Monsanto é condenada a pagar indenização de US$ 81 milhões por negligência
Empresa perdeu processo contra um aposentado americano que sofre de um câncer, que ele atribui ao polêmico herbicida Roundup
AFP
Publicado em 28 de março de 2019 às 06h05.
O grupo Monsanto foi declarado culpado, nesta quarta-feira, 28, de negligência por um júri da Califórnia e condenado a pagar cerca de 81 milhões de dólares a um aposentado americano que sofre de um câncer que ele atribui ao polêmico herbicida Roundup.
A sentença representa um grave revés para o gigante alemão Bayer , o proprietário da Monsanto, que já foi condenada em um julgamento similar realizado em agosto passado nos Estados Unidos.
O júri considerou que a Monsanto foi "negligente" ao não fazer o suficiente para alertar os usuários do risco potencialmente cancerígeno do seu produto, que contém glifosato. Os jurados determinaram que o Roundup tinha um "defeito de design", que "carecia" de advertências sanitárias sobre os riscos e que a Monsanto tinha sido "negligente".
Em sua decisão, os jurados determinaram que a Monsanto pague ao aposentado Edwin Hademan 75 milhões de dólares em danos punitivos por conduta, 5,06 milhões de dólares em indenização e 200 mil dólares por gastos médicos.
Em um comunicado, Bayer disse estar "decepcionado com a decisão do juri", mas considerou que o veredicto "não muda o peso de 40 anos de ciência e as conclusões das agências reguladoras de todo o mundo" que afirmam que o herbicida é "seguro e não cancerígeno".
Na semana passada, o mesmo júri determinou que a exposição ao Roundup foi um "fator determinante" no desenvolvimento do câncer de Edwin Hardeman. Após essa decisão, foi aberta a segunda fase do julgamento, dedicada à responsabilidade da Monsanto, que se encerrou com a condenação desta quarta-feira.
A pedido da Bayer, os debates foram organizados em duas fases: uma "científica", dedicada à responsabilidade do glifosato na doença, e outra para abordar uma possível responsabilidade do grupo.
Os advogados de Hardemann, que abraçaram seu cliente quando foi anunciado o veredicto, se disseram encantados com a decisão unânime do juri. "Está claro pelas ações da Monsanto que ela não está preocupada se o Roundup causa câncer, e sim em manipular a opinião pública e desacreditar qualquer um que expresse preocupações genuínas e legítimas sobre o Roundup", assinalaram as advogadas Aimee Wagstaff e Jennifer Moore.
"Diz muito que nenhum funcionário da Monsanto tenha comparecido (ao julgamento) para defender a segurança do Roundup ou as ações da Monsanto", prosseguiram. "Hoje, o juri responsabilizou a Monsanto por seus 40 anos de malversação corporativa e enviou uma mensagem que a empresa deve mudar sua forma de fazer negócios", finalizam.
O caso Hardeman é apenas um dos 11.200 processos similares nos Estados Unidos envolvendo o Roundup.