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"Não vamos investir em aeroportos agora”, afirma presidente da TAM

Marco Bologna confirma conversas com autoridades, mas diz que pretende esperar modelo definido pelo governo para avaliar se vale a pena administrar aeroportos no país

Bologna: investimentos em aeroportos dependerão do modelo apresentado pelo governo
DR

Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 10h02.

São Paulo - Os recentes atrasos e cancelamentos registrados no período de festas viraram rotina de fim de ano para os brasileiros. Depois de mais um inadmissível desastre, já no primeiro dia útil do ano, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua intenção de privatizar aeroportos no país para acabar com os nós do setor. Viracopos e Guarulhos, ambos em São Paulo, seriam os principais focos do novo governo para desafogar a Infraero, que hoje cuida da administração da maioria dos aeroportos. O modelo de administração deve ser anunciado ainda neste mês. Entre os possíveis novos “donos” de alguns aeroportos está a TAM – a maior companhia aérea do país, que há tempos defende a privatização parcial. “Estamos dispostos a colaborar e participar da gestão aeroportuária, mas não como investidor principal”, disse a EXAME.com Marco Bologna, presidente da empresa. Confira a entrevista.

EXAME.com - Há algum projeto concreto da TAM no caso da privatização de alguns aeroportos brasileiros?
Marco Bologna -
Estamos dispostos a colaborar e participar da gestão aeroportuária, mas não como investidor principal do aeroporto. Agora não queremos participar de uma forma ativa, porque não é crucial para nossa operação. Talvez no futuro. Ainda temos que esperar um modelo a ser definido. Isso sem dúvida vai acontecer em função do potencial de crescimento do mercado brasileiro e da saúde das companhias aéreas. Nós temos um ambiente com boa regulação e a necessidade de investimento já está mapeada pelo governo. Não só pela Copa de 2014 e pelas Olimpíadas, mas pelo próprio potencial de crescimento do país e da ainda baixa penetração do transporte aéreo, estímulo de crédito e renda. Nós temos know how no setor, as grandes construtoras têm capacidade para bons projetos e há investidores interessados. A Infraero talvez seja transformada numa empresa de economia mista, num primeiro momento, para não ficar tão presa à lei de licitação que dificulta a rapidez nas obras. Acho que o governo está endereçando isso num momento que já era esperado.

EXAME.com - Mas não seria melhor acabar com os problemas de atrasos e cancelamentos, antes de participar da administração efetiva de um aeroporto?
Bologna - Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa (risos). Quanto melhor for a infraestrutura, tudo fica mais fácil, claro. Mas são coisas que andam em paralelo. Uma ajuda a outra. Um aeroporto americano, por exemplo, tem bom atendimento aos passageiros. Como aconteceu agora com as nevascas, a administração de um problema com uma estrutura melhor se torna mais fácil.

EXAME.com - A equipe da presidente Dilma Rousseff procurou a TAM?
Bologna - A TAM é uma concessionária de serviço público, então a coisa mais natural é haver um relacionamento entre o regulador e o regulado. Estamos em constante contato com a Anac, com a Infraero, com a Casa Civil e o Ministério da Defesa. Não houve nada específico, apenas uma continuidade de diálogo. O bom senso me diz que haverá participação do capital privado, mas também do capital publico onde o próprio estado fará investimentos ou parte do PAC, que já está reservada para isso.

EXAME.com
- Quais são os aeroportos mais interessantes para a TAM? Como a empresa pode contribuir para a modernização deles?
Bologna - O principal gargalo está no terminal São Paulo, leia-se Cumbica, Congonhas, Viracopos, por exemplo. Quando você olha a oferta de aeroportos e a demanda, principalmente a lotação, percebemos um problema. O do Galeão (RJ) e o de Confins (MG) ainda têm espaço para crescimento. Viracopos (SP) poderia ter segunda pista e mais pátios e terminais. O de Brasília é um aeroporto em que temos dificuldade de terminal de passageiro.

EXAME.com
- Como melhorá-los sem ser o principal investidor?
Bologna - Caso haja uma participação nossa, discutiríamos as obras mais urgentes a serem feitas. Faríamos estudos sobre os custos e impactos no movimento de passageiros e preço das tarifas. Queremos eficiência a preço justo. Há um edital em São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), colocado em audiência pública pela Anac. Nesse caso, foi definido em 10% o limite que uma companhia aérea poderia ter no aeroporto. É como ir ao aeroporto de Frankfurt (Fraport), na Alemanha, em que a Lufthansa tem 9% de participação. O interesse dela é ser companhia aérea, mas ela quer participar das decisões do aeroporto, inclusive na defesa do consumidor.

EXAME.com
- Então seria mais interessante ter 10% permitidos ou dividir a participação com outra aérea?
Bologna – Primordialmente, nosso negócio seria não investir. Não temos recursos abundantes para investir num aeroporto. Queremos um aeroporto eficiente e com tarifas justas. Se for necessário participar para atingir esses objetivos, participaríamos na governança. É obvio que todas as companhias áreas operadoras de um aeroporto passarão a fazer parte da gestão dele, como acontece hoje. Não da para dizer que eu teria uma vantagem como operadora, se tivesse participação. Mas a TAM não olha para aeroportos como algo concreto a ser investido agora.

EXAME.com
- No caso de a TAM entrar num consórcio, como seria a administração?
Bologna - Seria feita diretamente por meio da holding, sem a criação de uma nova empresa.

EXAME - E como faturar com isso?
Bologna - O retorno vai estar no modelo do negócio. Se houver um consórcio em que a TAM, por exemplo, tenha os 10%, vamos criar regras claras de distribuição e vendas de espaços. Mas o principal é que nossa participação seja para defender melhores práticas de governança. No caso das aéreas, seria investir naquilo que nos interessa: terminais de carga e passageiro. O estado acabaria operando o aeroporto em si – pouso, decolagem, pistas, pátio -- e as áreas comerciais seriam licitadas.

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São Paulo - Os recentes atrasos e cancelamentos registrados no período de festas viraram rotina de fim de ano para os brasileiros. Depois de mais um inadmissível desastre, já no primeiro dia útil do ano, a presidente Dilma Rousseff anunciou sua intenção de privatizar aeroportos no país para acabar com os nós do setor. Viracopos e Guarulhos, ambos em São Paulo, seriam os principais focos do novo governo para desafogar a Infraero, que hoje cuida da administração da maioria dos aeroportos. O modelo de administração deve ser anunciado ainda neste mês. Entre os possíveis novos “donos” de alguns aeroportos está a TAM – a maior companhia aérea do país, que há tempos defende a privatização parcial. “Estamos dispostos a colaborar e participar da gestão aeroportuária, mas não como investidor principal”, disse a EXAME.com Marco Bologna, presidente da empresa. Confira a entrevista.

EXAME.com - Há algum projeto concreto da TAM no caso da privatização de alguns aeroportos brasileiros?
Marco Bologna -
Estamos dispostos a colaborar e participar da gestão aeroportuária, mas não como investidor principal do aeroporto. Agora não queremos participar de uma forma ativa, porque não é crucial para nossa operação. Talvez no futuro. Ainda temos que esperar um modelo a ser definido. Isso sem dúvida vai acontecer em função do potencial de crescimento do mercado brasileiro e da saúde das companhias aéreas. Nós temos um ambiente com boa regulação e a necessidade de investimento já está mapeada pelo governo. Não só pela Copa de 2014 e pelas Olimpíadas, mas pelo próprio potencial de crescimento do país e da ainda baixa penetração do transporte aéreo, estímulo de crédito e renda. Nós temos know how no setor, as grandes construtoras têm capacidade para bons projetos e há investidores interessados. A Infraero talvez seja transformada numa empresa de economia mista, num primeiro momento, para não ficar tão presa à lei de licitação que dificulta a rapidez nas obras. Acho que o governo está endereçando isso num momento que já era esperado.

EXAME.com - Mas não seria melhor acabar com os problemas de atrasos e cancelamentos, antes de participar da administração efetiva de um aeroporto?
Bologna - Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa (risos). Quanto melhor for a infraestrutura, tudo fica mais fácil, claro. Mas são coisas que andam em paralelo. Uma ajuda a outra. Um aeroporto americano, por exemplo, tem bom atendimento aos passageiros. Como aconteceu agora com as nevascas, a administração de um problema com uma estrutura melhor se torna mais fácil.

EXAME.com - A equipe da presidente Dilma Rousseff procurou a TAM?
Bologna - A TAM é uma concessionária de serviço público, então a coisa mais natural é haver um relacionamento entre o regulador e o regulado. Estamos em constante contato com a Anac, com a Infraero, com a Casa Civil e o Ministério da Defesa. Não houve nada específico, apenas uma continuidade de diálogo. O bom senso me diz que haverá participação do capital privado, mas também do capital publico onde o próprio estado fará investimentos ou parte do PAC, que já está reservada para isso.

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- Quais são os aeroportos mais interessantes para a TAM? Como a empresa pode contribuir para a modernização deles?
Bologna - O principal gargalo está no terminal São Paulo, leia-se Cumbica, Congonhas, Viracopos, por exemplo. Quando você olha a oferta de aeroportos e a demanda, principalmente a lotação, percebemos um problema. O do Galeão (RJ) e o de Confins (MG) ainda têm espaço para crescimento. Viracopos (SP) poderia ter segunda pista e mais pátios e terminais. O de Brasília é um aeroporto em que temos dificuldade de terminal de passageiro.

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- Como melhorá-los sem ser o principal investidor?
Bologna - Caso haja uma participação nossa, discutiríamos as obras mais urgentes a serem feitas. Faríamos estudos sobre os custos e impactos no movimento de passageiros e preço das tarifas. Queremos eficiência a preço justo. Há um edital em São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), colocado em audiência pública pela Anac. Nesse caso, foi definido em 10% o limite que uma companhia aérea poderia ter no aeroporto. É como ir ao aeroporto de Frankfurt (Fraport), na Alemanha, em que a Lufthansa tem 9% de participação. O interesse dela é ser companhia aérea, mas ela quer participar das decisões do aeroporto, inclusive na defesa do consumidor.

EXAME.com
- Então seria mais interessante ter 10% permitidos ou dividir a participação com outra aérea?
Bologna – Primordialmente, nosso negócio seria não investir. Não temos recursos abundantes para investir num aeroporto. Queremos um aeroporto eficiente e com tarifas justas. Se for necessário participar para atingir esses objetivos, participaríamos na governança. É obvio que todas as companhias áreas operadoras de um aeroporto passarão a fazer parte da gestão dele, como acontece hoje. Não da para dizer que eu teria uma vantagem como operadora, se tivesse participação. Mas a TAM não olha para aeroportos como algo concreto a ser investido agora.

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- No caso de a TAM entrar num consórcio, como seria a administração?
Bologna - Seria feita diretamente por meio da holding, sem a criação de uma nova empresa.

EXAME - E como faturar com isso?
Bologna - O retorno vai estar no modelo do negócio. Se houver um consórcio em que a TAM, por exemplo, tenha os 10%, vamos criar regras claras de distribuição e vendas de espaços. Mas o principal é que nossa participação seja para defender melhores práticas de governança. No caso das aéreas, seria investir naquilo que nos interessa: terminais de carga e passageiro. O estado acabaria operando o aeroporto em si – pouso, decolagem, pistas, pátio -- e as áreas comerciais seriam licitadas.

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