Ricardo K: executivo tem muita coisa para endireitar nas empresas de Eike Batista (REGIS FILHO)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h56.
São Paulo – As empresas de Eike Batista estão encurraladas atrás das linhas inimigas, em uma guerra que muitos dão como perdida. Para resgatá-las, é preciso vencer um campo minado de dívidas bilionárias, lidar com a falta de caixa (a munição de qualquer negócio) e escapar da desconfiança que as bombardeia. São coisas que animam Ricardo Knoepfelmacher, o novo homem forte de Eike.
Fã declarado da Segunda Guerra Mundial, Ricardo K, como gosta de ser chamado, assinou, na penúltima semana de agosto, um acordo de um ano com Eike para reestruturar suas empresas e vendê-las. Essa era, aliás, a missão do BTG Pactual, de André Esteves, que acabou escanteado nas últimas semanas.
Segundo a coluna Radar Online, de Veja, os primeiros dias na sede do Grupo EBX já deixaram claro que Ricardo K não hesitará em abater qualquer um que ele entenda estar no campo errado. Um exemplo eloquente foi a demissão do tunisiano Aziz Ben Ammar – antigo braço-direito de Eike e considerado um de seus melhores amigos.
Como em Omaha
Isso não significa, porém, que Ricardo K seja do tipo “atire primeiro e pergunte depois”. O executivo está mais para um general com apreço por planejar suas ações e executá-las com precisão militar – mesmo.
Para assumir a presidência da Brasil Telecom (BrT), seu maior cartão de visita até aqui, Ricardo K passou 100 dias planejando suas primeiras ações. O plano foi batizado de “Projeto Omaha”, em alusão ao desembarque das tropas aliadas na Normandia que marcou a virada da Segunda Guerra. A estratégia estabelecia oito “frentes de batalha”, como compras, segurança, operação e comunicação.
O dia 25 de agosto de 2005, data em que assumiria a presidência da BrT, batizado obviamente de “Dia D”, foi marcado por uma verdadeira “invasão” da tropa de Ricardo K na operadora. O executivo chegou com mais de 200 pessoas, sendo que 120 eram consultores da Accenture incumbidos de manter a empresa em funcionamento.
Nos primeiros meses da “ocupação”, 800 dos antigos 6.700 funcionários haviam sido demitidos; o número de contratos com fornecedores de tecnologia da informação caiu de 100 para apenas 13; e os custos desses contratos, após renegociação, baixaram de 3,7 bilhões para 3,4 bilhões de dólares por ano.
O resultado já foi sentido logo no primeiro ano: a empresa fechou 2006 com lucro de 241 milhões de dólares, contra 167 milhões de prejuízos em 2005. Em 2008, mais enxuta e saudável, a BrT foi vendida para a Oi por 5,8 bilhões de reais.
Caçador de elefantes
Desde que deixou a operadora e voltou para a gestora de recursos Angra Partners, que ajudou a fundar em 2003, Ricardo K procurava um novo desafio de porte. Na contramão das declarações anódinas de outros executivos no ostracismo, ele afirmou em uma entrevista a EXAME, em junho de 2009: “Meu projeto agora é caçar um grande elefante corporativo.”
A entrevista foi dada poucos meses depois de Ricardo K tentar laçar um elefante e tanto. Ele articulou um grupo de investidores para comprar a Sadia. Com 2 bilhões de reais no bolso, Ricardo K tentou convencer a família Furlan a não se unir à Perdigão. Seu argumento era que, se assumisse a Sadia, iria reestruturá-la e vendê-la depois por um preço melhor.
O final da história é sabido: a Perdigão uniu-se à Sadia e criou a BRF, hoje uma das maiores processadoras de carne do mundo.
Agora, as empresas de Eike são o elefante que Ricardo K conseguiu, finalmente, laçar. Os maldosos talvez digam que, na verdade, se trata de um “elefante branco”, mas o executivo já mostrou que não foge de uma boa batalha.
Acostumado a trabalhar muito (segundo o Radar Online, ele passa até 17 horas na sede da EBX), ele dividia as férias na BrT em três períodos de uma semana e, mesmo nelas, dava expediente pelo BlackBerry, lendo e-mails. Prático, objetivo, rápido, ambicioso e com uma boa rede de contatos, Ricardo K pode receber uma medalha de bravura ao resgatar Eike do tiroteio e lustrar seu nome no hall dos grandes executivos. Ou pode ser apanhado pelo fogo inimigo e sucumbir com o ex-bilionário. Mas esta é a guerra dos negócios. E ele gosta.