Exame Logo

Itamarati reduzirá moagem de cana em 2014/15 por dívidas

Endividada e sem acesso a linhas mais baratas de crédito, a Usinas Itamarati deverá reduzir a moagem de cana em cerca de 10%

EXAME.com (EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de julho de 2013 às 18h24.

São Paulo - Endividada e sem acesso a linhas mais baratas de crédito, a Usinas Itamarati já planeja reduzir a moagem de cana em cerca de 10 por cento, pelo menos, na próxima safra (2014/15), devido à redução nos investimentos para renovação dos canaviais, disse o presidente do grupo em entrevista à Reuters.

"Este ano, o planejado era plantar (renovar) 11 mil hectares com cana, mas com as dificuldades e sem crédito, vamos cultivar somente 3 mil hectares", disse Sylvio Coutinho, presidente da Usinas Itamarati.

O grupo, considerado de médio porte no Brasil, tem 59 mil hectares cultivados com cana, e tradicionalmente renovava 20 por cento desta área por ano.

Inicialmente, a meta para 2014/15 era moer 6,3 milhões de toneladas, mas diante das dificuldades o grupo já prevê que este volume pode cair para entre 5 milhões e 5,5 milhões de toneladas.

Na atual temporada, a Usinas Itamarati projeta moer 6 milhões de toneladas de cana.

A Usinas Itamarati, com sede em Nova Olímpia, sudoeste de Mato Grosso, abastece sobretudo o centro-norte do país, para onde destina a maior parte de sua produção de etanol hidratado e anidro e açúcar, que segue de caminhão até o Rio Madeira sendo depois distribuída para os Estados da região Norte.

Na safra 2012/13, a usina destinou 54 por cento de sua produção de cana para o etanol e o restante ao açúcar, mas nesta temporada a fatia do etanol deverá atingir 63 por cento do total moído.

O grupo tem uma receita bruta anual de 700 milhões de reais, contra um endividamento de 1,8 bilhão de reais, que inclui dívidas tributárias, com bancos e fornecedores, entre outros. A maior parte dessa dívida foi formada na década passada, com investimentos realizados durante o boom do setor, que depois sofreu um forte impacto da crise global de crédito com auge em 2008.


Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), desde 2008 cerca de 40 usinas foram fechadas em função das dificuldades financeiras.

Por conta do alto endividamento, o grupo não tem acesso a linhas de financiamento disponíveis pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com juros mais baixos, carências e prazos mais longos para pagamento em comparação com os demais agentes financeiros.

No ano passado, dos 4 bilhões de reais destinados à ampliação e renovação de canaviais, o BNDES liberou menos de 1,5 bilhão de reais em financiamentos.

Para este ano, o BNDES prevê desembolsar até 6 bilhões de reais para o setor, entre linhas para ampliação, renovação, estocagem e estímulo à renovação.

Renovação Menor

Na atual temporada, por exemplo, a Usinas Itamarati gastou cerca de 70 milhões de reais entre plantio e tratos culturais para o cultivo de 11,3 mil hectares. É a dificuldade de acesso aos recursos que a leva a reduzir o percentual de renovação.

"É uma situação grave entre as usinas, esta questão da dívida, mais de 80 por cento passam por dificuldades... E está disseminado por todo o país", disse Coutinho, acrescentando que a Itamarati ainda está em situação melhor se comparado a outras usinas médias do setor.

Ele contou que para conseguir os financiamentos do BNDES, as usinas precisam da chamada Certidão Negativa de Débito (CND), que muitas não têm, justamente por conta das dívidas.


O executivo considera que o governo deveria flexibilizar os acessos ao financiamento, abrindo mão da CND e adotando outros tipos de garantias, como ativos das usinas ou até o próprio produto.

"Por exemplo, se o empréstimo for para a estocagem de etanol, então que a garantia seja o próprio etanol", sugeriu Coutinho.

A alta alavancagem, especialmente entre as pequenas e médias empresas, é reflexo dos investimentos realizados no boom da indústria sucroenergético em meados dos anos 2000 até 2008, ano em que a queda do Lehman Brothers secou a liquidez do mercado, restringindo a oferta de crédito.

O setor que até então tinha sido alvo de grandes investimentos, viu os empréstimos secarem e a dívida aumentar.

Embalada pela perspectiva de crescimento do setor, a Usinas Itamarati também investiu na expansão da capacidade na ocasião, com aquisições de plantas em Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Atualmente, a primeira está fechada e a segunda foi arrendada, mas também está quase parando, segundo ele.

Questionado se esta situação não levaria a um novo processo de consolidação do setor, Coutinho minimizou a possibilidade.

"Deveria consolidar, mas tem muitas incertezas quanto à política energética do país... Quem vai querer investir num setor que ninguém sabe como será amanhã", disse.

A própria Usinas Itamarati foi colocada à venda desde 2011 pelo acionista majoritário, tendo o JP Morgan como banco responsável pela operação, mas até agora não atraiu nenhum investidor, disse o executivo.

Veja também

São Paulo - Endividada e sem acesso a linhas mais baratas de crédito, a Usinas Itamarati já planeja reduzir a moagem de cana em cerca de 10 por cento, pelo menos, na próxima safra (2014/15), devido à redução nos investimentos para renovação dos canaviais, disse o presidente do grupo em entrevista à Reuters.

"Este ano, o planejado era plantar (renovar) 11 mil hectares com cana, mas com as dificuldades e sem crédito, vamos cultivar somente 3 mil hectares", disse Sylvio Coutinho, presidente da Usinas Itamarati.

O grupo, considerado de médio porte no Brasil, tem 59 mil hectares cultivados com cana, e tradicionalmente renovava 20 por cento desta área por ano.

Inicialmente, a meta para 2014/15 era moer 6,3 milhões de toneladas, mas diante das dificuldades o grupo já prevê que este volume pode cair para entre 5 milhões e 5,5 milhões de toneladas.

Na atual temporada, a Usinas Itamarati projeta moer 6 milhões de toneladas de cana.

A Usinas Itamarati, com sede em Nova Olímpia, sudoeste de Mato Grosso, abastece sobretudo o centro-norte do país, para onde destina a maior parte de sua produção de etanol hidratado e anidro e açúcar, que segue de caminhão até o Rio Madeira sendo depois distribuída para os Estados da região Norte.

Na safra 2012/13, a usina destinou 54 por cento de sua produção de cana para o etanol e o restante ao açúcar, mas nesta temporada a fatia do etanol deverá atingir 63 por cento do total moído.

O grupo tem uma receita bruta anual de 700 milhões de reais, contra um endividamento de 1,8 bilhão de reais, que inclui dívidas tributárias, com bancos e fornecedores, entre outros. A maior parte dessa dívida foi formada na década passada, com investimentos realizados durante o boom do setor, que depois sofreu um forte impacto da crise global de crédito com auge em 2008.


Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), desde 2008 cerca de 40 usinas foram fechadas em função das dificuldades financeiras.

Por conta do alto endividamento, o grupo não tem acesso a linhas de financiamento disponíveis pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com juros mais baixos, carências e prazos mais longos para pagamento em comparação com os demais agentes financeiros.

No ano passado, dos 4 bilhões de reais destinados à ampliação e renovação de canaviais, o BNDES liberou menos de 1,5 bilhão de reais em financiamentos.

Para este ano, o BNDES prevê desembolsar até 6 bilhões de reais para o setor, entre linhas para ampliação, renovação, estocagem e estímulo à renovação.

Renovação Menor

Na atual temporada, por exemplo, a Usinas Itamarati gastou cerca de 70 milhões de reais entre plantio e tratos culturais para o cultivo de 11,3 mil hectares. É a dificuldade de acesso aos recursos que a leva a reduzir o percentual de renovação.

"É uma situação grave entre as usinas, esta questão da dívida, mais de 80 por cento passam por dificuldades... E está disseminado por todo o país", disse Coutinho, acrescentando que a Itamarati ainda está em situação melhor se comparado a outras usinas médias do setor.

Ele contou que para conseguir os financiamentos do BNDES, as usinas precisam da chamada Certidão Negativa de Débito (CND), que muitas não têm, justamente por conta das dívidas.


O executivo considera que o governo deveria flexibilizar os acessos ao financiamento, abrindo mão da CND e adotando outros tipos de garantias, como ativos das usinas ou até o próprio produto.

"Por exemplo, se o empréstimo for para a estocagem de etanol, então que a garantia seja o próprio etanol", sugeriu Coutinho.

A alta alavancagem, especialmente entre as pequenas e médias empresas, é reflexo dos investimentos realizados no boom da indústria sucroenergético em meados dos anos 2000 até 2008, ano em que a queda do Lehman Brothers secou a liquidez do mercado, restringindo a oferta de crédito.

O setor que até então tinha sido alvo de grandes investimentos, viu os empréstimos secarem e a dívida aumentar.

Embalada pela perspectiva de crescimento do setor, a Usinas Itamarati também investiu na expansão da capacidade na ocasião, com aquisições de plantas em Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Atualmente, a primeira está fechada e a segunda foi arrendada, mas também está quase parando, segundo ele.

Questionado se esta situação não levaria a um novo processo de consolidação do setor, Coutinho minimizou a possibilidade.

"Deveria consolidar, mas tem muitas incertezas quanto à política energética do país... Quem vai querer investir num setor que ninguém sabe como será amanhã", disse.

A própria Usinas Itamarati foi colocada à venda desde 2011 pelo acionista majoritário, tendo o JP Morgan como banco responsável pela operação, mas até agora não atraiu nenhum investidor, disse o executivo.

Acompanhe tudo sobre:AgriculturaAgronegócioCana de açúcarTrigo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame