Negócios longevos: lista inclui hotel, adega, farmácia e até uma restauradora de edifícios antigos (Lennard Kok/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Bloomberg Businessweek
Publicado em 13 de janeiro de 2024 às 08h05.
Por Angela Serratore, da Bloomberg Businessweek
A empresa americana, em média, fecha as portas após cerca de 21 anos. Algumas empresas, porém, duram mais – muito mais.
Tomemos como exemplo a Kongo Gumi, uma construtora japonesa fundada em 578 d.C., ou a Santa Maria Novella, uma farmácia italiana que vem perfumando a elite desde que Michelangelo decorou os tetos. Aqui estão algumas lições de longevidade de empresas com mais do que ampla experiência.
Até se tornar uma subsidiária do GrupoTakamatsu de Construção em 2006, a Kongo Gumi era a empresa em operação contínua mais antiga do mundo. Mesmo como subsidiária, ela ainda faz as coisas de maneira muito, muito antiquada. Sua especialidade é a restauração de templos budistas e outros edifícios históricos.
Os trabalhadores podiam treinar por até 10 anos, período durante o qual às vezes eram colocados uns contra os outros, competindo para ver qual artesão demonstrava mais habilidade trabalhando com a madeira e a argila tradicionalmente usadas para construir templos.
“Acho que foi aí que as coisas escaparam de muitas outras tradições ou profissões, porque as pessoas não estavam interessadas, ou houve na verdade uma desvalorização de parte dessa obra”, diz Danielle Willkens, professora de arquitetura no Instituto de Tecnologia da Georgia.
Ao manter vivas estas técnicas, a Kongo Gumi tornou-se indispensável para a preservação da arquitetura japonesa.
Considerado por um cortesão de Carlos Magno como tendo uma das melhores coleções de vinhos da Europa, o St. Peter Stiftskulinarium tem encantado os clientes em Salzburgo, na Áustria, há mais de 1.200 anos.
Se não é o restaurante mais antigo do mundo, é um deles. A adega, construída para guardar os tesouros dos monges do mosteiro anexo, foi a gênese do restaurante, diz Nora Wunderwald, publicitária do St. Peter.
Afinal, diz ela, os clientes, que ao longo dos séculos incluíram Mozart, Faust e Karl Lagerfeld (que foi festejado no restaurante pela Chanel), precisavam de um pouco de comida para acompanhar o vinho. Os atuais gerentes do restaurante, Veronika Kirchmair e Claus Haslauer, fizeram questão de diversificar o cardápio além do schnitzel e do strudel.
As ofertas deste mês incluem filé confitado de tamboril, alcachofra Wellington e uma inovação com a qual Carlos Magno e seus compatriotas certamente teriam ficado maravilhados: o brunch.
Era uma vez, talvez durante o reinado do rei Estêvão (que passou a maior parte de seu reinado guerreando com a prima Matilda, a Santa Imperatriz Romana), poder-se ia imaginar parar no hotel Olde Bell, a cerca de 50 quilômetros de Londres, esperando conseguir talvez uma garrafa de cerveja e um pedaço de pão para mergulhar no ensopado antes de adormecer em um colchão de crina de cavalo e, pela manhã, seguir seu caminho pela Inglaterra medieval.
Desde então, o Olde Bell se expandiu para incluir mais quartos para hóspedes e um abrigo nuclear transformado em adega, mas a ideia de que todo viajante cansado e sedento merece um lugar para descansar e uma boa cerveja permanece a mesma, diz o gerente de vendas. Debi Hayes - “exceto que agora temos colchões mais confortáveis!”
A história, é claro, gera mais história, com Winston Churchill, Boris Karloff, Franklin Delano Roosevelt e Elizabeth Taylor passando algum tempo nos quartos aconchegantes e no bar mais aconchegante do hotel, onde seções das paredes originais são cobertas com vidro para mantê-las estáveis.
Para Gian Luca Perris, CEO e “nariz” da Officina Profumo-Farmaceutica di Santa Maria Novella, a fragrância mais duradoura da marca está intrinsecamente ligada à sua patrona mais famosa, Catarina de’ Medici.
Acqua della Regina, com notas de cabeça de pequenos brotos de laranjeira e base de almíscar, ainda é um dos produtos mais vendidos da Santa Maria Novella, uma oportunidade para os compradores de hoje capturarem um pouco do glamour e romance de outrora.
Segundo o relato de Perris, em 1533 a princesa, como parte de sua comitiva de casamento, trouxe um perfumista que, segundo rumores, foi criado pelos frades de Santa Maria Novella. Os frades, que chamavam de lar o mosteiro da Igreja de Santa Maria Novella, há muito se interessavam por águas perfumadas, muitas vezes consideradas para afastar a peste.
Catarina, possivelmente a garota “moderna” mais famosa do século 16, era ao mesmo tempo uma patrona e uma espécie de musa da farmácia, porque para o seu perfume de casamento, seu perfumista estava pronto para criar seu melhor perfume até então.
“Para o seu próximo casamento”, diz Perris, “ele criou um presente de noiva para o futuro marido de Catarina: um perfume que encantou as cortes da França ao incorporar a elegância e graça de Florença”.
Fundada como uma pequena fabricante e loja de roupas em Lower Manhattan, a Brooks Brothers vem fornecendo camisas engomadas e blazers azuis a alunos de escolas preparatórias e banqueiros de Wall Street há 200 anos, sendo pioneira no terno pronto para vestir e cobrindo as demandas empresariais do centro da cidade com locais de varejo abastecidos com gravatas e lenços de bolso em caso de emergência.
Quando Ken Ohashi assumiu a empresa no final de 2020, foi um momento estranho para uma marca que depende da necessidade de as pessoas se vestirem bem. Para Ohashi, a chave para sobreviver aos bloqueios do Covid seria descobrir o que seus obstinados clientes poderiam querer mais.
A resposta, diz ele, foi roupa casual. Itens como camisas de rúgbi listradas de grandes dimensões e calças de veludo cotelê bordadas com alegres cães de caça agora representam 40% dos negócios da empresa, acima dos 20% de antes da pandemia.
Ohasi enfatiza, no entanto, que as roupas esportivas da Brooks Brothers são feitas do jeito Brooks Brothers. “Nosso principal cliente adora nossas calças de moletom”, diz ele, “porque é possível que elas venham com o monograma do cliente”.
A ConEd, fornecedora de energia para a cidade de Nova York e muitos dos condados vizinhos, é a mais antiga empresa em operação contínua listada na Bolsa de Valores de Nova York. É até anterior ao próprio Thomas Edison — quando ele nasceu em 1847, a empresa que um dia levaria seu nome era conhecida como New York Gas Light Co.
Tendo dominado o mercado de lâmpadas a gás em Manhattan (graças, em parte, a um pouco da ajuda dos chefes de Tammany Hall), a empresa — rebatizada de New York Steam Co. (Sistemas de Vapor da Cidade de Nova York), no início da década de 1880 — estava preparada para se tornar um importante protagonista na recém-eletrificada Nova York do final do século 19.
Mas não foi o único negócio com projetos baseados no poder (literal). Na década de 1890, nada menos que 30 empresas procuravam fornecer eletricidade às residências e empresas de Nova York e do condado de Westchester.
De acordo com Dan Taft, engenheiro-chefe de operações centrais da ConEd, “ao instalar cabos alimentadores elétricos originais nas ruas de Lower Manhattan em 1882, Edison ficou tão impressionado com a qualidade do trabalho de assentamento de tubos feito simultaneamente pela New York Steam Co. que tomou providências para enviar o vapor excedente de sua estação Pearl Street para o sistema de vapor, tornando-se assim o primeiro cogerador.
Em meados da década de 1920, a concorrência havia sido praticamente eliminada, deixando a ConEd (o nome tornou-se oficial em 1936) a única fonte de luz elétrica em uma cidade que tanto a utiliza.
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.
Esta reportagem foi publicada em 1 de janeiro de 2024. Clique aqui para ler o link original.