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Gigantes de tecnologia chinesas querem revolucionar a saúde

A Amazon e dois gigantes americanos tentam mudar o sistema de saúde do país. Na China, Alibaba e Tencent fizeram da saúde prioridade há anos

HOSPITAL EM HANGZHOU: com metade da proporção de médicos dos EUA e uma população que envelhece, a China aposta em tecnologia para melhorar a eficiência dos tratamentos (Yue Wu/The New York Times)
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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2018 às 16h34.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2018 às 16h35.

Pequim – A Amazon e dois outros gigantes americanos estão tentando mudar o sistema de saúde com experiências de cobertura com seus próprios funcionários; pelos padrões chineses, eles estão atrasados.

Empresas de tecnologia como Alibaba e Tencent já fizeram da saúde uma prioridade há anos, e estão usando a China como laboratório. Depois de testar a consulta médica on-line e sistemas de controle de medicamentos, elas agora estão focadas em uma ferramenta mais avançada: a inteligência artificial.

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Essa atitude agressiva expõe as diferenças entre os sistemas de saúde da China e dos Estados Unidos.

Os hospitais chineses estão sobrecarregados, com apenas 1,5 médico para cada mil pessoas, ou quase a metade do número nos Estados Unidos. Com uma população que envelhece rapidamente, a China também tem o maior índice de crianças obesas no mundo, além de mais diabéticos do que qualquer outro país.

A abordagem tecnológica das empresas é incentivada pelo governo. Pequim já afirmou que quer ser líder em IA até 2030 e está decidida a enfrentar os Estados Unidos nessa área. As autoridades enfatizam o uso da inteligência artificial em setores como defesa e carros autônomos, mas também promovem com vigor sua utilização na saúde.

A Alibaba e a Tencent, que já dominam os setores de comércio eletrônico e de pagamentos feitos por celular na China, estão na vanguarda. E entre seus objetivos está a criação de ferramentas de diagnóstico para ajudar os médicos.

A Amazon e seus parceiros, JPMorgan Chase e Berkshire Hathaway, veem a tecnologia como uma forma de prover serviços médicos simplificados e acessíveis. Embora a aliança ainda esteja nos estágios iniciais, poderá criar serviços on-line de consultas médicas ou usar sua força para negociar preços mais baixos para medicamentos.

“É justo dizer que quase todas as empresas de tecnologia chinesas estão se envolvendo e atuando na área de saúde, ao contrário dos Estados Unidos, onde algumas fazem o mesmo e outras, não”, disse Laura Nelson Carney, analista de sistemas de saúde da região asiática do Pacífico na Bernstein Research.

“Poucas agiram de modo tão extenso quanto na China”, disse Carney, referindo-se aos rivais americanos da Alibaba e da Tencent.

Essas atitudes tiveram diferentes graus de sucesso.

Em 2014, a Alibaba anunciou o plano do “hospital do futuro”, que pretende melhorar a eficiência do tratamento, permitindo que os pacientes consultem médicos on-line e encomendem medicamentos pela internet. Porém, dois anos mais tarde, os reguladores chineses proibiram a venda de medicamentos sem receita no site de comércio eletrônico da companhia, o Tmall, além de suspender seu sistema de monitoramento de drogas. E no ano passado, a empresa de mecanismo de busca Baidu encerrou seu serviço de saúde on-line, que permitia aos pacientes marcar consultas médicas através de um aplicativo, e tenta agora se dedicar unicamente à IA.

Mas algumas das iniciativas mais recentes estão tendo sucesso. No ano passado, a unidade de saúde da Alibaba lançou um software de IA que pode ajudar a interpretar uma tomografia computadorizada e um laboratório médico IA para ajudar os médicos nos diagnósticos. Um mês depois, a Tencent lançou o Miying, programa de imagens médicas que ajuda a detectar sinais precoces de câncer, na região sudoeste de Guangxi. Ele agora é usado em cerca de 100 hospitais em toda a China.

A Tencent também investiu no WeDoctor Group, que abriu a sua própria versão do “hospital do futuro” da Alibaba no noroeste da China. O serviço permite consultas por vídeo e obtenção de receitas on-line.

Os avanços na inteligência artificial já são transformadores para os médicos sobrecarregados da China.

A Dra. Yu Weihong, oftalmologista do Hospital Peking Union Medical College, disse que costumava levar até dois dias para analisar os olhos de um paciente através de imagens granuladas antes de discutir suas descobertas com colegas e escrever um relatório. Um software de inteligência artificial sendo testado pelo hospital a ajuda a fazer tudo isso infinitamente mais rápido.

“Agora, basta um minuto”, disse ela.

O software foi desenvolvido pela VoxelCloud, uma startup que arrecadou aproximadamente 28,5 milhões de dólares de empresas, incluindo a Tencent e a Sequoia Capital, firma de capital de risco do Vale do Silício. Especializado na análise automatizada de imagens médicas, ajuda oftalmologistas como Yu a examinar pacientes para detectar a retinopatia diabética, a principal causa de cegueira entre a população ativa da China.

Há apenas 20 oftalmologistas para cada milhão de habitantes aqui, um terço da proporção americana. Em abril, Pequim anunciou um plano ambicioso para submeter os 110 milhões de diabéticos do país a esse tipo de exame.

“É impossível que uma pessoa só analise tantas imagens”, disse Yu.

Ding Xiaowei, cujos avós eram médicos, fundou a VoxelCloud em 2016, três meses depois de completar seu doutorado em Ciência da Computação na UCLA. A empresa, que possui escritórios em Los Angeles e nas cidades chinesas de Xangai e Suzhou, aguarda a liberação de cinco ferramentas de diagnóstico para males da retina e tomografia computadorizada pelo órgão competente chinês.

O tamanho da população chinesa – quase 1,4 bilhão de pessoas que poderiam fornecer um vasto número de imagens para alimentar seus sistemas – pode ser uma vantagem em potencial para o desenvolvimento da inteligência artificial. Outra coisa que também ajuda: a China tem menos preocupação em relação à privacidade, permitindo a fácil coleta de dados que poderia resultar em sistemas de IA melhores e mais eficientes. Além disso, a regulamentação aqui não é tão rigorosa quanto a dos Estados Unidos.

No geral, mais de 130 empresas estão utilizando a IA de uma forma que poderia aumentar a eficiência do sistema de saúde chinês, de acordo com a Yiou Intelligence, uma empresa de consultoria baseada em Pequim. Elas vão desde gigantes como a Alibaba e a Tencent até a famosa iFlyTek, desenvolvedora de um robô aprovado pelo teste chinês de licenciamento médico, e inúmeras startups menores.

O dinheiro está entrando: desde agosto passado, capitalistas como a Sequoia e a Matrix Partners investiram pelo menos US$2,7 bilhões nessas empresas, de acordo com a Yiou. Analistas da Bernstein estimaram que os gastos da indústria de tecnologia de saúde da China chegarão a US$150 bilhões até 2020.

Por trás desse movimento, há a percepção de que o sistema de saúde do país está em crise. Sem uma base de cuidados de saúde primários, os pacientes lotam hospitais nas principais cidades, chegando às vezes a acampar durante a noite só para conseguir o tratamento para uma febre. Os médicos estão sobrecarregados, e relatos de facadas e agressões cometidas por pacientes revoltados e seus familiares não são incomuns.

O Yunfeng, fundo de investimento de Jack Ma, o fundador da Alibaba, investiu em uma empresa, a Yidu, que pretende dar um jeito na escassez de recursos. Ela está trabalhando com o Hospital Popular Provincial de Zhejiang, o melhor centro médico da província, para desenvolver um software que automatiza a identificação dos estágios iniciais de câncer de pulmão.

Inicialmente, o programa era usado no reconhecimento facial, mas a Yidu o desenvolveu para o reconhecimento de imagens mais complexas, como exames de câncer. Lin Chenxi, que deixou a Alibaba para abrir a empresa em 2012, disse que esperava usar a tecnologia para garantir a igualdade de acesso ao tratamento médico na China.

“Aqui, os recursos médicos são muito escassos e distribuídos desigualmente, sendo que a maior fatia se concentra nas capitais provinciais. Com esse sistema, se ele puder ser usado em hospitais de cidades rurais, o trabalho dos médicos poderá melhorar muito.”

Tentar identificar nódulos cancerígenos – manchas em preto e branco que mais se parecem com um teste de Rorschach – é um trabalho cansativo e os médicos chineses têm muito menos tempo e recursos do que seus colegas nos EUA e em outros lugares. Gong Xiangyang, chefe do departamento de radiologia do hospital, comparou o processo a uma fábrica, onde a estafa e os erros por excesso de trabalho podem acontecer.

“Temos que lidar com uma vasta quantidade de imagens médicas todos os dias, por isso, a tecnologia é mais que bem-vinda, principalmente se conseguir aliviar a pressão e aumentar a eficiência e precisão”, disse ele.

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