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"Não vamos desistir da liderança", diz presidente da GM

Em entrevista a EXAME, o presidente mundial da General Motors, Richard Wagoner, conta como planeja recuperar a liderança de mercado perdida para a Toyota. Confira a entrevista. Revista EXAME: No primeiro trimestre, a GM perdeu sua liderança histórica em vendas para a Toyota. Como isso aconteceu? Richard Wagoner: Houve uma conjunção de fatores. Primeiro, reduzimos […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

Em entrevista a EXAME, o presidente mundial da General Motors, Richard Wagoner, conta como planeja recuperar a liderança de mercado perdida para a Toyota. Confira a entrevista.

Revista EXAME: No primeiro trimestre, a GM perdeu sua liderança histórica em vendas para a Toyota. Como isso aconteceu?
Richard Wagoner:
Houve uma conjunção de fatores. Primeiro, reduzimos propositalmente nossas vendas para frotistas nos Estados Unidos e no Canadá. Eram operações que não faziam sentido do ponto de vista financeiro, uma vez que as margens de lucro eram baixíssimas. Segundo, a Toyota só nos ultrapassou porque vendeu mais carros no Japão, onde não somos tão fortes. Vale lembrar que a General Motors está à frente da Toyota em 9 dos 10 maiores mercados automotivos do mundo, inclusive nos Estados Unidos.

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EXAME : Como você pretende retomar a liderança?
Wagoner:
Sou uma pessoa muito competitiva e, evidentemente, não gostei de ser ultrapassado. Mas mais importante que vencer, é vencer do jeito certo, ou seja, com rentabilidade. Nosso plano prevê um ataque em duas frentes. Primeiro, precisamos dar mais agilidade às operações globais da GM, de modo a produzir carros mais modernos no menor tempo possível. Segundo, é fundamental cortar nossos pesados custos sociais. A enorme dívida da GM com aposentadorias e planos de saúde de ex-funcionários é o maior responsável pela nossa perda de competitividade. Gastamos perto de 5 bilhões de dólares por ano para cobrir um rombo de aproximadamente 150 bilhões de dólares.

EXAME: Você está dizendo que, não fossem os gastos sociais, a GM teria condições de competir com a Toyota de igual para igual?
Wagoner:
Exatamente. Existem estudos que mostram que nossas plantas são tão ou mais produtivas que as da Toyota ou da Honda. O que acontece na China é o melhor exemplo disso. Entremos naquele país em 1996, junto com todas as grandes montadoras do mundo - inclusive a Toyota. Começamos praticamente do zero por meio de uma joint venture com uma empresa local. Hoje somos líderes de mercado naquele país, com uma participação de 12%, bem à frente da Toyota.

EXAME: A China é a grande aposta da GM para continuar crescendo?
Wagoner:
Sem dúvida. Não só a China, mas os países emergentes como um todo. Nos primeiros três meses deste ano, 60% de nossas vendas ocorreram fora dos Estados Unidos. É a primeira vez na história da companhia que isso acontece. Índia e Rússia têm apresentado índices excepcionais de crescimento. Na América Latina, o grande destaque é, sem dúvida, o Brasil, cujo mercado tem crescido 4% ao ano.

EXAME: Existe uma estratégia específica para o Brasil?
Wagoner:
A GM no Brasil desenvolve carros com o melhor custo-benefício para países emergentes. Os carros que saem das fábricas brasileiras contam com um excelente equilíbrio entre preço e o número de opcionais que podem ser disponibilizados por aquele valor, de modo a buscar a máxima satisfação do cliente. Além disso, o Brasil tem um papel estratégico no desenvolvimento de executivos de alto nível para a companhia. Treinar profissionais num ambiente tão dinâmico quanto o brasileiro só nos ajuda a ser mais competitivos.

EXAME: Como a GM pretende estancar a queda nas vendas nos Estados Unidos, seu principal mercado?
Wagoner:
Estamos apostando numa nova geração de carros mais modernos e com melhor economia de combustível. Nos próximos anos, a GM vai lançar no mercado americano oito carros híbridos. É mais do que a Toyota e a Honda pretendem lançar no mesmo período.

EXAME: E com relação à modernização das fábricas? A GM pretende torná-las tão flexíveis quanto as plantas da Toyota?
Wagoner:
Algumas de nossas plantas são tão ou mais flexíveis que as da Toyota. A idéia segundo a qual o ideal é que cada planta seja capaz de produzir qualquer modelo de carro não passa de mito. Isso é custoso demais e não faz nenhum sentido. Se uma determinada planta foi concebida para produzir picapes, ela não precisa ser capaz de produzir carros compactos. Sua função é bem clara. Não há necessidade de torná-la mais flexível. O desejável é que apenas algumas plantas sejam extremamente flexíveis, de modo que possam abastecer uma demanda acima do previsto num determinado momento.

EXAME: Toyota e GM têm optado por seguir estratégias distintas no que diz respeito ao lançamento de produtos. A GM tem investido em carros com motor híbrido ao passo que a Toyota investe em picapes. Até agora, o caminho escolhido pela Toyota parece ter dado melhores resultados. A GM vai rever sua estratégia?
Wagoner: Absolutamente. As picapes lançadas no ano passado pela GM foram muito bem-sucedidas. A Toyota, por outro lado, vem enfrentando problemas com seu modelo Tundra. Sua planta não é tão eficiente quanto a nossa e, além disso, houve problemas relacionado à qualidade dos veículos produzidos lá. Vamos apostar mais em bicombustíveis, sobretudo no desenvolvimento de tecnologia com etanol.

EXAME: Mas a Toyta largou na frente...
Wagoner: A Toyota vendeu mais carros este ano por uma única razão: foram comercializadas 2,5 milhões de unidades a mais no Japão. Nos 10 maiores mercados do mundo, a GM está na frente da Toyota em 9. Nos Estads Unidos, vendemos 1,5 milhão de carros a mais que eles.

EXAME: Existe uma estratégica específica para vencer a concorrência com os carros chineses e indianos de baixo custo?
Wagoner: Na realidade, a GM vai participar desse mercado. Temos uma joint venture na China somente para produzir esse tipo de veículo.

EXAME: Você pretende trazer esses carros para o Brasil?
Wagoner: Vamos levar esses carros para mercados emergentes - e talvez seja o caso do Brasil, mas isso ainda está sendo estudado. O problema, contudo, é que os consumidores brasileiros estão ficando cada vez mais exigentes. Não basta que o carro seja barato.

EXAME: Você acredita que a GM vá recuperar a liderança ainda este ano?
Wagoner: Não vamos desistir. Ainda temos metade do ano pela frente. Nosso plano está dando certo, e é isso o que importa. Mas vamos lutar até o fim.

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