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M. Dias Branco vende mais, mas câmbio e inflação pesam sobre o lucro

Gastos com matéria-prima subiram em dois dígitos ao longo do ano; descompasso no poder de compra do consumidor afetou volume de vendas em 2021

Dona da Piraquê, Adria e Vitarella: plano para 2022 é reduzir volatilidade nas vendas (Piraquê/Divulgação)

Dona da Piraquê, Adria e Vitarella: plano para 2022 é reduzir volatilidade nas vendas (Piraquê/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 18 de março de 2022 às 19h19.

Última atualização em 18 de março de 2022 às 19h20.

O combo de aumento da inflação, desvalorização do real e o aumento no preço das commodities pesou na rentabilidade da M. Dias Branco em 2021. A companhia cearense dona de marcas como Piraquê, Adria e Vitarella registrou lucro líquido de R$ 505 milhões no último ano, valor 33,9% menor do que o registrado no mesmo período de 2020. 

No ano, a receita líquida evoluiu 7,7% na comparação com 2020, totalizando R$ 7,8 bilhões. Mas ela veio de forma desigual ao longo do ano, em meio à recuperação da pandemia e ao aumento da inflação, segundo Fabio Cefaly, diretor de Relações com Investidores e Novos Negócios da M. Dias Branco. O câmbio favoreceu em certa medida as exportações da companhia, que tiveram crescimento de três dígitos em relação a 2019, mas como elas representam cerca de 13% do total da receita líquida, uma coisa não compensou a outra. 

“Especialmente no primeiro trimestre, tivemos um aumento de dois dígitos no preço de itens como trigo e óleo de palma e, ao repassar esse incremento, enfrentamos forte retração de vendas. Conseguimos recuperar parte do volume ao longo do ano, mas ainda foi um período muito volátil em vendas”, diz, à EXAME. Os gastos com matéria-prima subiram 18% na comparação anual, impulsionados principalmente pelo aumento de 31,5% do trigo, de 31,5% do óleo e de 61,4% do açúcar ao longo do ano. 

Esse impacto combinado foi sentido também na rentabilidade anual da companhia. O Ebitda fechou o ano em R$ 683,9 milhões, queda de 29,8% na comparação com 2020 e a  margem Ebitda também foi reduzida na comparação anual em 4,6 pontos percentuais. Além dos fatores macroeconômicos, a companhia explica que a redução é influenciada pelo reconhecimento de crédito tributário em 2020, “só ali, foram R$ 300 milhões favoráveis à companhia”, diz Fábio.

De olho em um 2022 que já começa com guerra na Ucrânia – e consequente aumento no trigo – a M. Dias Branco não descarta que o cenário macro permaneça desafiador. E, para atenuar os efeitos dele, se apoia em um estoque de duração mais longa, de quatro meses. “Dessa forma eu consigo analisar o cenário com calma e ter flexibilidade para comprar mais ou comprar menos e, se necessário, readequar os preços de venda”, afirma Fábio.

Para reagir aos fatores externos, a companhia ainda buscou outras maneiras de reduzir gastos com a operação. Em 2021, gerou R$ 80 milhões a partir de uma consultoria de readequação organizacional, além de atingir a marca de R$ 438 milhões em ganhos recorrentes a partir do programa Multiplique, que visa redução contínua de gastos. No ano, os gastos com vendas tiveram queda de 5,9% e as despesas administrativas foram reduzidas em 1,3% na comparação anual. 

Em relação aos investimentos, a companhia reduziu o montante em mais de 6%, priorizando aspectos de eficiência operacional, como mostra o balanço: adequações em centros de distribuição no Rio de Janeiro para insumos e embalagens, em equipamentos para três unidades de produção e em sistemas para gerenciamento de produção na fábrica de Fortaleza.

Por fim, a M. Dias Branco também redobrou a atenção para o fluxo de caixa. “Pontos como prazo médio de pagamento, prazo de estoques e uso de créditos fizeram a M. Dias Branco liberar mais de R$ 300 milhões de capital de giro em 2021”, afirma Fábio. Em 2021, a companhia ainda reforçou o caixa com R$ 811,6 milhões por meio da emissão de CRAs “verdes” – cuja captação foi dedicada a estimular o desenvolvimento agrícola sustentável. A demanda pelos títulos chegou a R$ 2,3 bilhões, o equivalente a 2,9 vezes o valor inicial.  Em 2021, o caixa chegou perto de R$ 1 bilhão. 

O caixa reforçado faz parte da estratégia da companhia mostrada nos balanços desde 2015: manter a alavancagem baixa, sempre em cerca de 1x a relação dívida bruta/Ebitda. É essa geração de caixa que segura o endividamento baixo, mesmo quando a companhia toma crédito. E não se trata de uma companhia que prioriza o crescimento orgânico, mas ao contrário: hoje, 60% da receita da M. Dias Branco vem das empresas adquiridas – e a companhia projeta mais para 2022. 

“A estratégia é a de crescimento com lucratividade, não vou ter prejuízo para aumentar market share. O endividamento, apesar de maior, ainda é administrável porque causa pouco impacto na operação. Não vamos mudar nenhum plano de expansão por causa do cenário atual”, diz Fábio.

Futuro

Em 2021, a companhia realizou a 7ª aquisição, a da Latinex. “É uma companhia com faturamento de R$ 60 milhões, mas que conversa com a estratégia da M. Dias Branco de investir em itens de maior valor agregado em 2022”, afirma Fábio. Além dessa marca, fazem parte do portfólio da M. Dias Branco a FitFood, de castanhas, a Frontera, de itens “TexMex” e a Smart, de sais e temperos. São produtos que têm preço mais elevado e geram maior margem bruta para a companhia. 

Além das aquisições, a companhia também trabalha diretamente com startups, por meio do programa Germinar. Em linhas gerais, é uma iniciativa que envolve a busca de startups a partir de temas de eficiência nas fábricas e inovação. O programa está na quarta edição e as empresas selecionadas receberão recursos financeiros para colocar em prática as ideias.

No mais, o foco será o de continuar com os olhos atentos aos preços das commodities e fazer os movimentos corretos para ter o menor baque possível com os preços. “É difícil para todo mundo, mas vamos buscar um resultado mais equilibrado entre preço, share, volume e margem”, diz Fábio.

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