IPO: a Xiaomi, mistura de Apple e Amazon da China, vai à bolsa
Quarta maior fabricante de celulares do mundo tem e-commerce e serviços online. Plano é levantar US$ 10 bilhões na abertura de capital
Carolina Unzelte
Publicado em 11 de junho de 2018 às 17h30.
Mais um gigante chinês de tecnologia está a caminho de uma abertura de capital arrebatadora. É a Xiaomi, quarta maior fabricante de smartphones do planeta, que planeja lançar ações na bolsa de Hong Kong no próximo mês.
Segundo reportagem do jornal americano The Wall Street Journal, pessoas próximas à negociação afirmam que o processo deve avaliar a empresa entre 70 e 80 bilhões de dólares. Se esse valor for confirmado, a empresa terá feito o maior IPO do mundo desde que a gigante de e-commerce chinesa Alibaba abriu capital em 2014. A estimativa é que a Xiaomi arrecade 10 bilhões de dólares com a oferta de ações no mercado, um dinheiro que pode ser usado para aumentar ainda mais a gama de produtos e a penetração de mercado da empresa.
A Xiaomi é famosa pelos celulares e laptops de alta tecnologia, a exemplo da Apple, mas também produz uma miríade de outros produtos, como TVs, relógios, calçados, drones e até itens de cama, mesa e banho. A empresa é muitas vezes mencionada como a Apple da China, mas conta ainda com a própria plataforma de e-commerce, como a varejista digital Amazon, e tem muitos serviços online, como o Google.
Com o vasto portfólio da Xiaomi, é difícil dizer onde o dinheiro do IPO seria alocado. Mas é nos celulares que está seu maior negócio e muitos creem que a empresa irá apostar nesse setor. A maior parte do faturamento, de 18 bilhões de dólares, e do lucro da empresa vem das vendas de smartphones: no ano passado, esse segmento foi responsável por 70.3% das vendas e 46.9% dos lucros, com a divisão de produtos de Internet das Coisas logo atrás — uma área de grandes investimentos para a empresa, que abriu 61 lojas dos produtos “Mi Home”em apenas quatro dias.
Segundo In Hsieh, presidente da China Brasil Internet Promotion Agency (CBIPA), entidade de integração digital entre negócios da China e do Brasil, e ex-diretor de e-commerce da Xiaomi na América Latina, a empresa é baseada em três pilares: hardware, software e sistema operacional, sendo que os celulares são a porta de entrada para a gama de produtos da empresa. “Os celulares são o primeiro contato do consumidor com o ecossistema de produtos da Xiaomi. A empresa investe em mais de 70 startups que fabricam desde baterias, eletrônicos de saúde e transporte e até desenvolvem soluções de pagamento” diz. “É possível que o investimento do IPO seja usado para uma expansão geográfica e também para aprimorar essa estratégia do smartphone como entrada.”
No final do ano passado, a Xiaomi detinha 7,2% do mercado mundial de celulares, segundo a consultoria IDC, quase quatro vezes a fatia que detinha há 5 anos, e já ocupa a quarta posição, atrás da também chinesa Huawei, da Apple e da Samsung.
Margens pequenas
Mas se a venda de celulares é a fortaleza da Xiaomi, é também sua maior fraqueza. Desde os primeiros dias da companhia, o fundador Lei Jun, uma figura mais do que conhecida no mercado chinês de tecnologia, afirma que o objetivo é vender smartphones a baixos preços e alta qualidade, com margens pequenas, para ganhar nos serviços.
A Xiaomi tem boa parte do seu lucro vindo de serviços de software, como propaganda nos aplicativos nativos de seu sistema operacional, o MIUI, uma adaptação do Android, que a empresa afirma ter 190 milhões de usuários.
Esses serviços, embora sejam apenas 8.6% do faturamento, correspondem a 39.3% dos lucros. Isso acontece porque as margens nesse mercado são maiores do que a das vendas de aparelhos da Xiaomi: a margem na venda de celulares da empresa chega a 8,8%, enquanto que só no iPhone X, da Apple, essa margem é de 64%.
Se a Xiaomi pretende se tornar uma empresa que vende hardware barato para lucrar com serviços de software, o primeiro passo é aumentar a difusão dos aparelhos no mercado. A Apple, por exemplo, faz isso muito bem, vendendo celulares a preços altos, que correspondem por 62,2% do faturamento total, além de faturar outros 8,5 bilhões de dólares com serviços online. Nesse sentido, 10 bilhões de dólares arrecadados num IPO podem vir muito bem a calhar.