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Emílio Odebrecht demite filho Marcelo. Saiba as origens da guerra

A demissão é o ápice das brigas entre pai e filho, que se acirram em um momento em que a empresa tem dificuldade de apresentar um plano aos credores

Marcelo estava afastado de qualquer função administrativa desde que foi preso em 2015 (Heuler Andrey/Getty Images/Getty Images)

Marcelo estava afastado de qualquer função administrativa desde que foi preso em 2015 (Heuler Andrey/Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2019 às 17h10.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às 18h36.

O empresário Emílio Odebrecht emitiu na tarde desta sexta-feira uma ordem para a demissão de seu filho, Marcelo, da empresa que leva o nome da família, segundo informação divulgada pelo jornal O Globo e confirmada por EXAME.

Marcelo estava afastado de qualquer função administrativa desde que foi preso em 2015, por conta da Operação Lava Jato. Porém, continuava na folha de pagamentos do grupo, recebendo 115 mil reais, de acordo com a coluna do jornalista Lauro Jardim no jornal O Globo. Marcelo também perderá o motorista e o direito a um advogado interno da empresa, segundo a coluna.  

A demissão é o ápice das brigas entre pai e filho, que se acirraram desde o começo da semana, bem como da dificuldade da Odebrecht de apresentar um plano a seus credores.

A Odebrecht lida com a tentativa de Marcelo odebrecht, filho de Emílio e preso na Operação Lava Jato, de voltar a conduzir os negócios do grupo. Marcelo visitou a empresa no meio de setembro, quando sua pena foi alterada de prisão domiciliar para regime semiaberto. Ele escreveu, na ocasião, uma carta para a família, dizendo que estava disposto a voltar ao grupo e responsabilizou seus sucessores pelas dificuldades econômicas do grupo.

Na segunda-feira, a Odebrecht trocou o seu comando. O atual presidente do grupo Luciano Guidolin foi substituído por Ruy Sampaio, atualmente presidente do conselho de administração. O anúncio foi feito por Emílio Odebrecht, na condição de mandatário da Kieppe, holding familiar controladora da Odebrecht, após uma reunião da empresa em Salvador, BA.

A companhia também não apresentou um plano de recuperação judicial aos seus credores. A assembleia que estava marcada para quinta-feira, 19, foi adiada para o dia 29 de janeiro. Já é a terceira vez que a empresa adianta a apresentação de um plano mais detalhado.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Odebrecht informou que o desligamento do funcionário Marcelo Bahia Odebrecht de seus quadros atendeu a recomendação feita pelos monitores externos independentes do Ministério Público Federal e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que atuam na empresa há dois anos e meio.

"A recomendação foi acatada e aprovada em 24/19/2019 pelo Conselho de Administração da holding do Grupo, com prazo de execução até 31/12/2019. Marcelo Bahia Odebrecht mantém sua condição de sócio minoritário indireto da Odebrecht e, como tal, seu relacionamento com o Grupo se dará de agora em diante no âmbito dos acionistas, via Kieppe, holding da família controladora", diz a companhia.

Pai contra filho

A tragédia familiar da Odebrecht tem relação com as investigações da Lava-Jato, conforme revelou reportagem de capa de EXAME de junho de 2018. Já então ficava claro para quem acompanhava a empreiteira de perto que as desavenças entre pai e filho era uma bomba relógio que colocava o futuro da família, e da empresa, em risco.

Herdeiro e então presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, ficou dois anos e meio detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e desde o ano passado cumpre prisão domiciliar depois de ter sido condenado a mais de 19 anos de reclusão pelo juiz Sérgio Moro.

Seu pai, Emílio, foi punido com quatro anos de prisão domiciliar em regime semiaberto e aberto. Segundo executivos mais próximos a Marcelo, o filho assumiu de forma desproporcional a responsabilidade, enquanto o pai foi poupado. Emílio anunciou no final de 2017 que deixaria a presidência do conselho de administração, cumprindo acordo feito com o Ministério Público Federal.

Desde que deixou a prisão, Marcelo passa os dias em São Paulo revisando 400.000 e-mails na tentativa de achar algo que possa reduzir sua pena; seu pai, em Salvador, dedicava-se a atividades como supervisionar os negócios da família na pecuária. Até que decidiu retomar o controle sobre a empresa. 

Os dois têm personalidade diferente. Marcelo não toma álcool; Emílio costuma presentear amigos, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a cachaça produzida em seu alambique. Racional e lógico, Marcelo transformou em um sistema organizado e informatizado o esquema de pagamento de propinas, o qual, segundo Emílio disse em depoimento à Justiça no âmbito da Lava-Jato, vinha de décadas.

Marcelo sempre adotou uma postura radical: defende que todos os funcionários sobre os quais paire qualquer dúvida sejam afastados. Emílio sempre foi mais favorável a endurecer sem perder a ternura. Relutou em remover da organização os funcionários que lhe são mais próximos.

Para Marcelo, a precipitação do pai em absolver os executivos lançava dúvidas sobre o alcance e a efetividade do programa de compliance e podia comprometer a confiança na mudança cultural da empreiteira. Criado em 2016, o programa tem entre suas atribuições investigar eventuais desconfianças.

Nas últimas semanas, Marcelo voltou a frequentar a seda da Odebrecht, em São Paulo, depois de sua pena ter sido alterada de prisão domiciliar para semiaberta. O movimento acentuou as desavenças com o pai. Na segunda-feira Luciano Guidolin deixou a presidência da companhia e deu lugar a um tradicional aliado de Emílio, Ruy Sampaio.

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