Eike, retrato de uma era
A 34ª fase da Operação Lava-Jato, realizada ontem, mirou um alvo esperado, o ex-ministro Guido Mantega, mas jogou luzes num personagem inusitado: o empresário Eike Batista. Ele confessou ter pago 5 milhões de reais em dívida do PT com o marqueteiro João Santana. Seu depoimento aos investigadores serviu ainda para reforçar antigas suspeitas de favorecimento do governo às empresas de […]
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2016 às 06h56.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h32.
A 34ª fase da Operação Lava-Jato, realizada ontem, mirou um alvo esperado, o ex-ministro Guido Mantega, mas jogou luzes num personagem inusitado: o empresário Eike Batista. Ele confessou ter pago 5 milhões de reais em dívida do PT com o marqueteiro João Santana. Seu depoimento aos investigadores serviu ainda para reforçar antigas suspeitas de favorecimento do governo às empresas de seu conglomerado, o EBX.
Mantega foi preso, Eike saiu pela porta da frente mesmo com uma confissão de corrupção ativa. Não foi encarcerado por ter prestado “depoimento espontaneamente”, diz a Procuradoria da República no Paraná. “Isso não impede que ele seja investigado dentro da operação e que possíveis medidas cautelares contra ele possam ser tomadas, se consideradas necessárias”.
Eike pregava a força do mercado de capitais, mas, para expandir seus investimentos, manteve contato próximo ao BNDES. Recebeu mais de 10 bilhões de reais do banco de fomento para ampliar investimentos até 2013. Na esteira do crescimento de seus negócios, Eike chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, com fortuna de 30 bilhões de dólares.
“Eike é símbolo desse capitalismo de laços espúrios que se mostrou difundido na economia brasileira, conectando o sistema empresarial às doações da campanha, tudo para ter acesso à máquina pública e distribuir benefícios”, afirma o economista Sérgio Lazzarini, professor do Insper e pesquisador da relação entre setor público e privado.
Em 2012, quando diz ter feito a doação a Mantega, Eike já estava em queda livre. Pouco a pouco, ficou claro que ele montou um império focado em poços de petróleo pouco produtivos. Virou alvo de duas ações penais, por uso de informação privilegiada e manipulação de mercado, por ter usado uma suposta influência de seu pai, ex-ministro de Minas e Energia, para dar segurança aos investidores. Agora, pode acabar preso por uma doação de 5 milhões de reais. Eike foi símbolo do Brasil maravilha, virou retrato do Brasil que não chegou lá e, agora, volta a simbolizar uma outra, e espúria, faceta do país.