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Jorge Paulo Lemann, da 3G Capital, é o anti-Eike Batista

A trajetória do bilionário Jorge Paulo Lemann, que ganhou mais um capítulo ontem, se distingue muito da história de Eike Batista, um ex-bilionário


	Jorge Paulo Lemann: enquanto Eike transportava investidores e jornalistas de helicóptero para canteiros de obras, Lemann estava silenciosamente edificando sua riqueza
 (Regis Filho/EXAME)

Jorge Paulo Lemann: enquanto Eike transportava investidores e jornalistas de helicóptero para canteiros de obras, Lemann estava silenciosamente edificando sua riqueza (Regis Filho/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 26 de março de 2015 às 20h42.

Cerveja, café, hambúrgueres, ketchup e agora salgadinhos: o apetite do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann não tem limites.

O caçador de ativos mais agressivo da América Latina se juntou a Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, para adquirir a Kraft Foods, a gigante do ramo de lanches com sede em Illinois, para depois combiná-la com sua fabricante de condimentos H.J. Heinz.

Adquirir uma gigante internacional -- e depois torná-la ainda maior -- é exatamente o que Lemann e seus sócios da 3G Capital, uma firma de private equity com sede no Brasil, têm feito melhor nas últimas duas décadas.

A Kraft soma outra marca histórica à vasta lista da 3G e também consolida a improvável reputação de Lemann de bilionário mais discreto da América Latina.

“Eu não diria que Lemann tem vergonha de ser rico, mas ele é a última pessoa que você vai ouvir se vangloriando disso”, disse Roberto Teixeira da Costa, amigo de longa data de Lemann e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Essa circunspecção parece incomum para o Brasil, onde a mídia se banqueteia com a história de uma riqueza criada do zero pelo autodenominado rebelde industrial Eike Batista -- um sedutor com seu PowerPoint que conversava com investidores para que eles financiassem sua visão de prancheta de um império dos setores de energia e logística --.

Eike chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, reuniu 2 milhões de seguidores no Twitter e depois caiu por terra quando seus poços de petróleo acabaram sendo um fracasso. Agora, ele enfrenta processos judiciais em série contra credores irritados e tem visto seus ativos serem rebocados, literalmente.

Enquanto Eike transportava possíveis investidores e jornalistas de helicóptero para o canteiro de obras vazio que seria o maior superporto da América Latina, Lemann estava silenciosamente edificando sua riqueza, planejando cuidadosamente suas abordagens a alvos famosos nos EUA e na Europa.

Juntamente com os sócios de longa data Beto Sicupira e Marcel Telles, também do Brasil, Lemann orquestrou as aquisições de alguns dos maiores nomes do setor de alimentos e bebidas. Em 2008, ele comprou a Anheuser-Busch, depois engoliu a Burger King e a rede canadense de cafeterias Tim Hortons.

A equipe de Lemann treinou o apetite em casa, nos selvagens anos 1980 e 1990, quando a inflação era galopante e minava algumas das marcas mais conhecidas do Brasil. No comando da primeira empresa de private equity do Brasil, a equipe de Lemann abocanhava empresas varejistas em dificuldades, incluindo as fabricantes de bebidas nacionalmente conhecidas Brahma e Antarctica, que possuíam participações de mercado invejáveis, mas planos cheios de furos.

O resultado foi a criação da Ambev, maior empresa de bebidas da América do Sul.

Do Brasil, ele se voltou para a Europa, combinando a Ambev com a Interbrew, da Bélgica, que possuía a marca de cerveja butique Stella Artois. Mas o que à primeira vista parecia uma aquisição belga de uma frágil irmã latina acabou sendo justamente o oposto. Logo os administradores brasileiros estavam ditando as regras em Leuven, me disse uma vez o banqueiro de investimento Antoine von Agtmael.

O conglomerado AB Inbev é, agora, a maior cervejaria do mundo. Com isso, ele atraiu a atenção de Buffett e deu o salto para os EUA.

Que um trio de cariocas estivesse por trás de empreendimentos tão importantes foi como um choque para muita gente no mundo dos negócios, e não apenas para os alvos de Lemann. “Aí estavam esses brasileiros, com sua cultura do samba e estilo de vida descontraído, saltando sobre ativos de classe mundial”, diz Sérgio Lazzarini, professor de Administração da Universidade Insper, de São Paulo. “Era fácil subestimá-los”.

O modelo de negócio de Lemann -- baseado na meritocracia e em objetivos de produtividade -- era tão simples quanto exato. Cortes de custos e racionalização não eram as metas, e sim as consequências.

No Brasil, dominado por empresas ineficientes e familiares, “a obsessão de Lemann pelos resultados é a exceção”, disse Lazzarini.

No início de 2013, por exemplo, a Heinz tinha um resultado nada firme e 31.900 funcionários. Até dezembro passado, sob a gestão da 3G, a empresa havia se desprendido de quase um quarto de sua folha de pagamento, reduzindo os custos anuais em cerca de US$ 80 milhões.

Atleta bem-sucedido, Lemann poderia nunca ter se tornado um caçador corporativo. Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais suíços, ele foi um surfista ávido, praticou pesca submarina e jogou tênis profissionalmente, chegando a disputar Wimbledon, até que finalmente se estabeleceu no jogo muito maior da criação de riqueza.

“Negócios, negócios, negócios. Esse é Jorge Paulo, 12, 16 horas por dia”, disse Teixeira da Costa sobre seu amigo. Teixeira pode ter perdido momentos com seu parceiro de bebida, mas o Brasil ganhou um magnata de Grand Slam.

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