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Montadoras traçam estratégia para tentar driblar a falta de chips

Uma necessidade urgente é acelerar a transição das arquiteturas eletrônicas atuais dos carros que usam chips mais antigos para os de ponta

O grupo Stellantis, dono da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, vai padronizar os microchips usados nos automóveis (Marlene Awaad/Bloomberg)

O grupo Stellantis, dono da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, vai padronizar os microchips usados nos automóveis (Marlene Awaad/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de dezembro de 2021 às 18h30.

Última atualização em 29 de dezembro de 2021 às 10h49.

Para amenizar os gargalos de abastecimento de semicondutores, principalmente num momento de transformação do setor, com a eletrificação dos carros, a indústria pode, no curto prazo, fazer contratos de fornecimento garantido, o que significa pagar mais pelo produto. Uma necessidade urgente é acelerar a transição das arquiteturas eletrônicas atuais dos carros que usam chips mais antigos para os de ponta, sugere Marcus Ayres, sócio-diretor da Roland Berger na América Latina.

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Ayres ressalta que até o aquecimento global vai afetar, no longo prazo, a questão dos semicondutores. “São itens cuja produção é extremamente sensível e, se houver um terremoto ou uma tempestade, por exemplo, perde-se todo o processo de produção da ‘bolacha’ (ou ‘wafer’, um dos itens importantes na indústria de chips)”.

Ele lembra que no maior país produtor de “bolachas”, Taiwan, no sudeste asiático, a quantidade de chuvas leves por ano caiu à metade em 100 anos. A água é importante matéria-prima nessa produção. Por outro lado, a intensidade de tufões na região cresceu mais de 10% nas últimas décadas.

“A previsão é de que, até 2040, tenha duas a três vezes mais tempestades tropicais extremas na região, e os riscos de ter de suspender a produção várias vezes são grandes”, afirma o consultor. Por isso, diz ele, a indústria precisa rever o conceito de produção just-in-time, de receber peças apenas no momento de necessidade, e migrar para o just-in-case (no caso de), ou seja, manter estoques de componentes considerados críticos, que, se faltarem, vão parar a produção.

Disrupção

Outra estratégia mais disruptiva é fomentar a reciclagem de semicondutores. Por exemplo, em muitos veículos acidentados, inclusive os de perda total, vários semicondutores se mantêm intactos e podem ser reaproveitados em carros novos. Cada automóvel usa de mil (modelo compacto) a 3 mil chips (modelos de alto luxo). Formar consórcios entre várias montadoras para compras conjuntas também é alternativa.

Algumas montadoras já desenvolvem ações para driblar a escassez de itens. O grupo Stellantis, dono da Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, vai padronizar os microchips usados nos automóveis. Hoje, cada carro usa diferentes tipos de semicondutores e a ideia é trabalhar com um único em vários modelos.

“A estandardização vai gerar mais previsibilidade para nossos fornecedores e vai tornar nossas encomendas mais competitivas”, diz Antonio Filosa, presidente da Stellantis na América do Sul. Em parceria com a Foxconn, ele pretende criar uma família de semicondutores para atender mais de 80% dos modelos do grupo.

Impacto da falta de chips foi menor em outras indústrias

A indústria de eletroeletrônicos também foi prejudicada pela desorganização nas cadeias produtivas provocada pela pandemia da covid-19. Grande parte das empresas do setor teve dificuldades na aquisição de semicondutores, o que gerou atraso na produção e na entrega e paralisação parcial em algumas linhas de produção.

“Mas não tivemos conhecimento de nenhuma fábrica que tenha paralisado toda a produção”, afirma Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). A expectativa do setor é de normalidade de abastecimento em meados de 2022 ou início de 2023.

Fabricantes de máquinas e equipamentos também registraram atrasos no recebimento de peças com semicondutores, em especial no segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias, “mas nada comparado ao que ocorreu com o setor automotivo”, de acordo com José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Nenhuma fábrica teve a produção interrompida”, diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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