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Documento da Perdigão não basta para recusar oferta da Sadia

Segundo a CVM, comunicado apresentado pela direção da empresa não é suficiente para caracterizar a rejeição da proposta

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apimentou ainda mais a disputa pelo controle da Perdigão. Nesta quarta-feira (19/7), o órgão informou que a documentação apresentada pela Perdigão é insuficiente para caracterizar a recusa, por parte de seus acionistas, da oferta hostil de compra lançada no início desta semana pela Sadia. Para a CVM, é necessário que os sócios "confirmem, de maneira inequívoca, que rejeitaram a oferta". A comissão notificou os acionistas que - segundo a Perdigão já recusaram a oferta - a expressar sua vontade adequadamente.

Segundo as autoridades, o documento encaminhado à CVM e ao mercado é apenas uma ata de reunião em que se discutiu a necessidade de contratação, pelo conselho de administração da Perdigão, de um laudo de avaliação do preço da empresa, como determina a proposta da Sadia. A CVM afirma que a única manifestação referente à oferta, neste documento, é uma passagem no final da ata, em que os participantes do encontro declaram, apenas, que o preço de 27,88 reais por papel, oferecido pela Sadia, não atende às suas expectativas.

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Nova oferta

Além de cobrar uma recusa inequívoca por parte dos acionistas e da Perdigão, a CVM também decidiu notificar a Sadia para que a empresa redefina as condições da proposta de compra, caso 50% dos acionistas realmente não queiram vender suas ações. A Sadia terá 24 horas para apresentar uma nova proposta ou desistir da oferta - prazo que começa a contar a partir da divulgação pela Perdigão de "instrumentos que comprovem a recusa por acionistas titulares de mais de 50% das ações". Se isso não ocorrer, a comissão afirma que a proposta perderá automaticamente sua validade. No comunicado de hoje, a CVM lembra que o edital da oferta pública estabelece que a proposta perde validade se mais da metade dos acionistas recusarem-na, ou se a própria Sadia não modificar o edital para se adequar a essa situação.

O comunicado da CVM surtiu os primeiros efeitos. No início da noite desta quarta-feira, a Perdigão encaminhou novo fato relevante à comissão, no qual anexou as cartas dos oitos acionistas que ainda não haviam se manifestado contrariamente à proposta: Previ, Petros, Sistel, Fapes, Valia, Real Grandeza, Mellon e Previ-Banerj. As cartas são datadas de hoje. Durante o dia, a companhia já havia enviado as manifestações da Weg e da PSPP, datadas de ontem, mas só remetidas à CVM nesta quarta-feira. Em todos os casos, a recusa é justificada pelo fato de a oferta não "atender às expectativas" dos acionistas. Espera-se, agora, que a CVM informe se a documentação apresentada satisfaz às suas exigências.

Longe do fim

Para o mercado, a batalha pela Perdigão ainda está longe de terminar. Assim como a recente união da Mittal Steel com a Arcelor, cujo início foi uma oferta hostil de compra lançada pela Mittal e que se desdobrou em meses de disputas, aproximações e revezes, os especialistas apostam que a Sadia conseguirá derrubar as objeções legais levantadas pela Perdigão e manterá seu propósito de controlar a concorrente. "A reação da diretoria da Perdigão mostra que a empresa está à venda. Tudo agora é uma questão de preço", afirma um analista que prefere não ser identificado.

Os especialistas apostam que a Sadia irá reformular sua oferta, a fim de se aproximar do preço desejado pelos investidores. Nos dois últimos dias, o presidente-executivo da Perdigão, Nildemar Secches, insistiu que o valor estava abaixo do esperado. Secches citou relatórios de mercado que indicam um forte potencial de valorização das ações da companhia até dezembro. A cotação ficaria entre 35 reais e 37 reais.

A reapresentação da oferta, porém, não será fácil. Os 3,7 bilhões de reais que a Sadia deseja pagar pela Perdigão contemplam 2,7 bilhões de um empréstimo do ABN Amro Real. O banco aprovou uma linha de crédito total de 4 bilhões de reais. Seria possível, então, que a Sadia aumentasse em cerca de 1 bilhão de reais sua oferta, sem precisar recorrer a novas fontes de capital. Mas, mesmo uma oferta próxima de 4,7 bilhões equivaleria a cerca de 35 reais por ação - na faixa inferior das projeções dos analistas para a cotação de dezembro. "Temos que lembrar que a Sadia quer o controle da empresa. Todo acionista vai desejar, então, um prêmio de controle", afirma um analista. Logo, há o risco de os investidores pedirem ainda mais por seus papéis.

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