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Empresários tiram dinheiro do bolso para salvar negócios

Sem conseguir empréstimos na pessoa jurídica, milionários têm transferido recursos de investimentos pessoais para reanimar suas empresas


	Saque de recursos: empresários não têm hesitado em usar recursos próprios para socorrer seus negócios
 (miroslavmisiura/Thinkstock)

Saque de recursos: empresários não têm hesitado em usar recursos próprios para socorrer seus negócios (miroslavmisiura/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2016 às 18h36.

São Paulo - Para salvar seus negócios, clientes de private bank, que possuem ao menos um milhão de reais investidos em aplicações financeiras, têm sacado recursos de investimentos pessoais para aportar em suas empresas. 

“Eu acompanho a indústria private muito de perto há dez anos e nunca vi tantas pessoas físicas resgatarem no private para investir em seus próprios negócios”, diz João Albino, presidente do comitê de private banking da Anbima e diretor do Bradesco Private Bank.

A afirmação foi feita durante a divulgação de um relatório inédito da Anbima, que mapeou as aplicações realizadas em 2015 por 71,7 milhões de clientes, que juntos possuem 2,043 trilhões de reais em investimentos.

O executivo do Bradesco afirma que a transferência de recursos da pessoa física para a pessoa jurídica tem ocorrido tanto pela crença de que, apesar da crise, os negócios irão prosperar, quanto pela maior restrição de crédito às empresas.

“Alguns clientes não conseguem crédito na pessoa jurídica porque suas empresas já estão muito alavancadas, mas eles acreditam tanto no seu negócio que não hesitam em resgatar do private”, diz Albino.

Para evitar que os clientes realizem o prejuízo ao sacar recursos de fundos de investimento e outras aplicações, o diretor do Bradesco Private Bank afirma que gerentes têm aconselhado empresários a realizar empréstimos na pessoa física em vez de resgatar as aplicações.

Nesse caso, o instrumento usado pelos gerentes são os contratos de mútuos, nos quais os clientes contraem empréstimos com o banco e utilizam suas aplicações financeiras como garantia da operação.

“O empresário contrai, por exemplo, um empréstimo de 5 milhões de reais, por um prazo de dois anos, e utiliza como garantia um fundo no private que tem um patrimônio de 5 milhões de reais. Assim, se em dois anos a empresa não conseguir pagar a dívida, o banco toma a aplicação dada como garantia para honrar a dívida”, diz Albino. 

Os dados do relatório da Anbima confirmam que operações como essa foram realizadas com bastante frequência em 2015. No ano, o crédito pessoal para clientes private cresceu 14,3%, totalizando um volume de cerca de 30 bilhões de reais.

Segundo o estudo, a maior parte desse crédito foi destinada a operações no setor de agronegócio, que ficou com 41,9% do volume de recursos emprestados. O setor imobiliário recebeu a segunda maior fatia, equivalente a 23,8% do crédito concedido.

De acordo com Albino, a predominância de créditos voltados ao agronegócio reflete o bom momento vivido pelo setor. “Muitos dos nossos clientes private são fazendeiros. Apesar da crise, como o agronegócio tem prosperado, clientes que não têm conseguido obter crédito na pessoa jurídica tomam na pessoa física.”

Em 2015, a indústria de private somou um volume total de ativos investidos de 712,48 bilhões de reais. Ainda que esse saldo represente um aumento de 10,5% em relação a 2014, quando o volume de ativos totalizou 645,06 bilhões de reais, o crescimento foi inferior à evolução da taxa Selic no ano, que subiu 13,23%.

O crescimento no ano de 2015 ficou muito próximo ao visto entre os anos de 2013 e 2014, mas aquém da alta verificada no triênio de 2010 a 2012, quando o crescimento médio do segmento private foi de 20% ao ano.

Os dados indicam que a indústria private encolheu no ano passado, já que em condições normais, os investimentos teriam, no mínimo, acompanhado a evolução da taxa Selic.

Outro dado que sinaliza o menor vigor do segmento private é a redução no número de grupos econômicos, que caiu de 57.705 em 2014 para 52.050 em 2015.

Como muitos clientes do segmento private costumam ser famílias ou pessoas conhecidas que possuem um fundo exclusivo, em vez de acompanhar a evolução de clientes por CPF, a Anbima avalia a evolução do número de clientes pelos chamados grupos econômicos. 

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