Empresas tentam baratear energia e ficam sem luz
Mal orientadas, elas não aguentaram o custo da eletricidade, ficaram inadimplentes e tiveram a luz cortada
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2014 às 07h38.
São Paulo - A disparada do preço da energia no mercado à vista, por causa do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, pegou algumas empresas no contrapé.
Mal orientadas (ou cientes dos riscos do mercado à vista), elas não aguentaram o custo da eletricidade, hoje em R$ 822 o megawatt/hora (MWh), ficaram inadimplentes, foram expulsas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e tiveram a luz cortada.
Agora estão tendo de partir para o "plano B" para continuar em operação. Uma das alternativas tem sido alugar geradores movidos a óleo diesel.
A ideia de reduzir os custos de produção comprando energia elétrica mais barata parecia um ótimo negócio para melhorar a competitividade da indústria metalúrgica Injet.
Em 2012, quando o preço da eletricidade no mercado à vista estava em cerca de R$ 40 o MWh, a empresa decidiu fazer o que vários concorrentes já tinham feito: migrar para o mercado livre, em que o consumidor tem liberdade para comprar a energia de quem quiser.
Mas ela errou o momento. Em 2013, quando a companhia estreou no mercado livre, o preço já havia subido para quase R$ 350 o MWh. O custo da energia no mercado à vista, chamado de PLD, varia conforme o nível dos reservatórios e a necessidade de colocar mais térmicas para operar.
Neste ano, as usinas do Sudeste e Centro-Oeste não conseguiram recuperar o nível de suas represas por causa da escassez de chuvas, o que manteve o preço no valor máximo.
Normalmente, as companhias que migram para o mercado livre fecham contratos de médio e longo prazos para reduzir os riscos de um período de estresse como o atual.
O diretor da Injet, Heverton Padilha, conta que, com a alta dos preços no mercado de curto prazo, ficou muito difícil fechar um contrato de longo prazo com quem tinha energia para vender - hoje contratos de um ano a partir de 2015 têm preços acima de R$ 3 mil o MWh.
Com isso, a empresa, de Caxias do Sul, ficou exposta ao mercado de curto prazo, comprando energia diariamente ao preço do momento.
"Não tínhamos como manter o novo patamar de custos e não podíamos voltar ao mercado cativo (atendido pelas distribuidoras). Ficamos nunca situação complicada."
Pelas regras do setor, para voltar a ser atendido pelas distribuidoras, o consumidor livre precisa avisar com cinco anos de antecedência - ou por menos prazo, dependendo da concessionária de energia.
Sem condições de arcar com o aumento de custo, a Injet ficou inadimplente e foi desligada da CCEE. O efeito dessa decisão é o corte da energia. Mas, com uma ação judicial, a empresa conseguiu adiar a medida até a semana passada, quando a liminar caiu e o aviso de desligamento da luz chegou.
"Para continuar operando, alugamos dois geradores a óleo diesel. Apesar de ser caro, o custo da energia será menor que o mercado spot (à vista)", diz Padilha.
Solução milagrosa
Ele reclama da posição das comercializadoras no processo de migração. "As empresas chegam com uma solução milagrosa e depois deixam a gente na mão."
Segundo o executivo de uma grande comercializadora, que prefere não se identificar, algumas empresas são mais aventureiras e apostam na sorte. Mas tem havido muitos problemas decorrentes de consultorias erradas. "Nosso trabalho é aconselhar o consumidor, ter uma visão clara do que pode ocorrer, ver o clima e posicionar o cliente."
Pelos dados da CCEE, 16 empresas foram desligadas até outubro de 2014 por descumprimento das obrigações, sendo a principal a falta de pagamento das faturas mensais. Outras 10 companhias conseguiram liminares para continuar no mercado.
A metalúrgica Caliendo, do Rio Grande do Sul, também tem brigado com a Câmara desde o primeiro semestre. No fim do mês passado, a ação perdeu seus efeitos e a empresa ficou sujeita ao corte de energia.
A Caliendo migrou para o mercado livre em outubro de 2013, quando o preço estava em R$ 270. Naquela época, no entanto, havia expectativa de que as chuvas de verão recuperariam os reservatórios e os preços recuariam.
O cenário não se confirmou e o preço subiu. Em janeiro deste ano, a empresa já começava a sentir o peso do custo elevado. Priorizou o pagamento de salários e fornecedores, deixando a conta de luz pendente.
A dívida da Caliendo é de R$ 1 milhão. A exemplo da Injet, a empresa também optou pelos geradores a óleo diesel para produzir energia para o funcionamento da fábrica. Até semana passada, ela ainda não tinha recebido aviso de corte da luz.
Na ata de reunião da semana passada, a CCEE informa a contratação de um escritório de advocacia para mover ações contra sete empresas que já foram excluídas do mercado e continuam inadimplentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo - A disparada do preço da energia no mercado à vista, por causa do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, pegou algumas empresas no contrapé.
Mal orientadas (ou cientes dos riscos do mercado à vista), elas não aguentaram o custo da eletricidade, hoje em R$ 822 o megawatt/hora (MWh), ficaram inadimplentes, foram expulsas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e tiveram a luz cortada.
Agora estão tendo de partir para o "plano B" para continuar em operação. Uma das alternativas tem sido alugar geradores movidos a óleo diesel.
A ideia de reduzir os custos de produção comprando energia elétrica mais barata parecia um ótimo negócio para melhorar a competitividade da indústria metalúrgica Injet.
Em 2012, quando o preço da eletricidade no mercado à vista estava em cerca de R$ 40 o MWh, a empresa decidiu fazer o que vários concorrentes já tinham feito: migrar para o mercado livre, em que o consumidor tem liberdade para comprar a energia de quem quiser.
Mas ela errou o momento. Em 2013, quando a companhia estreou no mercado livre, o preço já havia subido para quase R$ 350 o MWh. O custo da energia no mercado à vista, chamado de PLD, varia conforme o nível dos reservatórios e a necessidade de colocar mais térmicas para operar.
Neste ano, as usinas do Sudeste e Centro-Oeste não conseguiram recuperar o nível de suas represas por causa da escassez de chuvas, o que manteve o preço no valor máximo.
Normalmente, as companhias que migram para o mercado livre fecham contratos de médio e longo prazos para reduzir os riscos de um período de estresse como o atual.
O diretor da Injet, Heverton Padilha, conta que, com a alta dos preços no mercado de curto prazo, ficou muito difícil fechar um contrato de longo prazo com quem tinha energia para vender - hoje contratos de um ano a partir de 2015 têm preços acima de R$ 3 mil o MWh.
Com isso, a empresa, de Caxias do Sul, ficou exposta ao mercado de curto prazo, comprando energia diariamente ao preço do momento.
"Não tínhamos como manter o novo patamar de custos e não podíamos voltar ao mercado cativo (atendido pelas distribuidoras). Ficamos nunca situação complicada."
Pelas regras do setor, para voltar a ser atendido pelas distribuidoras, o consumidor livre precisa avisar com cinco anos de antecedência - ou por menos prazo, dependendo da concessionária de energia.
Sem condições de arcar com o aumento de custo, a Injet ficou inadimplente e foi desligada da CCEE. O efeito dessa decisão é o corte da energia. Mas, com uma ação judicial, a empresa conseguiu adiar a medida até a semana passada, quando a liminar caiu e o aviso de desligamento da luz chegou.
"Para continuar operando, alugamos dois geradores a óleo diesel. Apesar de ser caro, o custo da energia será menor que o mercado spot (à vista)", diz Padilha.
Solução milagrosa
Ele reclama da posição das comercializadoras no processo de migração. "As empresas chegam com uma solução milagrosa e depois deixam a gente na mão."
Segundo o executivo de uma grande comercializadora, que prefere não se identificar, algumas empresas são mais aventureiras e apostam na sorte. Mas tem havido muitos problemas decorrentes de consultorias erradas. "Nosso trabalho é aconselhar o consumidor, ter uma visão clara do que pode ocorrer, ver o clima e posicionar o cliente."
Pelos dados da CCEE, 16 empresas foram desligadas até outubro de 2014 por descumprimento das obrigações, sendo a principal a falta de pagamento das faturas mensais. Outras 10 companhias conseguiram liminares para continuar no mercado.
A metalúrgica Caliendo, do Rio Grande do Sul, também tem brigado com a Câmara desde o primeiro semestre. No fim do mês passado, a ação perdeu seus efeitos e a empresa ficou sujeita ao corte de energia.
A Caliendo migrou para o mercado livre em outubro de 2013, quando o preço estava em R$ 270. Naquela época, no entanto, havia expectativa de que as chuvas de verão recuperariam os reservatórios e os preços recuariam.
O cenário não se confirmou e o preço subiu. Em janeiro deste ano, a empresa já começava a sentir o peso do custo elevado. Priorizou o pagamento de salários e fornecedores, deixando a conta de luz pendente.
A dívida da Caliendo é de R$ 1 milhão. A exemplo da Injet, a empresa também optou pelos geradores a óleo diesel para produzir energia para o funcionamento da fábrica. Até semana passada, ela ainda não tinha recebido aviso de corte da luz.
Na ata de reunião da semana passada, a CCEE informa a contratação de um escritório de advocacia para mover ações contra sete empresas que já foram excluídas do mercado e continuam inadimplentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.