Mergulhamos na nova Embraer, que se reinventa após venda à Boeing
Saem os jatos comerciais, ficam os aviões executivos e militares. A eles se juntam satélites, carros voadores e internet das coisas em um ambicioso plano
Denyse Godoy
Publicado em 15 de agosto de 2019 às 05h27.
Última atualização em 15 de agosto de 2019 às 05h27.
Depois de decidir vender sua divisão mais lucrativa e líder mundial no segmento — a de jatos comerciais de até 150 lugares — à americana Boeing, em meio a um acirramento da concorrência que poderia tirá-la do jogo, a fabricante brasileira de aeronaves Embraer corre para se reinventar. Além de dar novo impulso às divisões que ficaram de fora da parceria — a de jatos executivos e a de defesa —, está aumentando a aposta na prestação de assistência técnica a aeronaves e em negócios disruptivos, que vão de satélites e carros voadores a aplicativos que conectam fornecedores às companhias aéreas.
Na nova estrutura, fábricas da Embraer continuarão fornecendo partes à Boeing Brasil-Commercial, a sociedade que vai controlar a divisão de jatos comerciais, e as duas empresas também podem comprar conjuntamente insumos. A Boeing comprometeu-se a manter a fábrica de São José dos Campos e os empregos. Os 18.000 funcionários serão divididos meio a meio, com uma preocupação de equilibrar nos dois lados as mesmas capacidades de engenharia para criar projetos.
O calendário tende a jogar a favor da nova empresa. A Embraer começa o terceiro ciclo de sua história de 50 anos completados neste mês de agosto com lançamentos nas divisões de aeronaves executiva e militar. Deve investir pesadamente também em negócios ligados a cidades inteligentes e internet das coisas.
Muitos dos programas criados com objetivo militar estão sendo adaptados para uso civil, abrindo novas frentes de negócio para a empresa. Os que monitoram e conectam veículos podem servir às empresas que gerem frotas. Ou para fazer os aparelhos eletrônicos de uma casa se comunicar. As tecnologias de monitoramento podem ter uso na segurança pública.
A Embraer espera ampliar o mercado a partir de agora com a influência da Boeing nas nações aliadas dos Estados Unidos. Em sua nova fase, a brasileira deve encarar a concorrência de chineses e russos na área militar, de israelenses e americanos em monitoramento e transporte. Lidará, ainda, com as incertezas da guerra comercial e com os problemas da nova parceira, a Boeing, que tem sofrido grandes perdas após os dois acidentes com o seu modelo 737 Max, que caíram entre outubro e março na Indonésia e na Etiópia, matando seus 346 passageiros.
Aversão completadesta reportagem está naedição 1192da revista EXAME, disponível também naversão digital.