Medina, do Rock in Rio: as lições de gestão do festival
Para o empresário Roberto Medina, fundador do Rock in Rio, está na hora de investir na educação no setor de entretenimento no Brasil
Marina Filippe
Publicado em 27 de setembro de 2019 às 07h33.
Última atualização em 27 de setembro de 2019 às 08h01.
São Paulo — O festival Rock in Rio deverá atrair 700 000 pessoas interessadas nas 600 horas de shows que ocorrem em dois finais de semana, entre 27 de setembro e 6 de outubro. No mesmo local, no dia 1 de outubro, um público diferente é esperado para outro evento: a terceira edição do Rock in Rio Academy, realizado em parceria com a empresa de educação corporativa HSM.
São 600 vagas abertas. No palco, os músicos cedem espaço aos professores, que são os próprios executivos do festival. O evento se tornou o embrião do Learning Experience Unit (LExU), novo departamento do Rock in Rio criado para construir experiências por meio de educação e entretenimento. Roberto Medina, que fundou o Rock in Rio em 1985, falou a EXAME sobre os novos negócios e nova edição do festival.
Por que criar uma unidade de educação?
O Academy é uma oportunidade para que as pessoas entendam de perto tudo o que acontece na Cidade do Rock. Os ingressos custam até 3.600 reais, mas pela primeira vez oferecemos a opção de participar via streaming por 99 reais. É o primeiro produto da LExU, uma unidade de negócios que consolida as iniciativas educacionais. Meu sonho é tornar esse modelo mais acessível.
Quais lições podem ser aprendidas?
É um festival inédito no Brasil e no mundo. O primeiro evento custava 50 milhões de dólares e se eu vendesse todos os ingressos teria só 5 milhões de dólares para realizá-lo. Fiz do festival de música um projeto de mídia, com conteúdo e patrocínio. Tomei risco e transformei um mercado.
Outros cursos devem compor o portfólio dessa área de educação?
Sim, estamos lançando no Academy o livro de gestão do Rock in Rio: A Arte de Sonhar e Fazer Acontecer, por Allan Costa e Arthur Igreja. Em novembro, ofereceremos cursos à distância a partir dos aprendizados que temos. Em 2020 traremos pela primeira vez ao Brasil a Inovation Week, uma semana de inovação para empreendedores. O evento já aconteceu em 2028 e 2019 em Portugal. Sonho também em desenvolver cursos de especialização técnica com duração de até dois anos. Penso na formação porque acredito na expansão do setor conforme a economia do país melhorar.
Esta será a oitava edição do festival. Como manter a atenção do público renovada por tantos anos?
É fundamental se manter sempre novo e relevante. Eu sou a favor da economia de mercado, mas de forma que seja inovadora ao olhar para diferentes públicos. Um exemplo é o palco favela, que injeta novas pessoas na economia e é um ativo social.
Neste ano o senhor criou um palco favela com apresentação de artistas da periferia. Por quê?
Tive a ideia do palco favela quando, no caminho para Cidade do Rock, descobri um tiroteio na Rocinha e aquilo me impressionou. O Rio de Janeiro é um exemplo de como devemos impulsionar as boas coisas que acontecem aqui.Precisamos de segurança pública e confiança para conquistar o potencial econômico que a cidade e a população têm. Pessoas de 68 países compraram os ingressos e estarão aqui porque acreditam no evento, nos artistas, no local e nas marcas.
Quais são os planos de expansão do Rock in Rio?
Estamos trabalhando com uma equipe do Chile aqui no Rio de Janeiro e discutindo sobre fazermos uma edição por lá em 2021. Também estou estudando um um projeto de expansão para a Alemanha. A edição de Lisboa [existente desde 2004], por exemplo, é bastante bem sucedida e com resultados excepcionais. Para se ter ideia, quando chegamos a Portugal, o maior projeto de música de lá investia 600 000 euros. Nós chegamos com 14
milhões de euros.
No Brasil, a crise afetou as receitas do festival com patrocinadores?
Mesmo com a crise, nossas receitas com patrocínio cresceram 30% neste ano, em comparação à edição de 2017. São 50 milhões de reais investidos só em ativações internas. Isto porque elas entenderam a força que têm com o público. No último evento, por exemplo, tivemos 2.6 bilhões de reais em mídia espontânea.