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O que a passagem de Galeazzi pelo Pão de Açúcar mostra à BRF

Implacável cortador de custos, Claudio Galeazzi cortou diretores e impulsionou resultados da maior varejista do país

Galeazzi: pulso firme no Pão de Açúcar é um sinal do que se pode esperar na BRF (GERMANO LUDERS)

Galeazzi: pulso firme no Pão de Açúcar é um sinal do que se pode esperar na BRF (GERMANO LUDERS)

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h53.

São Paulo – Diretores e gerentes da BRF, maior fabricante de alimentos processados do Brasil, não terão vida fácil nos próximos meses. Cláudio Galeazzi, o novo presidente da empresa, é conhecido por cortar custos e cabeças em busca de resultados. E o seu melhor cartão de visita é a reestruturação do Grupo Pão de Açúcar.

Galeazzi é o fundador da Galeazzi e Associados, uma consultoria especializada em reestruturação de empresas. Em seu portfólio, está a recuperação de companhias como a Mococa, Artex e Lojas Americanas.

Mas o novo presidente da BRF chamou, mesmo, a atenção do mundo dos negócios ao cair nas graças de Abilio Diniz, então controlador do Grupo Pão de Açúcar. A parceria começou em julho de 2007, quando Galeazzi foi contratado por Diniz para reestruturar a bandeira fluminense Sendas.

“Mão na massa”

O estilo “mão-na-massa” de Galeazzi fez o consultor mergulhar no Sendas, dedicando-se em tempo integral ao projeto. De prático, o executivo cortou custos, pesquisou a vizinhança das lojas para determinar o mix de produtos de cada uma, bem como sua faixa de preço. O resultado foi um aumento da margem de geração de caixa de 1,4% para 3,5% entre o segundo e o terceiro trimestres daquele ano.

O desempenho chamou a atenção de Abilio, que o convidou para presidir o Pão de Açúcar. Galeazzi assumiu o comando em 11 de dezembro de 2007. A empresa que encontrou vivia uma espécie de letargia. Havia perdido a liderança do mercado de varejo para o Carrefour no ano anterior, quando os franceses compraram o Atacadão. Apresentava custos operacionais acima da média do setor, e o faturamento crescia a passos de tartaruga.


O primeiro ponto atacado por Galeazzi foram os custos. Para tanto, nos cinco primeiros meses, o executivo demitiu 300 funcionários, dos quais, 80 diretores. Os cortes concentraram-se na estrutura administrativa, financeira, de logística e back office, a fim de eliminar sobreposições.

Metralhadora no pescoço

Outra medida foi controlar rigorosamente o caixa da companhia. Na época, a postura de Galeazzi chegou a ser comparada à de alguém que “senta sobre o caixa com uma metralhadora no pescoço”.

Quando assumiu o Pão de Açúcar, no final de 2007, os diretores da rede tinham autonomia para contratar consultorias, o que gerava projetos e estudos redundantes. Estima-se que, naquele momento, 40 projetos estavam em andamento. Ao unificar a gestão do caixa, Galeazzi cortou essas liberdades e conseguiu reduzir as despesas com consultoria em 20% em apenas três meses.

Na área operacional, Galeazzi repetiu a fórmula que havia adotado na reestruturação do Sendas. Cada loja recebeu um mix próprio de produtos, baseado no tipo de concorrente que tinha na vizinhança. A arrumação das gôndolas também variava em cada loja, seguindo esse mesmo princípio.

Números para mostrar

Essas medidas iniciais despertaram otimismo no mercado, sustentado por bons números. No primeiro trimestre de 2008, por exemplo, os resultados apontaram um crescimento de vendas de 8,5% no quesito mesmas lojas, sobre igual período do ano anterior – era o melhor resultado em cinco anos até ali.

Em 2008, o primeiro ano do Pão de Açúcar sob Galeazzi, o faturamento somou quase 21 bilhões de reais, um salto de 18% sobre 2007 e um sopro no ânimo da empresa. Ao final, as vendas mesmas lojas estavam 8,5% maiores.

Seu último ato foi preparar seu sucessor – algo que já fora acertado com Diniz no momento de sua nomeação. O escolhido foi anunciado em 14 de dezembro de 2009: tratava-se de Enéas Pestana, que assumiu a presidência do Pão de Açúcar em março de 2010 e ali permanece até hoje.


Agora, essa obsessão por custos e resultados será sentida pelos diretores e gerentes da BRF. É claro que a empresa não se encontra na mesma letargia do Pão de Açúcar, quando foi assumido por Galeazzi, mas a tesoura do executivo tem espaço para atuar. O motivo é simples: eliminar as eventuais sobreposições geradas pela fusão da Sadia com a Perdigão, que culminou na criação da BRF.

No comunicado em que a BRF confirmou a nomeação de Galezzi, um número já sinaliza a tônica do novo presidente. Seu plano de ação propõe medidas que devem gerar um resultado operacional de 1,9 bilhão de reais a partir de 2016. Diante da firmeza com que Galeazzi demite quem não apresenta resultados, é possível que alguns altos executivos da BRF não estejam mais na empresa quando este ano chegar.

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