Empresas, fazendeiros e brigadistas se unem no combate ao fogo no Pantanal
Iniciativa da JBS em parceria com startup, produtores rurais e especialistas em incêndio ajuda a prevenir e apagar focos na região
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Publicado em 5 de janeiro de 2022 às 09h00.
Última atualização em 5 de janeiro de 2022 às 13h06.
O ano de 2021 foi marcado por grandes incêndios no Pantanal. Entre janeiro e agosto, o fogo consumiu 261.800 hectares do bioma, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), órgão vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Diante dessa situação, empresas que atuam na região, fazendeiros, brigadistas e bombeiros unem esforços para prevenir e combater os focos de incêndio. A JBS, líder global em alimentos à base de proteína, anunciou investimentos de R$ 26 milhões distribuídos ao longo de quatro anos, para ampliar o esforço de monitoramento e combate às queimadas.
Em uma das frentes, a companhia desenvolveu uma solução em parceria com a startup Um Grau e Meio, que utiliza inteligência artificial através de uma plataforma integrada para a gestão de incêndios. A ferramenta cruza informações vindas de satélites e imagens de câmeras posicionadas em torres instaladas nas fazendas parceiras.
Foram instaladas 11 torres de monitoramento, cada uma com câmera capaz de cobrir uma área superior a 70.000 hectares, que proveem imagens para a visão computacional do sistema na primeira fase do projeto patrocinado pela JBS. Já o software Pantera leva em conta ainda os dados meteorológicos, o histórico de incêndio na região, indicadores de pontos estratégicos, como fontes de água, criando uma rede viva e conectada de enfrentamento a situações em tempo real.
Como o sistema é modular, a ampliação da área coberta pelo projeto virá da instalação de mais torres com câmeras, e a expectativa é de redução de mais de 50% das áreas queimadas através da detecção precoce, resposta rápida e ação imediata.
Unidades da JBS dão apoio ao combate aos focos de incêndio
Por meio da automatização, o fogo é detectado em até 3 minutos, quando há maior probabilidade de o incêndio ser controlado.
Além da detecção precoce, as unidades da JBS mais próximas dos focos de incêndio dão apoio por terra ao combate ao fogo. A companhia investiu em cinco equipes da Brigada Aliança, da organização Aliança da Terra, com bases nos municípios de Anastácio (MS), Pedra Preta, Poconé, Cáceres e Araputanga (MT). Essas brigadas, altamente treinadas com suporte do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), são equipadas com tecnologia de ponta, incluindo drones e outros equipamentos que orientam um combate eficiente e seguro aos incêndios.
O projeto está dimensionado para cobrir 2 milhões de hectares – área que pode ser comparada praticamente à extensão do território de Israel – nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
“Buscando uma solução para os incêndios no Pantanal, identificamos as brigadas da Aliança da Terra e propusemos um projeto em conjunto para levar treinamento para as pessoas das regiões em que as nossas brigadas estão instaladas, capacitando voluntários para o combate ao incêndio”, conta Liège Correia, diretora de sustentabilidade da Friboi. “A parceria está funcionando muito bem, eu diria que a base do sucesso desse trabalho é o envolvimento da comunidade e uma boa técnica de combate. As brigadas são muito bem preparadas e o projeto está funcionando pela união da técnica e do engajamento da população.”
Liège lembra que o ano de 2020 foi muito desafiador na região. “A seca e os incêndios no Pantanal foram muito violentos e vimos os efeitos disso sobre as fazendas e toda a comunidade.”
A executiva reforça que o importante, quando se fala de incêndios, é iniciar o combate rapidamente e saber onde estão os recursos. “O interessante na proposta das brigadas é o fato de envolver 20, 30 fazendas em cada uma: você tem as fazendas no mapa, elas estão bem posicionadas e todo mundo sabe o que tem de fazer. Então, rapidamente, quando um foco é detectado, as pessoas sabem onde estão os tratores para fazer o aceiro, onde tem represa, água para encher um tanque, quais são as estradas de acesso. Por isso que eles estão conseguindo um resultado melhor do que no ano anterior no combate, por conta dessa estratégia e desse engajamento.”
Fazendas atuam como parceiras nos combates
Tercio Damaceno, da Fazenda Serra Alta, envolvida na iniciativa, dá um exemplo real de como essa estratégia funciona:
“Eu estava na cidade quando o pessoal da brigada de incêndio me ligou, falando que tinha um foco de calor na Serra. Quando cheguei no local, eles já haviam identificado o foco e estavam combatendo. A brigada identificou um potencial, que aquilo poderia vir a ser um incêndio florestal, aquilo que era simplesmente uma carga derrubada. Aí veio o caminhão-pipa e controlou o fogo. A gente, como leigo, nem tinha identificado que ali havia um problema.”
Damaceno conta que o pessoal da brigada monitora, comunica e evita que focos de calor pequenos se transformem em incêndio e ganhem uma proporção maior.
Iniciativa inclui educação de moradores
Marcio Moraes, pecuarista da Fazenda Santa Joana, comenta que, além do combate ao fogo em si, o trabalho educativo da brigada tem gerado resultados positivos. “Entrei em contato com a brigada e ela veio imediatamente, fez esse contato em caráter educativo com a população, explicou que não pode fazer queimadas nesse período, dos perigos envolvidos, visitando todos os moradores da beira do asfalto, dessa região nossa aqui até a Serra da Petrovina. Então, para mim, esse trabalho foi muito importante.”
“O treinamento ajuda”, reforça Marcelo Bastos, gerente da Fazenda Aliança. Liège diz que treinar pessoas e dar vazão a essa vontade delas ajudarem é importante. “O produtor rural aprende hoje a dar o alerta, tirar a foto com coordenada, para todo mundo saber onde foi feita, para que isso possa ser inserido no aplicativo e a brigada e voluntários consigam chegar lá.”
Até o momento, 98 voluntários das fazendas cadastradas no projeto receberam treinamento e estão fortalecendo os combates a incêndios no Pantanal. Como resultado da ação em conjunto com a JBS, mais de 160 propriedades rurais já foram cadastradas. Cada uma delas recebeu um diagnóstico completo, incluindo o histórico recente e o risco de novos incêndios.
Técnica de combate foi adaptada dos EUA para bioma brasileiro
Isafa Balke, brigadista da Aliança da Terra, diz que o trabalho está sendo bem-aceito pelos produtores da região. “Atendemos municípios de fazendas que estão na plataforma e trabalhamos em treinamentos, visitas e monitoramento, além de quando há combate”, afirma. “Fazemos parte de um grupo de WhatsApp que denuncia as ocorrências e solicita os serviços da brigada para os focos de incêndio, assim podemos atender imediatamente os chamados.”
Balke começou a estudar o tema em 2012, quando fez um treinamento com o serviço florestal americano. Em 2013, começou a atuar em incêndios florestais. “O conhecimento que possuímos hoje foi adaptado dos Estados Unidos para o solo e os biomas brasileiros”, explica. “Aprendemos a improvisar, adaptar e sempre resolver o incêndio.”
Hoje, ele conta, a Aliança da Terra presta serviços para fazendas cadastradas em 15 estados, mais o Distrito Federal. “É um trabalho que, normalmente, não aparece. Eliminar as chamas não é apagar o incêndio, e a brigada fornece treinamentos para conhecer os fatores que causam a propagação dos incêndios e como extingui-los.”
O rescaldo, ele continua, é uma parte muito importante desse processo. “Dependendo do bioma, demora mais ou menos para acabar com o fogo, porque, se esquecer um tronco para trás, vamos ter de voltar ao local no dia seguinte.”
Liège diz que a companhia já investiu mais de R$ 8 milhões no projeto, incluindo as torres de monitoramento que detectam os incêndios precocemente e cinco brigadas cobrindo mais de 2 milhões de hectares. “Nosso objetivo é que, a cada ano, a gente consiga combater o incêndio mais rapidamente e diminuir os incêndios nas regiões em que a JBS atua em parceria com as brigadas.”