Gigante do varejo, GPA usa ajuda de startups para crescer
O objetivo é trazer produtos inovadores para suas prateleiras mais rapidamente e, eventualmente, comprar uma participação nessas startups
Karin Salomão
Publicado em 20 de abril de 2019 às 08h00.
Última atualização em 20 de abril de 2019 às 12h03.
Para as grandes empresas, o futuro da inovação está nas startups. Ao mesmo tempo em que está desenvolvendo suas marcas próprias, o Grupo Pão de Açúcar investe em programas voltados a startups. O objetivo é trazer produtos inovadores para suas prateleiras mais rapidamente e, eventualmente, comprar uma participação nessas startups.
Atualmente, mais de 200 produtos dessas empresas podem ser encontrados nas gôndolas. Os alimentos, que vão de chás e sucos naturais a snacks orgânicos e pó de proteína, já estão em algumas lojas do Pão de Açúcar e do Extra. Para as próximas semanas, mais de 30 outras startups entrarão nas lojas. Para o GPA, o objetivo é vender produtos que, de outra forma, não estariam nas prateleiras de uma grande varejista pelo seu tamanho.
O GPA Alimentar, com marcas Pão de Açúcar, Extra, Assaí e lojas de proximidade, mais do que dobrou seu lucro líquido no ano passado, atingindo a marca de 1,3 bilhão de reais. A receita bruta chegou a 53,6 bilhões de reais, alta de 10,7%.
A principal diferença entre as parcerias comerciais com as startups e com grandes fabricantes é a rapidez com que elas são fechadas. O cadastro de um novo produto para ser vendido em uma das lojas do GPA é longo e pode durar até 120 dias. Como startups trabalham em um ritmo mais acelerado e, muitas vezes, não têm caixa para suportar esse período longo de espera, o GPA alterou o processo de cadastro. Hoje, os produtos das startups chegam às gôndolas dos supermercados em apenas 30 dias.
As negociações comerciais também são diferentes: os prazos de pagamento às startups é menor que para as grandes companhias e há mais flexibilidade na entrega.
A primeira parceria realizada nesses moldes foi com a Cheftime, startup de entrega de kits gastronômicos. O negócio, fundado em 2015 e com expectativa de faturamento de 6,6 milhões de reais em 2019, era completamente digital e entregava kits com receitas e ingredientes divididos nas porções corretas nas casas dos assinantes.
Agora, os produtos estão disponíveis em 28 das 265 lojas do Minuto ou Pão de Açúcar. Durante a páscoa, kits sazonais de bacalhau, ovo e pirulito de chocolate estão disponíveis em todas as lojas nos estados de São Paulo e Paraná. A parceria com a Cheftime também dá direito ao grupo de varejo de adquirir o capital social da startup no período de 18 meses.
Segundo Illan Israel, gerente de inovação do GPA, a compra de uma participação da Cheftime é uma estratégia pontual. Com outras startups, o grupo deve fechar apenas parcerias comerciais.
A Moti-Moti também é outra startup incluída no projeto e começou a vender em algumas lojas do Pão de Açúcar este mês. A empresa criou doces de mochi, uma massa tradicional japonesa feita de arroz, recheados de sorvete. Por enquanto, há três sabores: baunilha, chocolate e morango.
Aberta em 2018 pelos empreendedores Eric Heuze e Thiago Camargo, ela passou um ano testando os métodos de fabricação do seu produto - o sorvete, gelado, precisa ser inserido dentro da massa de arroz, que precisa estar quente para ser modelada.
A empresa também levou os doces para eventos para testar como o produto se comporta no transporte e com variações de temperatura. "Passamos muito tempo cozinhando em cima de uma panela de tacho para acertar o produto", diz Heuze.
Camargo, que já fundou uma startup de gim e cachaça, diz que a parceria com o GPA é essencial para o negócio. "Na empresa anterior, vi que há barreiras para chegar às prateleiras de grandes empresas", afirma.
Investimento e risco
O grupo não abre o investimento da área voltada a inovação, que é aplicado em testes e protótipos de alimentos e embalagens, mas Israel garante que o orçamento dedicado à área dobrou desde o ano passado. O foco são fabricantes de alimentos com tecnologia inserida e que possam escalar o negócio, diz o gerente.
Ainda que as parcerias com startups ajudem o GPA a ter produtos mais inovadores e exclusivos, podem oferecer um risco, já que a cultura de startups envolve erros e acertos
Segundo Israel, o grupo busca aprender com erros no jeito de vender e servir o produto, em preços e embalagens, por exemplo. "Mas não abrimos mão da qualidade do produto. O rigor para avaliar o alimento de uma startup é igual ao de uma grande empresa", diz.