Investidores seguem de olho nas startups de Israel — apesar da turbulência política
Apesar dos protestos nas ruas há oito meses contra a reforma do Judiciário defendida pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, investidores em tecnologia, advogados e banqueiros garantem que as coisas vão ficar bem, pelo menos a curto e médio prazo
Bloomberg Businessweek
Publicado em 17 de setembro de 2023 às 09h24.
Por Marissa Newman, da Bloomberg Businessweek
Durante mais de oito meses, líderes empresariais de Israel ajudaram a liderar os massivos protestos contra os esforços do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para restringir os poderes do Judiciário, alertando que é uma ameaça à democracia e que afastarão capital e talento de um país que se tornou um queridinho dos investidores.
No entanto, entrevistas com mais de 25 investidores em tecnologia, advogados e banqueiros mostram que, nos bastidores, alguns desses líderes empresariais estão garantindo aos investidores estrangeiros que as coisas vão ficar bem, pelo menos a curto e médio prazo.
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Dizem também que a maioria das startups israelenses está posicionada para se concentrar no mercado dos EUA, deixando os investidores com uma limitada exposição à convulsão interna.
"Gostaríamos que Israel tivesse uma sociedade mais forte, menos fragmentada e uma democracia mais estável, em vez de uma fraca", afirma Nicole Priel, sócia da empresa de capital de risco Ibex Investors, com sede em Denver, que administra seu escritório em Tel Aviv. "Mas não acreditamos que isso atrapalhe nossa estratégia de investimento e nosso ritmo ou perfil de investimento."
Qual é o impacto na economia
Economistas do Banco de Israel alertaram que o plano do governo para enfraquecer o poder Judiciário está prejudicando a economia de Israel e afastará o investimento estrangeiro.
A moeda do país, o shekel, foi abalada pela turbulência política e as agências de crédito emitiram alertas.
A negociação tem sido lenta e os advogados e banqueiros israelitas sugeriram que a reforma judiciária contribui para isso.
Apesar dessas preocupações, a cruzada de Netanyahu ainda não fez com que investidores fugissem de cena. Entretanto, grandes multinacionais estão se expandindo em Israel com projetos de bilhões de dólares. Na lista estão:
- Amazon Web Services
- Intel
- Nvidia
Uma empresa israelense de IA, a AI21, alcançou o status de unicórnio em agosto. As exportações de armas para a Ásia e a Europa estão em franca expansão.
A Fitch Ratings, num anúncio em 14 de agosto de que não iria rebaixar a dívida soberana de Israel, disse que as mudanças judiciárias "provavelmente não irão desencadear um êxodo material de talentos e capital no setor de alta tecnologia".
Como o venture capital reagiu
Depois de um boom em 2021 ter trazido quantidades recordes de dinheiro para Tel Aviv, com até quatro quintos provenientes de fundos americanos de capital de risco, 2023 está a caminho de um acentuado declínio.
O investimento de risco em Israel caiu 74% nos primeiros seis meses do ano em comparação com 2022, para 1.83 bilhões de dólares, de acordo com a empresa de pesquisas, PitchBook.
Globalmente, esse número caiu apenas 49%. Os números do governo israelense para o primeiro trimestre de 2023 registraram uma queda de 60%.
Fundos estrangeiros ativos em Israel afirmam que não vão recuar, atribuindo o atual nível mais baixo de cinco anos no investimento à recessão global e às persistentes altas avaliações das empresas israelitas.
Scott Tobin, sócio sênior do escritório da Battery Ventures em Tel Aviv, disse por e-mail que não vê "nenhum retrocesso por motivação política" relacionado às reformas judiciárias.
"Boas empresas em Israel ainda são muito procuradas por fundos globais e a dinâmica competitiva para esses investimentos ainda é muito forte", escreveu ele.
O tamanho do drama político
A Suprema Corte reuniu-se no dia 12 de Setembro para discutir se deveria desqualificar ou manter a primeira lei aprovada pelo parlamento em julho, que proíbe os juízes de anularem decisões governamentais que considerem carentes de razão.
Netanyahu tem sido evasivo sobre se honraria a decisão deles. O drama político está sendo observado de perto por muitos empresários israelitas preocupados com a potencial erosão do caráter democrático do país.
Centenas de milhares de israelenses protestaram pelo menos uma vez por semana desde janeiro, às vezes fechando o aeroporto e setores da economia.
Os rumores sobre emigração estão aumentando, especialmente entre a classe tecnológica móvel, muitos dos quais possuem passaportes estrangeiros e estão preocupados com a súbita ascensão dos legisladores ultranacionalistas e ultra religiosos.
Os trabalhadores da tecnologia representam um quarto das receitas do imposto sobre a renda de Israel e o setor é responsável por mais de metade das suas exportações.
Quais são as medidas de proteção
Alguns fundos estão adotando medidas para garantir que as empresas israelitas de seu portfólio sejam registradas ou constituídas antecipadamente nos EUA, que as reservas de dinheiro estejam depositadas no exterior e que os fundadores mudem de endereço – tendências que antecedem a crise atual, mas que se intensificaram desde o início da turbulência política.
Uma pesquisa realizada com mais de 500 empresas israelenses pela Startup Nation Central, com sede em Israel, descobriu que mais de dois terços tomaram medidas legais, como mudar sua matriz ou transferir fundos para o exterior desde que a revisão judiciária foi anunciada.
"A alta tecnologia israelense continua atraente para investidores norte-americanos pela mesma razão de oito meses atrás", diz Adam Fisher, da Bessemer Venture Partners, que tomou uma posição pública contra a política governamental.
"A alta tecnologia israelense é ambiciosa, é diversificada em termos de suas indústrias e também provou ser resiliente a choques externos de todos os tipos."
Uma vez que as startups tecnológicas israelitas pretendem vender seus produtos e ações no mercado dos EUA, Fisher diz que o que está ocorrendo nos mercados nacionais – desde o shekel à bolsa de valores de Tel Aviv e até mesmo ao imobiliário – não importa realmente.
"Em última análise", diz ele, "o risco de mercado muito maior é saber se há uma recessão nos EUA, se as empresas americanas estão necessitando adquirir softwares".
—Com Mark Bergen e Lizette Chapman.
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.