Depois de 10 anos, família fundadora volta ao comando da Casas Bahia
Para o Casino, controlador do GPA, a venda à família Klein representa o fim de uma saga que começou há dois anos
Karin Salomão
Publicado em 15 de junho de 2019 às 06h00.
Última atualização em 15 de junho de 2019 às 06h00.
Dez anos depois de vender o controle da varejista Casas Bahia para o Grupo Pão de Açúcar, a família Klein retomou o controle da companhia. Em um leilão ontem, 14, que movimentou 2,3 bilhões de reais, o empresário Michael Klein, ao lado de fundos de investimento, adquiriu a participação da rede de varejo GPA na Via Varejo, dona da Casas Bahia, Ponto Frio e Extra.com.br.
Para o Casino, controlador do GPA, a venda à família Klein representa o fim de uma saga que começou há dois anos e concretiza o objetivo da companhia de sair do setor de eletrodomésticos, segmento em que não tem tradição.
A Via Varejo foi criada em 2009 com a fusão da Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar, que já havia comprado o Ponto Frio seis meses antes. Na época, Abilio Diniz e Michael Klein estavam à frente das duas companhias. O acordo inicial previa que a família Klein assumiria 49% da nova empresa. Abilio e o Pão de Açúcar ficariam com 51%.
Ainda que o casamento das duas empresas tenha criado o maior grupo varejista do país, então com faturamento de 40 bilhões de reais, a relação foi conflituosa desde o começo.
Meses depois da assinatura da venda, a família Klein pediu a revisão do contrato, questionando o valor dos ativos das Casas Bahia e o cronograma de integração.
Em sigilo, os dois lados passaram a defender interesses distintos logo após o anúncio do negócio. Em entrevista a Exame na época das disputas, Michael Klein afirmou que "o contrato não reflete tudo o que foi negociado pelos controladores dos dois grupos”.
A briga esquentou depois que Samuel Klein, patriarca e fundador da Casas Bahia, tomou a frente das negociações com Abilio, ao lado do filho Michael. A família Klein chegou a ameaçar desfazer o negócio e acionar o Pão de Açúcar em uma câmara de arbitragem.
Em julho de 2010 os empresários anunciaram um novo acordo. O Pão de Açúcar fez uma capitalização adicional de cerca de 700 milhões de reais na Nova Casas Bahia e o poder passou a ser mais compartilhado entre os sócios. Os Klein passaram a ter direito a veto nas decisões estratégicas.
Mas a briga estava longe do fim. O GPA questionou a gestão da Via Varejo feita pelo neto de Samuel, Raphael Klein, então presidente da companhia, e ele foi substituído por um executivo de mercado em novembro de 2012.
A família tentou recomprar o controle, mas acabou optando pela solução oposta. Vendeu metade de suas ações na Bolsa de Valores e teve sua participação na empresa reduzida.
Nova fase
Os herdeiros de Klein, que faleceu em 2014 partiram para outros negócios. Investiram em imóveis, transporte aéreo e venda de automóveis. É Michael quem administra os negócios da família, reunidos em torno do grupo CB (sigla para Capital Brasileiro, apesar da coincidência com Casas Bahia).
Se a Casas Bahia foi criada para atender a classe C, a CB busca um público totalmente diferente. É dona de uma empresa de táxi aéreo e de uma concessionária de carros de luxo da Mercedes-Benz, além de alugar terrenos, galpões e imóveis.
Uma das empresas do grupo, a Icon Aviation nasceu da união de dois dos maiores players no mercado brasileiro: CB Air e Global Aviation. Inspirada na NetJets, do investidor americano Warren Buffett, a empresa de táxi aéreo de Michael também quer compartilhar e cuidar de naves para uso de terceiros. Tem três jatos executivos e quatro helicópteros, dois hangares (Campo de Marte, região Norte de São Paulo e em Sorocaba, SP) e dois helipontos (Alphaville e São Caetano do Sul, SP).
A divisão imobiliária é a maior e mais antiga. Foi criada nos anos 1960 para viabilizar aquisições de imóveis para instalação das lojas de Casas Bahia e de Centros de Distribuição da rede como suporte de sua logística própria. E, 2011 passou a ser uma unidade independente. São mais de 440 propriedades. É dono, inclusive, de imóveis ocupados pela Via Varejo.
Agora, o grupo tem uma nova velha empresa nas mãos. A Via Varejo precisa implementar mudanças rápidas para melhorar os resultados de sua operação online. Também precisa correr atrás da concorrente gigante Magazine Luiza, que acaba de adquirir a Netshoes.