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Ele viu o escritório afundar nas enchentes do RS. Mas aposta em IA para sair dessa — e crescer

Com crescimento no faturamento de 2023 para R$ 7,4 milhões, empresa entrou no ranking EXAME Negócios em Expansão

Vitor Tosetto, diretor de operações da Pix Force: a empresa está atuando emergencialmente numa sala de reuniões enquanto o novo escritório fica pronto (Leandro Fonseca/Exame)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de setembro de 2024 às 08h08.

Última atualização em 20 de setembro de 2024 às 08h43.

PORTO ALEGRE — No polo de inovação mais pujante do Rio Grande do Sul, o Instituto Caldeira , mais de 130 empresas se dividem em três andares com escritórios e espaços compartilhados. Por ali, grandes corporações trocam ideias com startups e empresas emergentes, com foco em desenvolver processos inovadores.

Localizado numa antiga fábrica num espaço conhecido como 4º Distrito, na Zona Norte de Porto Alegre, o Caldeira é um dos principais representantes de uma tentativa do Rio Grande do Sul de criar novas vocações econômicas — e usando tecnologia para isso. Ele é fruto de um trabalho de personagens importantes do PIB gaúcho para renovar o mercado no Estado.

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Mais recentemente, porém, o espaço virou símbolo de outro marco gaúcho. O primeiro andar do Caldeira foi tomado pelas águas do Guaíba com a pior enchente da história recente de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. O prejuízo estimado, só de infraestrutura, passa de 32 milhões de reais.

As empresas que lá estão também sofreram muito. De crédito para recuperação, todas elas, somadas, precisam de mais de 150 milhões de reais.

Uma das empresas selecionadas para o ranking EXAME Negócios em Expansão, o maior anuário de empreendedorismo do país, fica por ali. É a Pix Force, uma startup que usa inteligência artificial para analisar e interpretar imagens, sejam fotos ou vídeos, para facilitar o trabalho em fábricas e plantas industriais.

Criada há oito anos, a Pix Force teve seu escritório no Caldeira totalmente inundado pela enchente. Por ali, funcionava, além de parte da administração, toda oficina em que a startup equipava as câmeras para receberem a tecnologia desenvolvida pela empresa.

Quando a EXAME visitou a empresa no Caldeira em julho, a oficina estava sendo improvisada na casa de um dos funcionários e a startup usava uma sala de reuniões compartilhadas do hub como seu escritório. Mas já se preparava para se reerguer, agora no segundo andar do prédio.

“Não temos como voltar para o primeiro andar e arriscar sermos impactados novamente”, diz Vitor Tosetto, diretor de operações daPix Force: a empresa está atuando emergencialmente numa sala de reuniões enquanto o novo escritório fica pronto. “Por isso, vamos continuar aqui, mas agora no segundo andar”.

Enquanto se reerguem do baque da enchente, também atestam um aumento de demanda, provocado por uma maior busca das empresas por inteligência artificial e visão computacional. E contam, também, com a colaboração desses negócios para se reerguer.

“As empresas entenderam a situação”, diz. “Cemig, por exemplo, que era o maior projeto nosso, concordou em usar parte da verba do projeto para comprar novos equipamentos de novo. Os clientes estenderam os prazos dos projetos. O Google nos deu crédito para usar o sistema de cloud. Houve muita parceria”.

O que a Pix Force faz

A indústria tem um desafio e um foco bem claro para o futuro: quebrar a imagem de que é “quadrada” e adicionar cada vez mais tecnologia e inovação em seus processos. Isso vai da automação ao uso de realidade aumentada. Mais recentemente, também ganhou força a procura por inovação via inteligência artificial na indústria.

A Pix Force é a prova disso. Ela usa IA para analisar e interpretar imagens, sejam fotos ou vídeos, para facilitar o trabalho em fábricas e plantas industriais.

Um dos seus produtos, por exemplo, mapeia em tempo real se os funcionários estão usando equipamentos de proteção individual. Em outro serviço, é possível enviar fotos e a inteligência artificial faz a contagem de volume. Com isso, consegue, por exemplo, contabilizar estoque e fazer gestão de produtos.

O principal foco é fazer projetos personalizados para seus clientes, mas nos últimos meses, com a força da procura por projetos de inteligência artificial pelas indústrias, lançou produtos que podem ser facilmente instalados em diversos setores industriais. Com isso, quer ganhar escala e atender a demanda crescente por companhias em busca dessa tecnologia.

O resultado também está aparecendo no faturamento. Em 2023, a empresa faturou 7,4 milhões de reais, um crescimento de 26% em relação ao ano anterior. Com isso, a empresa entrou no ranking EXAME Negócios em Expansão, o maior anuário de empreendedorismo do país, na categoria de faturamento de 5 a 30 milhões de reais.

“Em 2018, quando eu entrei na startup, uma das minhas atividades era fazer a parte comercial também, e nenhum cliente sabia o que era visão computacional”, diz. “Hoje em dia, o pessoal já sabe o que é, os setores de inovação já estão maduros, já buscam soluções com visão computacional. Isso influenciou muito nosso crescimento”.

Veja imagens do Instituto Caldeira depois das enchentes no RS

Como a Pix Force surgiu

A empresa nasceu em 2015 pelas mãos dos sócios-fundadores Renato Gomes e Daniel Moura. Os dois se conheceram no casamento de um amigo em comum e tiveram a ideia de tocar o negócio. Moura trabalhava na área ambiental, em uma consultoria, fazendo análises de grandes áreas de plantação. Gomes, por sua vez, também trabalhava em grandes áreas, em uma mineradora. “Imagina fazer análise e inspeção de áreas tão grandes”, afirma Bischoff. “Eles pensaram que poderia haver uma maneira mais tecnológica do que ficar andando por vários hectares”.

A primeira ideia foi construir drones para fazer essa inspeção. Mas com a força chinesa do setor, ficou difícil competir. Foi quando pensaram que poderiam usar as imagens captadas por drones - e por outros equipamentos - para leitura automática de informações.

Entre os clientes da Pix Force estão a Petrobras, a CPFL, a Cemig e a Shell. Faturando 12 milhões de reais em 2023, a meta é chegar ao ano que vem batendo os 16 milhões de reais em receita. A estratégia principal vai ser consolidar os produtos lançados neste ano. “O grande objetivo ano que vem será aumentar a escala com esses dois produtos”, afirma Bischoff. “Aumentando a recorrência, teremos um bom acréscimo de faturamento”.

Como será o futuro da Pix Force

Os dois primeiros meses depois da enchente foram puxados para a empresa. O primeiro, principalmente porque mesmo os funcionários que não foram diretamente impactados sofreram psicologicamente com as enchentes.

“Você vê todas as notícias, os acontecimentos, fica sem água, sem energia, e isso te abala”, diz.

Diretamente, dois funcionários da empresa foram impactados, perdendo tudo que tinham. A Pix Force mobilizou uma vaquinha interna que arrecadou 12.500 reais para eles. A startup reforçou a doação com outros 12.500 reais.

Apesar disso, a equipe se mobilizou para continuar funcionando, com uma oficina temporária e com as vendas seguindo fora do Estado, onde estão os maiores clientes da companhia.

“O nosso time de vendas está de Santa Catarina pra cima, as coisas continuam normal”, diz. “O que atrasou foi nossa capacidade de entregar na mesma velocidade, mas todas as empresas se solidarizaram e entenderam nosso lado”.

O que é o ranking EXAME Negócios em Expansão

O rankingEXAME Negócios em Expansãoé uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.

Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.

A análise considerou os negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.

São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros.

Conheça o hub do projeto, com os resultados completos do ranking e, também, a cobertura total do evento de lançamento da edição 2024.

Negócios em Luta

A série de reportagensNegócios em Lutaé uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos doNegócios em Lutamostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande paranegociosemluta@exame.com.

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