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Estados Unidos continuarão a importar etanol do Brasil, mesmo com produção local

Para especialistas, os americanos precisarão importar álcool ainda que desenvolvam formas baratas de produção

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

Os Estados Unidos continuarão consumindo o etanol brasileiro mesmo que consigam baratear e ampliar a produção local. De acordo com especialistas presentes no Ethanol Summit, encontro realizado em São Paulo nesta segunda-feira (4/6) para discutir os rumos globais do combustível, o investimento em tecnologia realizado pela indústria e pelo governo dos Estados Unidos não será capaz de reverter a liderança do biocombustível gerado a partir da cana-de-açúcar brasileira.

Os esforços americanos para desenvolver etanol a partir de palha de milho, palha de trigo, madeira e switch grass (variedade de grama) não conseguirão gerar álcool mais barato do que o que vem da cana brasileira, segundo a brasileira Helena Chum, diretora do Centro Nacional de Bioenergia dos Estados Unidos. De acordo com as estimativas de Helena, o etanol de celulose que resultará desse trabalho chegará a um custo mínimo de 1,07 dólar por galão por volta de 2012 e estabilizará nesse patamar, enquanto o álcool da cana é feito hoje por um preço que fica entre 0,6 dólar e 0,8 dólar o galão. "A cana possui mais sacarose e sua produção tem mais volume por hectare", diz a pesquisadora. A comparação dos números mostra que o investimento em alternativas para a produção de etanol trará vantagens para os americanos - já que o etanol produzido no país hoje, a partir do grão do milho, custa cerca de 1,2 dólar por galão -, mas não tirará espaço do produto brasileiro, mais competitivo.

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Mesmo que os Estados Unidos consigam produzir a ponto de equilibrar oferta e demanda internas, diz Helena, o etanol funcionará como o petróleo: "Será exatamente como hoje, os países que produzem também precisam importar", diz. O perigo para as usinas brasileiras, na opinião da pesquisadora, está na falta de recursos destinados para desenvolvimento. Recentemente, segundo Helena, os americanos destinaram 385 milhões de dólares para seis projetos de refinarias que testarão a produção do etanol de celulose, por exemplo. "O Brasil está muito atrasado nisso em relação aos Estados Unidos, é preciso investir mais em capital humano e em equipamento".

Por enquanto, os usineiros parecem não estar preocupados - pelo menos é o que diz Rubens Ometto, presidente da Cosan. Ometto diz acreditar que os avanços tecnológicos alcançados pelos Estados Unidos serão, dentro de pouco tempo, compartilhados entre todas as indústrias do setor. "O Brasil acabará comprando o direito da tecnologia e ainda estará na frente, pela experiência que tem", afirma.

A grande extensão territorial dos Estados Unidos e a distância entre estados produtores e consumidores no país também gerarão custos logísticos aos americanos, afirma Ometto, o que constituirá um ponto positivo a favor do etanol brasileiro. E além disso, um mercado do tamanho dos Estados Unidos não será saciado pela produção interna, ainda que ela cresça nos próximos anos. "Sempre haverá espaço para o etanol brasileiro nos Estados Unidos".

Tão otimista quanto Ometto, José Goldemberg, coordenador da Comissão Especial de Bioenergia do estado de São Paulo, afirma que o crescimento da demanda por etanol se acelerará nos próximos anos, o que acabará derrubando as barreiras ao produto brasileiro hoje existentes no mercado americano. "Em 2009, ao fim do governo Bush, a lei de subsídios agrícolas dos Estados Unidos vai ter de ser revista, e tenho certeza de que eles reduzirão as tarifas protecionistas contra o etanol do Brasil", diz. Em outros países, como o Japão, o mesmo deve acontecer, na opinião de Goldemberg, principalmente por causa do custo competitivo da cana brasileira. "A pesquisa de etanol de celulose ainda vai demorar muitos e muitos anos para trazer um resultado econômico", afirma.

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