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Elas nos setores deles: empreendedoras superam barreiras e fazem sucesso em mercados masculinos

Em busca de igualdade de gênero, elas lideram empresas e iniciativas femininas em setores predominantemente dominado por homens; conheça histórias

Sandra Carvalho, proprietária da oficina mecânica AK Auto Center (Sebrae-SP/Divulgação)
MC

Maria Clara Dias

Publicado em 26 de novembro de 2022 às 09h00.

A igualdade de gênero no mercado de trabalho é um tema cada vez mais discutido do ponto de vista da remuneração e do respeito à diversidade, mas as mulheres ainda continuam a lutar pelo seu espaço em profissões que são dominadas historicamente pelo sexo masculino. Foi essa sensação de sentir-se sempre uma exceção nos canteiros de obras país afora que levou a engenheira eletricista Camila Maciel Andrade a querer compartilhar sua história e mostrar que há espaço para outras mulheres “de botina” no dia a dia profissional.

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“Escolhi engenharia elétrica ainda no ensino médio por gostar de exatas, sempre tive o apoio da minha mãe, mas com o meu pai foi mais difícil. Ele queria que eu cursasse medicina, pois engenharia não era um curso tão feminino”, lembra Camila. Moradora do Estado da Bahia, passou no vestibular em Campina Grande, na Paraíba, e foi morar fora. “Na época da faculdade não houve julgamentos. A maioria dos alunos era de fora, de outras cidades e Estados, então os alunos se acolhiam, homens e mulheres, pois todos sabiam o quanto era difícil passar para o próximo semestre”, conta.

A experiência no mercado de trabalho, especificamente no setor de energia em grandes projetos, e a vontade de incentivar outras mulheres a seguirem um caminho profissional livre de preconceitos foi o que a levou a criar o projeto “Elas de Botina” (elasdebotina.com.br), um movimento de acolhimento para mulheres que trabalham em áreas que ainda são vistas como masculinas.

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O projeto começou no Instagram, onde Camila criou uma rede de apoio para que mulheres engenheiras e de áreas relacionadas contassem suas histórias, dificuldades e sonhos, com o propósito de se acolherem e também incentivarem outras mulheres. “Quero ajudá-las a seguirem seus sonhos e não desistirem das suas carreiras, por mais difícil e solitário que seja estar em algumas profissões para o público feminino”, diz.

Em outra frente, Camila usou seu talento de contadora de histórias para escrever os livros de uma trilogia infantil chamada “As descobertas de Carol no mundo da engenharia”, que traz a história de uma menina que está em dúvida sobre o que quer ser quando crescer. Na história, ela pede ajuda para a mãe e para as mães das amigas para descobrir as diversas carreiras de engenharia e entender que ela pode ser o que ela quiser.

Já os outros dois livros acompanham o crescimento dela e a personagem Carol entrando nesse mundo que é enxergado como um mundo somente para homens.

Na opinião de Camila, um conselho para mulheres e meninas que querem seguir suas carreiras em áreas que não são vistas como femininas ou que a sociedade enxerga como somente para homens é persistir em seus sonhos. “Tenham força, vai ser difícil, mas vai valer a pena se você realmente quiser estar na área e no segmento escolhidos. Você não é menos capaz por ser mulher”, conclui.

Mão na graxa

No ambiente do empreendedorismo, algumas áreas dominadas por homens estão vendo a chegada de mais mulheres – e cada vez mais preparadas para assumir qualquer função. Para levar mais conhecimento técnico e de gestão para mulheres em oficinas mecânicas, o Sebrae-SP, junto com nove parceiros do mercado, lançou o curso “Mulheres na Reparação Automotiva”, iniciativa que começou no Escritório Regional Capital Oeste do Sebrae-SP.

Ao todo, 30 empreendedoras de oficinas mecânicas de todo o Estado participaram do curso, que foi ministrado de maneira online e teve duração de dois meses.

A consultora Roberta Sodré, idealizadora e gestora do projeto, conta que as alunas se sentiram honradas e especiais de terem sido convidadas para participar do curso, onde puderam aprender mais sobre como administrar a oficina e também técnicas em geral de mecânica. “As alunas relatavam histórias que já vivenciaram no ambiente de trabalho como donas e sócias de oficinas mecânicas.

Elas ouviam comentários machistas e preconceituosos de alguns clientes que, num primeiro momento, duvidaram da capacidade delas de entender do assunto. Só que após conhecer o trabalho das mulheres, preferiam ser atendidos por elas”, afirma a consultora.

Uma das empreendedoras que passou pelo curso foi Sandra Carvalho, sócia-proprietária da oficina mecânica AK Auto Center, localizada na zona sul de São Paulo. Ela atua na área de mecânica há mais de 20 anos, como administradora e gestora de oficinas, e é dona de uma oficina junto com o marido, que é o responsável pela parte da reparação dos veículos. Sandra fez cursos do Sebrae desde 2014 na área de gestão e finanças, mas afirma que teve muitos benefícios depois de participar do curso de reparação automotiva.

Por ser mulher e estar num ramo predominantemente masculino, Sandra relata ter tido muitos obstáculos pelo caminho para gerir a empresa e, no início, fazer o papel de secretária, responsável pelo primeiro contato com o cliente. “Muitos se sentiam inseguros de ver uma mulher atendendo e anotando os problemas dos automóveis”, lembra.

Quando descobrem que a oficina é comandada por uma mulher, os clientes têm reações variadas, conta a empreendedora. “Eu e uma outra funcionária mulher que contratamos sofríamos mais desconfiança antigamente. Os próprios clientes preferiam e até pediam um homem para tratar do assunto. Mas hoje em dia já não acontece com tanta frequência, diminuiu bastante. Acredito que a mudança e evolução cultural da sociedade podem estar relacionadas com isso”, afirma.

Sandra usa como exemplo uma comparação com outros assuntos que são considerados predominantemente masculinos. “Eu tenho um filho menino e sempre gostei de futebol e de super-heróis, assuntos ‘bobos’ do nosso cotidiano, mas percebo que as mulheres ainda precisam provar que conhecem e dominam essas áreas, mesmo não interferindo em nada no dia a dia. Então, infelizmente ainda é normal que haja preconceito quando o assunto é profissional e quando um cliente confia a nós seu automóvel”, diz a empreendedora.

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