Negócios

Em 11 de setembro, um avião explodiu a Cantor, e ela reviveu

O grupo financeiro Cantor Fitzgerald perdeu dois terços de seus funcionários no ataque terrorista; hoje, sua recuperação é um dos símbolos dos EUA

Howard Lutnick, no memorial às vítimas do 11 de setembro: após escapar da morte, fez a Cantor ressuscitar (David Handschuh-Pool/Getty Images)

Howard Lutnick, no memorial às vítimas do 11 de setembro: após escapar da morte, fez a Cantor ressuscitar (David Handschuh-Pool/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de setembro de 2013 às 19h21.

São Paulo – No mundo dos negócios, nenhuma empresa foi mais atingida pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quanto o grupo financeiro Cantor Fitzgerald. A dimensão de sua tragédia e a velocidade de sua recuperação contêm lances de sorte e determinação que se transformaram, para muitos, em símbolos dos Estados Unidos.

Quando o avião da American Airlines bateu contra a Torre Um do World Trade Center, naquela manhã, 658 dos 960 funcionários da Cantor já estavam em seus postos de trabalho, entre os andares 101 e 105 do edifício. Todos morreram no ataque terrorista.

Segundo o jornal americano The New York Times, um dado que torna ainda mais dramática a situação é que a Cantor mantinha uma política de incentivar a contratação de parentes. Por isso, muitas famílias perderam mais de um membro naquele dia.

Entre as vítimas, estava Gary, o irmão mais novo de Howard Lutnick, controlador e presidente da Cantor. Howard, aliás, escapou da morte por pura sorte, como ele mesmo costuma dizer.

Jardim da infância

Naquele 11 de setembro, seu filho, Kyle, então com cinco anos, iria pela primeira vez à escola. Howard e sua esposa decidiram, então, levá-lo juntos ao jardim da infância. Foi lá que o empresário soube da tragédia.

Depois de vagar pelos arredores do World Trade Center, naquele dia, em meio à poeira, à fumaça e à multidão em pânico, Howard voltou a pé para a sua casa e começou a avaliar a situação.

Naquela época, a Cantor era considerada uma empresa de médio porte no mercado financeiro e de capitais. Sua principal atividade era intermediar a negociação de títulos públicos, prestando serviços para gigantes como o Goldman Sachs. O banco, aliás, soube de uma forma bem prática que seu parceiro fora destruído no ataque – o sistema de negociação simplesmente caiu, quando os servidores da Cantor ruíram junto com o World Trade Center.

Os 658 mortos correspondiam a dois terços dos funcionários da Cantor locados na sede, em Nova York. Correspondiam, também a cerca de um quarto do total de 2.753 mortos no ataque. Nenhuma outra companhia sofreu tantas baixas com o ataque.


Um dia antes, a Cantor empregava um total de 2.100 pessoas. No dia 12 de setembro, eram apenas 1.422 – metade delas no escritório de Londres, e apenas 302 restavam em Nova York. Com a falta de comunicação e de informações, os escritórios de Paris e Frankfurt ficaram inoperantes. Sem contato temporariamente com Howard, Lee Amaitis, diretor das operações em Londres, assumiu a responsabilidade de reorganizar a empresa.

O que se seguiu, então, foi uma reação que, até hoje, impressiona os americanos. Relativamente pequena para os padrões de Wall Street, muitos apostavam que a Cantor não sobreviveria. Impedida de operar por questões que iam da falta de infraestrutura até de pessoal, a Cantor estava perdendo cerca de 1 milhão de dólares por dia, após os ataques.

Polêmica

Howard voltou à cena e tomou decisões polêmicas. A primeira foi cortar o pagamento às famílias das vítimas. Em vez de indenizações, o empresário propôs que aceitassem uma parcela dos lucros da empresa, que seriam distribuídos nos cinco anos seguintes. Além disso, todas as famílias receberiam assistência médica por dez anos.

Na época, a proposta chegou a ser chamada de “nojenta” por parentes das vítimas. Muitos diziam que a Cantor não sobreviveria e, portanto, não havia sentido nenhum em falar de lucros futuros.

O fato é que, já em outubro de 2001, a Cantor enviou a primeira parcela dos lucros para as vítimas – um cheque total de 45 milhões de dólares em bônus. A bolada arrefeceu a resistência. Hoje, muitas famílias são só elogios a Howard, e afirmam que ele tomou as decisões certas. O motivo é simples – o que a Cantor distribuiu para os parentes das vítimas, no tempo prometido, era mais do que receberiam em salários.

Do lado empresarial, a Cantor colocou seu sistema novamente em pé poucas semanas depois, usando, como base, as instalações da eSpeed, uma subsidiária da empresa especializada em plataformas de negociação.

Nos meses seguintes, Howard contratou pessoas aceleradamente para repor o quadro de funcionários. O executivo chegou a contratar dez em um só dia. Em dezembro de 2012, pouco mais de um ano após a tragédia, a empresa já contava com 750 funcionários em Nova York.


O segundo passo foi diversificar as atividades. Antes de 11 de setembro de 2001, a Cantor era conhecida por intermediar negócios no mercado de títulos públicos. Depois, Howard e Amaitis decidiram expandir o foco para o ramo de banco de investimentos.

Diversificação

Eles criaram outra empresa, a BGC Partners, que passou a responder pelos serviços de corretagem, e a Cantor restringiu-se a operar apenas as grandes negociações com ações, além de avançar como banco de investimentos.

A BGC iniciou, então, uma forte estratégia de aquisições. Em 2005, a empresa já contava com mais de 1.000 corretores. Sua fusão com a eSpeed, do mesmo grupo, foi avaliada pelo mercado como um negócio de 1,3 bilhão de dólares.

A Cantor não é listada em bolsa, por isso, há pouca informação financeira disponível. O NYT estima, porém, que a empresa fature cerca de 150 milhões de dólares por ano, com base nos escassos dados que coleta e nos bônus pagos às famílias das vítimas do 11 de setembro.

Dos 302 sobreviventes do ataque, apenas 74 continuam na empresa. Parte dos novos funcionários são filhos ou sobrinhos de quem perdeu a vida no ataque, há 12 anos. É a geração que reconstruiu a Cantor encontrando-se com a geração de quem vai levá-la adiante.

Acompanhe tudo sobre:11-de-SetembroAtaques terroristasBancosEstados Unidos (EUA)FinançasPaíses ricosServiçosTerrorismo

Mais de Negócios

A malharia gaúcha que está produzindo 1.000 cobertores por semana — todos para doar

Com novas taxas nos EUA e na mira da União Europeia, montadoras chinesas apostam no Brasil

De funcionária fabril, ela construiu um império de US$ 7,1 bilhões com telas de celular para a Apple

Os motivos que levaram a Polishop a pedir recuperação judicial com dívidas de R$ 352 milhões

Mais na Exame