3corações: O plano da gigante do café pós-aquisições
“Queremos nos consolidar como uma empresa de alimentos", diz o presidente do grupo, Pedro Lima
Mariana Desidério
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2020 às 10h26.
O ano de 2020 mal começou e o grupo 3corações, maior empresa de café do país, já anunciou duas aquisições. No início de fevereiro, comprou metade da Positive Brands, dona da marca A Tal da Castanha, focada em bebidas vegetais. Anteontem veio o anúncio da compra da divisão de café do grupo japonês Mitsui, dono do Café Brasileiro, por 210 milhões de reais.
A compra da Mitsui Alimentos foi uma oportunidade de negócio. O grupo japonês tinha interesse em sair do setor de alimentos no Brasil, e a 3corações entrou na disputa. Além da marca Café Brasileiro, que é forte na região Centro-Oeste e no interior de São Paulo, levou também as marcas .br Gold (de café especial), 3 Fazendas, Premiado, Café Superior e Bandeira, além de linhas de solúveis, achocolatados e cápsulas. A Mitsui Alimentos tem 3,8% do mercado de café do país.
A ideia da 3corações é manter as marcas recém adquiridas e fortalecê-las. “Quando compramos o café Pimpinela, a marca tinha 8% do mercado no Rio de Janeiro. Hoje tem mais de 20%. Temos experiência em criar valor e melhorar as marcas que a gente adquire”, afirmou Pedro Lima em entrevista a EXAME.
Diversificar para crescer
Já a compra da Positive Brands vai ajudar o grupo na expansão de seu portfólio de produtos, um movimento iniciado há alguns anos pela companhia. Além das marcas de café, o grupo 3corações possui negócios como a Frisco, de refrescos, e a Kimimo, de milho de pipoca. “Queremos nos consolidar como uma empresa do setor de alimentos. Vamos crescer em café, mas também em outros negócios que nos ajudem a fortalecer o faturamento”, afirma Lima.
A diversificação é importante para ajudar a empresa a enfrentar um desafio do setor: a redução do preço do café. Em 2019, o faturamento da 3corações ficou em 4,9 bilhões de reais, um pouco abaixo da meta de 5 bilhões de reais estabelecida pela companhia. A explicação, segundo Lima está principalmente na pressão sobre o preço do café.
Este ano, a meta é recuperar os preços perdidos no final do ano passado, período em que a companhia concedeu descontos para manter os clientes. O objetivo para 2020 é faturar cerca de 5,2 bilhões de reais. O café torrado e moído responde hoje por 70% do faturamento da companhia.
E-commerce e cápsulas
Segundo Pedro Lima, a temporada de compras da 3corações em 2020 está encerrada. O momento é de consolidar as aquisições feitas e desenvolver projetos internos que já estavam em andamento. Um deles é o e-commerce da companhia, que será lançado em abril. A 3corações já tem um canal de vendas pela internet, mas agora trabalha para internalizar a operação, ampliando as possibilidades de ganhos.
A plataforma vai atender tanto clientes corporativos quanto o consumidor final, beneficiando-se da capilaridade da estrutura logística da companhia, que tem 28 centros de distribuição pelo país. A ideia com o e-commerce é focar principalmente na venda de produtos com maior margem, como as máquinas, cápsulas e os cafés especiais. “Queremos aumentar a venda da família de produtos com maior valor agregado”, diz Lima.
O segmento de cápsulas da 3corações cresceu mais de 17% em 2019 e a companhia está ampliando a capacidade de produção de sua fábrica de cápsulas em Montes Claros (MG) -- a partir de junho de 2020, a unidade terá capacidade para produzir 300 milhões de cápsulas por ano. O grupo se prepara ainda para lançar mais uma linha de máquinas de café expresso.
Os movimentos de expansão da companhia apontam em direção a uma futura oferta de ações, ainda que distante. O IPO não está no horizonte nos próximos quatro anos, mas não é um movimento descartado. “Não é algo que está no radar do conselho de administração no momento, mas o caminho de uma empresa madura é esse. Tudo é possível”, afirma Lima.