais de 2 bilhões de dólares que as duas empresas poderiam gerar juntas, valor que poderia ser investido em inovação. 

Para o investidor ativista Carl Icahn, que tem uma participação nas duas companhias, a união entre elas é bastante óbvia. "Acredito firmemente nas sinergias", disse ele ao Wall Street Journal.

Ele começou a pedir por mudanças na Xerox em 2015 e, em 2017, iniciou uma briga no conselho, dizendo que a companhia iria "pelo mesmo caminho da Kodak se não houvesse mudanças significativas". Icahn é conhecido por estimular o caos para fazer valer seu ponto de vista, mas, neste caso, os números estão de seu lado. 

Empresas em contração

As duas empresas, que tiveram seu auge nos anos 1990 e 2000, atuam principalmente no mercado de impressão, setor que está encolhendo cada vez mais, na medida em que escritórios e empresas se tornam mais digitais.

Ambas têm planos agressivos de cortes de custo para manter a rentabilidade. A Xerox busca cortar 640 milhões de dólares em despesas. O novo presidente executivo da HP, Enrique Lores, tem a tarefa de cortar 1 bilhão de dólares em custos anuais. Um dos planos é cortar entre 7 e 9 mil funcionários até 2022, cerca de 16% da sua força de trabalho.

A Xerox é conhecida por vender grandes impressoras e máquinas de cópias, tanto que acabou se tornando sinônimo para esse tipo de produto.

Já a HP vende impressoras menores e suprimentos como tintas. A HP já foi uma das empresas mais lucrativas do Vale do Silício. Em 2015, a Hewlett Packard foi dividida em duas, separando os negócios de computadores e impressoras do segmento de servidores corporativos e servidos em nuvem. 

Seu negócio de impressão encolheu 3,6% no ano passado e foi responsável por 34% do faturamento. A HP também vende computadores, segmento que cresceu 2,7% no ano passado e foi responsável por 66% das receitas. Mesmo assim, o segmento de computadores tem apenas 5% de margem, enquanto as impressoras ainda são mais lucrativas para a HP, com margem de 16%. 

A HP reportou 58,8 bilhões de dólares em receita no ano passado, alta de apenas 0,5%. Já a Xerox reportou receitas de 9,2 bilhões de dólares nos doze meses anteriores a outubro de 2019 (o resultado fechado do ano ainda não foi divulgado). Em 2018, as receitas foram de 9,8 bilhões de dólares. 

Não é o único negócio da Xerox com uma empresa em um mercado em queda. Em novembro, ela encerrou uma joint venture que possuía com a Fujifilm há 57 anos, que havia sido firmada para vender copiadoras e impressoras na Ásia-Pacífico. A associação foi encerrada cerca de um ano depois que elas iniciaram um processo de fusão e a Xerox desistiu do negócio. 

Ainda não está claro quais seriam os novos caminhos de Xerox e HP se a combinação for realizada. Venda de notebook, impressoras 3D e serviços corporativos estariam entre as apostas. Mas, presentes em um mercado em declínio, as duas empresas sabem que mudanças precisam acontecer.

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