Macacos respiraram gás de motores por 4 horas, diz relatório
Relatório apurou os experimentos financiados por três fabricantes automobilísticos alemães
EFE
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 12h24.
Última atualização em 31 de janeiro de 2018 às 12h26.
Frankfurt, Alemanha - Dez macacos, encarcerados em uma pequena jaula de vidro, foram expostos durante quatro horas a respirar os gases de motores a diesel nos experimentos financiados por três fabricantes automobilísticos alemães, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira pelo jornal alemão "Bild Zeitung".
O relatório do laboratório que realizou o experimento para a Associação Europeia de Estudos sobre a Saúde e o Meio Ambiente no Transporte (EUGT) - financiada pelas montadoras Volkswagen , BMW e Daimler - mostra que os gases de escape da combustão dos motores a diesel eram introduzidos através de tubos na jaula onde estavam os animais.
Os macacos, que segundo o relatório sofriam de "stress", assistiam durante os experimentos - realizados em maio de 2015 - filmes de animação para que relaxassem, segundo o jornal.
Além disso, lhes era introduzido um endoscópio especial pelo nariz ou pela boca até os brônquios e eram submetidos a exames de sangue, de acordo com o resumo que o jornal publica do relatório de 58 páginas, ao qual assegura ter tido acesso.
Os animais foram expostos aos gases de combustão de um Volkswagen Beetle de 2013 e de uma caminhonete Ford de 1997 com o objetivo de demonstrar que os do primeiro eram mais limpos, mas os resultados não foram os esperados, segundo o jornal.
Na segunda-feira passada dois jornais alemães, "Süddeutsche Zeitung" e "Stuttgarter Zeitung", revelaram o escândalo dos experimentos com animais realizados pela EUGT nos Estados Unidos para supostamente demonstrar que as emissões do novo diesel não eram tão nocivas para a saúde.
Os jornais asseguraram ainda que também tinham sido realizados experimentos com humanos com o mesmo propósito.
O então responsável do conselho de pesquisa da EUGT, Helmut Greim, declarou à revista "Der Spiegel" que os fabricantes automobilísticos "naturalmente sabiam dos experimentos" e assegurou que "não fizeram nenhuma objeção".
O presidente da Volkswagen, Matthias Müller, afirmou na segunda-feira, após saber da notícia, que os teste foram "repugnantes e antiéticos" e considerou que demonstram que sua empresa e a indústria devem confrontar-se de maneira "mais séria e sensível com as questões éticas".
Müller reconheceu que alguns funcionários da Volkswagen tinham informações sobre os controversos experimentos e anunciou uma investigação interna.
A Volkswagen afastou ontem temporariamente seu encarregado-geral, Thomas Steg, por sua relação com o caso "até que se esclareça completamente o ocorrido".
"O senhor Steg declarou que assume toda a responsabilidade. Eu respeito isso", disse Müller.
Steg tinha reconhecido em uma entrevista que foi informado por e-mail que a EUGT pretendia experimentar também com humanos e assegurou que rejeitou essa possibilidade.
No entanto, admitiu que foram realizados experimentos com macacos nos quais, segundo disse, "foram respeitados os padrões científicos internacionais".