Como a Toyota se prepara para o futuro sem carros
Maior montadora da Ásia, a Toyota se prepara para um futuro no qual carros autônomos e economia compartilhada ameaçam modelo de propriedade de veículos.
Mariana Desidério
Publicado em 29 de setembro de 2018 às 07h00.
Última atualização em 29 de setembro de 2018 às 07h00.
Maior montadora da Ásia, a Toyota Motor se prepara para um futuro no qual as pessoas não comprarão carros.
É este o raciocínio por trás dos enormes investimentos da companhia japonesa em serviços de transporte individual, em especial a aposta de US$ 1 bilhão na Grab, líder do segmento no Sudeste Asiático. Para a Toyota, a parceria é uma oportunidade para fazer com que a Grab compre mais automóveis da marca e para oferecer serviços como seguro e manutenção de veículos, explicou Shigeki Tomoyama, responsável global pela divisão de carros conectados da Toyota, em entrevista realizada em Nagoia.
O pacto com a Grab, sediada em Cingapura, é o pilar na Ásia da estratégia da Toyota de se aliar às maiores empresas de transporte individual de cada região e então integrar seu hardware e software em seus serviços. A Toyota tenta ficar à frente de montadoras rivais diante de um futuro incerto, no qual carros autônomos e economia compartilhada ameaçam o modelo tradicional de propriedade de veículos.
“Reconhecemos que os que atuam com mobilidade como serviço controlam grandes números de motoristas e usuários e estão ganhando supremacia sobre seus sistemas de transporte locais”, disse Tomoyama, que agora tem um assento no conselho de administração da Grab. “Não é realista para nós tentar montar um serviço de aluguel de automóveis ou transporte individual do zero em um mercado como os EUA ou a Ásia.”
Tomoyama quer que a Grab passe a alugar a seus motoristas quase exclusivamente veículos Toyota, disse ele. Atualmente, são três da marca a cada cinco locados. A montadora também pretende instalar aparelhos que gravam dados em todos os 7.000 carros da frota de locação da divisão GrabRentals em Cingapura até o fim de março e então expandir a iniciativa para o resto da região. Isso ajudará a Toyota a oferecer serviços como seguro e manutenção aos motoristas por meio do sistema de veículo conectado.
Na Uber Technologies, a Toyota despejou meio bilhão de dólares no mês passado e está desenhando uma minivan para o projeto robô-táxi da empresa. Na China, Tomoyama discute com a Didi Chuxing o tipo de automóvel ideal para uma possível colaboração, mas ainda não chegou a ponto de considerar um investimento.
A Toyota não está sozinha. A Hyundai Motor também investiu uma quantia não revelada na Grab como parte de um acordo para colocar carros menos nocivos ao meio ambiente na frota da GrabRentals. A Honda Motor também investiu na companhia.
Fora da Ásia, a General Motors injetou meio bilhão de dólares na Lyft em 2016 e trabalha em um projeto de robô-táxi com a divisão de automação. Daimler e BMW fizeram a fusão de suas operações de carros compartilhados neste ano, após montarem diversos empreendimentos de transporte individual.
Para o presidente da Toyota, Akio Toyoda, a mudança ameaça a própria sobrevivência da companhia que seu avô fundou em 1937 e o plano é transformá-la em provedora de serviços de mobilidade.
Tomoyama entende que a área de tecnologias avançadas da Uber – que faz as pesquisas com carros autônomos – é essencial para o valor da empresa e que as duas parceiras têm expectativas elevadas uma da outra.
Ele conta que a Toyota acelerou o processo decisório ao adotar outra abordagem hierárquica. Ele e seus seis diretores executivos mantêm contato constate via rede social, o que Tomoyama considera uma enorme mudança.
“Todas as questões centrais são decididas por mensagem instantânea”, ele disse.