O plano do CEO da Volkswagen do Brasil para ter a liderança de volta
Grupo alemão está investindo R$ 7 bilhões no desenvolvimento e lançamento de 20 novos veículos entre 2017 e 2020.
Mariana Desidério
Publicado em 30 de março de 2018 às 08h00.
Última atualização em 30 de março de 2018 às 08h00.
No dia em que celebrou os 65 anos da Volkswagen do Brasil, apresentando mais um modelo da estratégia de renovação da marca alemã no país, Pablo Di Si ressalta a maior ofensiva de produtos da história da montadora no Brasil para voltar à liderança e “ganhar o jogo” num mercado que deve chegar a 2,5 milhões de veículos vendidos em 2018.
Grupo alemão está investindo R$ 7 bilhões no desenvolvimento e lançamento de 20 novos veículos entre 2017 e 2020 com foco em recuperar a liderança no mercado de automóveis e comerciais leves, perdida no ano 2000. “Gostaria de alcançar a meta de liderança do mercado antes de 2020”, disse Di Si, de 48 anos, em entrevista em 23 de março, sem fixar uma data e acrescentando que a reconquista “tem que ser sustentável”.
Definindo-se como focado e vivendo pelo resultado, Di Si disse que só quer ganhar, “mas não a qualquer custo”. “Se algum concorrente começa a fazer loucuras, eu não vou seguir”, disse o executivo, que assumiu em outubro de 2017 como presidente e CEO da Volkswagen Região América do Sul, América Central e Caribe, e Brasil. “Não vou comprar mercado. Temos que concorrer com produto, com qualidade, com segurança.”
O executivo aponta como primeiros sinais dessa nova estratégia os números do primeiro trimestre do ano, com o mercado crescendo 22% em relação ao mesmo período de 2017, enquanto a Volkswagen avança 43%. E atribui esse desempenho à volta da demanda interna por carros e à “maior ofensiva de produtos da história” da marca, iniciada em outubro do ano passado.
A matriz, Volkswagen AG, disse em seu cenário para 2018 que espera um crescimento perceptível na demanda por automóveis e comerciais leves nos mercados da América do Sul em relação a 2017. “Até 2020, nosso objetivo é posicionar nossa marca como a maior em volume e torná-la o principal fabricante em volume”, disse em 14 de março Herbert Diess, presidente global da marca Volkswagen, durante a conferência anual de mídia. “Nosso progresso em direção a essa meta é demonstrado pelas conquistas no Brasil. Após a conclusão bem-sucedida de nossos esforços de reestruturação, crescemos quase 20% no mercado mais importante da América do Sul”.
“Começamos a ver a saída do fundo do poço. Não quer dizer que estamos bem, quer dizer que estamos muito melhor. Mas ainda falta”, disse o executivo lembrando entre os erros do passado a falta de produtos competitivos da marca no país nos últimos 8 anos. “Fomos a região que mais cresceu no mundo Volkswagen em 2017 em relação a 2016, 25%”, comemora Di Si, dizendo que “este ano, se não formos a maior, estaremos perto”.
Durante a apresentação de mídia na Alemanha, há algumas semanas, Arno Antlitz, membro do conselho da Volkswagen para Controle e Contabilidade disse “esperamos impulsos significativamente positivos na posição de mercado, imagem, receita e lucros operacionais. Nosso claro objetivo é alcançar o equilíbrio em todas as regiões no mais tardar até 2020. A melhora planejada na receita de vendas e lucros na América do Norte e na América do Sul também terá um impacto positivo no lucro operacional”.
Preparar para o pior; trabalhar para o melhor
No cenário para este ano, Di Si ressalta que a dúvida está do lado político. “Vivi aqui de 2001 a 2012. Tenho muito, mas muito respeito ao Brasil em muitas coisas, mas uma coisa que tenho muito receio é a volatilidade”, disse ele, citando a forte oscilação do câmbio antes da eleição presidencial de 2002, “quando o real estava 1,99 por dólar e foi para quase 4 e as fábricas operavam quatro horas por dia”.
“Minha mensagem dentro do conselho mundial da Volkswagen é: preparemo-nos para o pior e trabalhemos para o melhor”, disse ele, citando novamente a preocupação com a questão cambial neste ano eleitoral. “O que tenho muito cuidado, além da política, é a instabilidade cambial, porque, algumas empresas mais, outras menos, têm influência na matéria-prima, na receita, nos custos. Uma variação cambial exagerada é péssima para o país, porque abala a confiança do consumidor.”
Segundo ele, o melhor cenário em termos de potenciais efeitos da eleição presidencial “seria encontrar uma solução que não tenha essa instabilidade e que o consumidor e o ambiente externo vejam o Brasil com ainda mais credibilidade”.
Maior autonomia
Pablo Di Si disse que a mudança da Volkswagen começou há cerca de dois anos, com a chegada do novo presidente do conselho mundial da marca Volkswagen para carros de passageiros, Herbert Diess, que passou a dar mais poder de decisão e responsabilidades às regiões. Passada uma fase de certa “resistência de algumas pessoas”, “ninguém mais questiona se a região está certa ou não”.
Citando os dois mais recentes lançamentos da marca, Polo e Virtus, Di Si disse que a região tem muito mais autonomia com a presença do centro de design da marca no Brasil. “Nós pesquisamos e desenhamos carros perguntando a clientes brasileiros, argentinos, colombianos.”
Futuro do setor
Para Di Si, o setor automotivo brasileiro precisa começar se preparar para o futuro e o Rota 2030 tem a tarefa fundamental de trazer um benefício maior para novas tecnologias. “Para mim, o benefício não está tanto no carro elétrico, está no autônomo, que está sendo desenvolvido em carros elétricos e híbridos. Não podemos perder esse negócio do carro elétrico, mas não tanto pelo carro elétrico mas pelo futuro imediato. Se vai pegar forte no Brasil ou não, depende de muitas coisas, mas precisamos começar a nos preparar.”
“Eu quero ganhar o jogo, mas tenho que pensar no futuro do país e da indústria e jogar dentro das regras.”