Fundador do iFood aposta em fintech com conta em dólar para brasileiros
Nomad, comandada por Patrick Sigrist, Marcos Nader e Eduardo Haber, pretende ser um hub de serviços financeiros no exterior para brasileiros
Marcelo Sakate
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 9 de novembro de 2020 às 09h31.
A diversificação de investimentos no exterior é uma das tendências que começam a ganhar tração no processo de desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil. A liberação de negociação de BDRs (os recibos de empresas listadas em bolsas do exterior) ao investidor de varejo é um exemplo recente. Em linha com o movimento, três empreendedores brasileiros que se conheceram no Vale do Silício acabam de colocar em operação uma fintech que pretende ser uma porta de entrada para brasileiros movimentarem recursos no mercado americano e global.
Fundada por Eduardo Haber, Marcos Nader e Patrick Sigrist, a Nomad é uma fintech com uma conta corrente digital em dólar voltada para não-residentes, em parceria com um banco americano. Oferece também um cartão de débito virtual na moeda americana.
"Queremos ser o banco dos brasileiros em dólar", afirma Sigrist, que foi um dos quatro fundadores do iFood em 2011 e, mais recentemente, em 2018, entrou como um dos sócios-investidores da fintech Neon Pagamentos.
A Nomad estava funcionando havia alguns meses em fase beta e conta com cerca de 300 clientes. Há uma lista de espera de 50 mil pessoas que se cadastraram no site e que, segundo os sócios, deve ser totalmente atendida até o início do próximo ano. A expectativa é reforçada com a estreia do aplicativo na Apple Store e na Play Store. O público-alvo é o cliente de alta renda que tenha de 50 mil reais a 5 milhões de reais como patrimônio financeiro.
O objetivo mais ambicioso de Sigrist, Haber e Nader é tornar a Nomad um hub de serviços financeiros nos Estados Unidos para brasileiros. Isso significa que, uma vez com recursos na conta americana, o cliente terá acesso a produtos disponíveis em todo o mercado, e não apenas que estejam vinculados ao Nomad.
Não que a fintech não queira fazer a intermediação. No próximo ano, será lançada uma plataforma com produtos financeiros -- investimentos -- no mercado americano. Será uma das formas de rentabilizar o negócio, com a cobrança de taxas de administração. Outras fontes serão um spread (margem) sobre a taxa de câmbio, que eles prometem ser menor que a média de mercado, e taxas em operações com cartões.
A fintech -- os sócios a definem como uma empresa de tecnologia que atua no setor financeiro -- nasceu há quase dois anos e teve como origem percepções e dificuldades enfrentadas quando moravam e trabalhavam na Califórnia, em Palo Alto.
"Percebemos à época como é muito burocrático enviar e receber dinheiro do Brasil para fora e vice-versa. Tive que chegar a ligar para confirmar uma operação", conta Sigrist.
Eduardo Haber conta que a ideia de lançar a fintech teve relação também com a vontade de derrubar barreiras que existem para os brasileiros terem acesso a serviços e produtos financeiros no exterior.
"Em alguns setores, essas barreiras já foram derrubadas. Mas não no mundo financeiro. O brasileiro tem dificuldade de encontrar um banco estrangeiro no exterior, de enviar recursos para fora, de saber quais produtos pode acessar e assim por diante", diz Haber, que acumula mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, notadamente em gestão de ativos e de patrimônio (wealth management). Ele fundou duas gestoras, a Advis Investimentos e a Tribeca Partners -- esta deu origem à Triar.
"São serviços oferecidos pelos bancos a clientes de private bank e de wealth management. Queremos ampliar o acesso" diz Marcos Nader, que fundou no início dos anos 2000 a Comprova.com, uma empresa de assinatura e certificação digital que se tornou a líder do país antes de ser adquirida pela americana DocuSign em 2014. Ele se tornou depois vice-presidente da companhia para a América Latina, cargo que deixou antes da Nomad.
A entrada em operação da Nomad se soma a iniciativas ainda isoladas, mas que ganham escala, de serviços que ampliam o acesso de brasileiros a moeda e ativos estrangeiros. O C6 Bank e o BS2 oferecem contas em dólar, com a diferença de que não operam com um banco americano como parceiro -- o que para a Nomad significa oferecer aos clientes a garantia de cobertura de depósitos peloFederal Deposit Insurance Corporation (FDIC), equivalente ao brasileiro FGC, o Fundo Garantidor de Créditos.
A Avenue Securities, fundada por Roberto Lee, por sua vez, é uma corretora no mercado americano dedicada e acessível a investidores brasileiros. O número de clientes saltou de 25 mil para cerca de 175 mil ao longo deste ano.
"Quando pensamos na Nomad, já acreditávamos na tendência de globalização de serviços financeiros para os brasileiros. Mas, nos últimos meses, os ventos começaram a soprar a favor com mais força do que nós imaginávamos", diz Haber. "A digitalização do dinheiro com a pandemia antecipou a força da tendência em cinco anos."