Como esta empresa de SC levantou R$ 820 milhões no maior aporte em startups do ano
Cheque é liderado pela gestora de venture capital Bond, com a participação do SoftBank, 23S Capital e Endeavor Catalyst
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de outubro de 2024 às 11h30.
Vem de Joinville, cidade catarinense a 183 quilômetros de Florianópolis, o maior aporte do ano em uma startup até agora. A fintech Asaas anunciou, nesta terça-feira, 8, a captação de 820 milhões de reais numa rodada Série C. O cheque é liderado pela gestora de venture capital Bond, com a participação do SoftBank, 23S Capital e Endeavor Catalyst.
A ideia é usar a grana para expandir globalmente, acelerar a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos e ir às compras, para adquirir novas empresas.
Por trás do maior cheque do ano, também está o principal plano do Asaas, antecipado pela EXAME no final de setembro: o de abrir capital e ser listado em bolsa.
“Atingimos o break even em maio do ano passado, mas neste ano estamos com um feito melhor: tivemos lucro todos os meses, e vamos gerar caixa e lucro contábil o ano inteiro”, disse Piero Contezini, presidente do conselho da companhia, em entrevista recente à EXAME. “Isso significa que estamos a caminho de abrir o capital da companhia. Nosso maior trabalho, atualmente, está relacionado em construir um negócio para fazer o IPO”.
A fintech é uma conta digital para pequenas e médias empresas. O principal foco dela é automatizar processos de gestão financeira, principalmente cobranças. Há outros serviços, como emissão de nota fiscal e antecipação de recebíveis do cartão de crédito. O principal cliente é a empresa de pequeno e médio faturamento, com receitas de até 5 milhões de reais.
Foi o foco em PMEs que chamou a atenção das empresas responsáveis pelo cheque na catarinense.
“Asaas está na vanguarda de uma onda de digitalização financeira para PMEs na América Latina”, disse o General Partner da Bond, Daegwon Chae. “A tecnologia deles introduz simplicidade, consistência e personalização dos componentes fundamentais das operações de qualquer negócio – recebimento e gestão de caixa. A contínua inovação em áreas de fluxos de trabalho automatizados, software de gestão e banco digital destaca a extensibilidade de sua plataforma e a amplitude de sua visão”.
O capital será utilizado para expandir as operações da empresa, acelerar os esforços de pesquisa e desenvolvimento e fomentar o crescimento inorgânico por meio de novas aquisições, permitindo ao Asaas ampliar rapidamente seu portfólio de soluções.
O uso de inteligência artificial para ajudar na vida financeira das PMEs também foi outro ponto importante para a empresa receber o aporte.
“Acreditamos fortemente na visão deles em usar inteligência artificial para gerar valor e eficiências para pequenas e médias empresas, avançando em sua jornada de crescimento”, afirma Rodrigo Costa, sócio do SoftBank Latin America Funds.
“A sensação é a de que eles estão apenas começando. Estamos muito empolgados com essa parceria”, diz Alex Szapiro, managing partner do SoftBank na América Latina.
Qual é a estratégia de crescimento
Para impulsionar a expansão global do Asaas, a empresa irá fortalecer suas equipes de vendas e marketing para aumentar a presença no mercado e alcançar novos públicos em diferentes regiões.
O Asaas pretende ultrapassar 1 bilhão de reais em receita anual até 2026 e alcançar mais de 2 bilhões de reais até 2027.
No último ano, a fintech faturou 216,9 milhões de reais em 2023 - um crescimento de 82% frente a 2022. Com isso, foi a sétima empresa que mais cresceu entre aquelas que faturam de 150 a 300 milhões de reais no ranking EXAME Negócios em Expansão 2024, o maior anuário de empreendedorismo do país. Para 2024, o foco é chegar a 400 milhões de reais em receita e 180.000 clientes ativos.
Até hoje, o Asaas recebeu aproximadamente R$150 milhões em investimentos ao longo dos últimos 10 anos, abrangendo rodadas Seed, Série A e Série B, e cresceu a uma taxa média de mais de 100% ao ano nos últimos cinco anos.
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Projeto de tentativa e erro
Qual é a receita para crescer? Para algumas empresas, é ter um caixa bem controlado. Para outras, é conseguir expandir sem alavancar de maneira excessiva. Há também quem defenda que é necessário equilibrar eficiência operacional com inovação constante. A lista é grande: otimização de processos internos, capacidade de adaptação a mudanças, sustentabilidade a longo prazo, e por aí vaí.
No Asaas, a receita para crescer foi transformar a operação num grande laboratório de testes. É o que diz o presidente executivo e fundador, Piero Contezini.
“O principal motivo de crescer é que somos fanáticos em fazer teste”, afirma. “Toda empresa é executada como um grande laboratório. Fazemos testes de produtos, de lançamentos. Anunciamos produtos diferentes para bases diferentes e vemos qual tem mais engajamento. Toda empresa, de conselho até a galera mais operacional possível, entende que o negócio roda com base em testes”.
Como o Asaas funciona
O Asaas é uma conta digital para pequenas e médias empresas fundada em Joinville. O principal foco da fintech é automatizar processos de gestão financeira, principalmente cobranças.
Na prática, uma empresa passa as informações de cobrança à startup, que utiliza tecnologia para cobrar os clientes. Além de cobrar em si, toda a gestão do dinheiro pode ser feita dentro do Asaas. Assim, quando o cliente paga, o dinheiro cai na conta da empresa no Asaas.
A cobrança é feita por ligações automáticas, envios de SMS e e-mail. Quando a pessoa é cobrada, ela pode escolher como quer pagar: no Pix, no boleto, no cartão de crédito ou no débito.
Há outros serviços, como emissão de nota fiscal e antecipação de recebíveis do cartão de crédito. O principal cliente é a empresa de pequeno e médio faturamento, com receitas de até 5 milhões de reais.
“Mas atendemos todos os tipos, inclusive pessoas físicas”, diz Diego Contezini, irmão de Piero. “Se quiser cobrar o churrasco dos vizinhos, pode utilizar a plataforma. Coloca quanto cada um precisa pagar, e a gente envia as opções de pagamento. Vamos avançar em tudo que podemos para não ter qualquer outro fornecedor”.
Hoje em dia, a empresa tem cerca de 166.000 clientes ativos.
Como o Asaas fatura
A receita do Asaas vem de duas formas diferentes:
- On demand: as cobranças são personalizadas de acordo com o que o cliente da fintech precisa usar. Quando são transações que para o pagador não tem custo, como Pix ou Boleto, é cobrada uma taxa fixa de 1,99 reais. Para o cartão de crédito, um percentual. Com nota fiscal, a mesma coisa: se emite a nota com sucesso, é cobrado.
- Crédito para empresas: essa funcionalidade, que vem sendo adotada pelo Asaas, diversifica também a entrada de receita. Aqui, é cobrada uma taxa de juros para que o cliente antecipe o recebível do cartão de crédito.
Qual a história por trás do Asaas
O Asaas foi criada em família, pelos irmãos Diego e Piero Contezini. E a tecnologia está mesmo na veia: o pai mexia com computação desde a época do cartão perfurado. “A gente brincava de esconde-esconde naqueles computadores gigantes”, diz Diego.
A paixão pela tecnologia aflorou cedo e seguiu ao longo da vida. Se formaram na área e atuaram em negócios como a fábrica de software, que deu origem, depois, ao Asaas.
“Tivemos a sorte que quiseram dar dinheiro para aquilo que éramos apaixonados em fazer, que é a tecnologia”, diz.
O que é o ranking EXAME Negócios em Expansão
O rankingEXAME Negócios em Expansãoé uma iniciativa da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME). O objetivo é encontrar as empresas emergentes brasileiras com as maiores taxas de crescimento de receita operacional líquida ao longo de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou as empresas brasileiras que mais conseguiram expandir receitas ao longo de 2023.
A análise considerou os negócios com faturamento anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais. Após uma análise detalhada das demonstrações contábeis das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho.
São 371 empresas de 23 estados brasileiros que criam produtos e soluções inovadoras, conquistam mercados e empregam milhares de brasileiros.