Exame logo 55 anos
Remy Sharp
Acompanhe:
seloNegócios

A Brasil Paralelo começa 2023 com um desafio para lá de particular: mostrar que é uma mediatech, e não um braço de conteúdo do bolsonarismo. A companhia, criada há seis anos em Porto Alegre, tem uma ampla e bem equipada sede, na Avenida Paulista, em São Paulo. E fechou 2022 com uma marca de causar inveja nos principais veículos de mídia do Brasil: ultrapassou a marca dos 500 mil assinantes.

O ritmo é intenso. A empresa voltou a dobrar de tamanho em 2022, passando de R$ 67 milhões para R$ 150 milhões de faturamento. A receita vem da enorme leva de clientes interessados em pagar para consumir seus documentários, sua curadoria de conteúdo e seus cursos. A empresa segue fiel a seus princípios de não receber recursos públicos ou incentivos governamentais. Mas sabe que para manter o ritmo precisará ampliar o foco, tanto de temáticas quanto de estratégia. Publicidade é uma possibilidade no futuro, por exemplo.

Quando a EXAME visitou a sede da empresa, no início de fevereiro, seus designers e editores trabalhavam na finalização de uma série de documentários sobre o Carnaval. A pegada visa reforçar a linha editorial conservadora. Em linhas gerais, liberdades que antes ficavam restritas aos dias de folia agora teriam invadido o dia a dia. O tom de crítica está lá; o apuro técnico e o cuidado no lançamento, também.

"O público da empresa sempre fomos nós, que não éramos de esquerda. Somos liberais na economia e conservadores nos costumes. Mas não somos a direita pró-ditadura. O mundo tem mais matizes", diz Henrique Viana, fundador e CEO da Brasil Paralelo. A empresa foi bastante criticada nos últimos anos por conteúdos como o documentário 1964: o Brasil entre armas e livros, que relativizam o golpe militar de 1964 e a ditadura.

A Brasil Paralelo, Viana faz questão de pontuar, nasceu antes do fenômeno do bolsonarismo, em 2016, no caldeirão do impeachment de Dilma Rousseff. A ideia era oferecer cursos e conteúdo de cultura e política para uma franja da população que, mais tarde, abraçaria Bolsonaro com fervor. "Não somos intelectuais. Somos tradutores de um conteúdo que estava disperso", diz Viana.

"Queríamos mostrar que o impeachment não ia resolver."Henrique Viana

O primeiro produto de sucesso foi uma série de documentários chamada Congresso Brasil Paralelo, que visava "fazer o maior diagnóstico já feito sobre a situação econômica, política e cultural do Brasil". O documentário era gratuito, mas o material complementar custava R$ 300, o suficiente para faturar R$ 1,3 milhão em 15 dias.

O modelo de negócios de documentários gratuitos e conteúdo complementar pago se manteve até 2020. As ofertas incluíam cursos para públicos nichados, como aulas sobre a formação do estado. Com Bolsonaro já no poder, a companhia teve um ano difícil em 2019. "Quase quebramos", diz Viana. Para voltar a crescer, a estratégia foi ampliar a sua oferta de valor mostrando que era "relevante" para seu público. O "Plano Patriota", sucesso instantâneo de vendas, custava R$ 10 por mês.

Em 2021, a Brasil Paralelo entrou no streaming, e passou a oferecer assinaturas que incluem filmes, séries e desenhos animados em parceria com grandes estúdios. A Sony foi o primeiro cliente. A proposta é oferecer conteúdo selecionado para o público conservador nos costumes e alinhado a uma direita liberal. "Resgatar os bons valores, ideias e sentimentos nos brasileiros", como diz o material de divulgação da companhia. Valores e sentimentos, claro, dentro do viés que a companhia julga os melhores para seu público. Todos os filmes, que incluem até a série Rocky, têm um vídeo de introdução dizendo por que o conteúdo é relevante, e uma análise posterior. "Ficção é a ferramenta mais poderosa de engajamento", diz Viana.

A companhia está produzindo seus próprios filmes de ficção. A estreia está prevista para até junho, com Oficina do Diabo, uma adaptação de Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, de C.S. Lewis. O diretor é Filipe Valerim, sócio-fundador da Brasil Paralelo. Na seleção do elenco e de fornecedores a empresa encarou desafios por sua postura política. Alguns atores e produtores não toparam participar. É uma situação com a qual os sócios estão acostumados, e não veem como um problema que coloque a empresa em risco.

O plano não é mudar a linha editorial para seguir crescendo. Mas evitar polêmicas, reconhece Viana, é essencial daqui para a frente "Polêmica cria problema para a empresa e o cliente", diz. "Temos compromisso de educar o público, com análises atemporais". De outubro para cá, desde que Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, a Brasil Paralelo foi criticada por parte de seu público por conteúdos sobre temas menos quentes, digamos assim, como futebol e Varig.

A estratégia de sair dos holofotes foi proposital. Em outubro, às vésperas da eleição presidencial, o Tribunal Superior Eleitoral determinou a suspensão da exibição do documentário Quem mandou matar Jair Bolsonaro?, e suspendeu também a monetização dos canais da empresa. A Brasil Paralelo também tirou do ar um documentário sobre os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. Os projetos, hoje, são vistos como "imprudência", pela companhia.

Como seguir engajando o público com pautas menos polêmicas é um desafio em aberto. O próprio conceito de o que é uma pauta polêmica é amplo. Em fevereiro, a empresa lançou um documentário sobre a Nicarágua, país que vem sendo tema de intenso debate entre direita e esquerda por prender e perseguir religiosos e intelectuais. O documentário Nicarágua — Liberdade Exilada, é uma grande aposta para este primeiro trimestre. Estão no forno ainda projetos sobre a história do comunismo, a história do Exército e sobre a "nova direita brasileira".

A Brasil Paralelo fechou janeiro com 555 mil assinantes, e projeta faturar R$ 250 milhões. A meta de longo prazo é das mais ambiciosas: ser a Disney brasileira. "Eles contaram a história de Hamlet com o Rei Leão. É isso que queremos fazer", diz Viana. Roberto Marinho, criador da Rede Globo, é uma de suas inspirações.

No curto prazo, os desafios estão batendo à porta. A empresa reduziu nas últimas semanas o quadro de funcionários de 292 para 240 no que chama de "adaptação à realidade atual". Anualmente, 20% do caixa é distribuído em bônus, e 20 dos funcionários já se tornaram sócios. O objetivo é abrir o capital e ir além do Brasil nos próximos anos.

Ser vista como uma empresa normal, que educa e engaja seu público, que tem ambições enormes para o negócio, mas que não insufla as massas. E mostrar que os ajustes de curto prazo não comprometem os objetivos para os próximos meses e anos. Eis os desafios da Brasil Paralelo de 2023 para frente. Não são poucos.

Créditos

Últimas Notícias

ver mais
Quem é o brasileiro que assumiu como CEO da maior empresa de tabaco do mundo
seloNegócios

Quem é o brasileiro que assumiu como CEO da maior empresa de tabaco do mundo

Há 7 horas
Na era dos leads, agência MGNT nasce para valorizar branding e comunicação
seloNegócios

Na era dos leads, agência MGNT nasce para valorizar branding e comunicação

Há 8 horas
Chips de IA generativa: como o CEO da Nvidia ganhou R$ 32,5 bilhões em um dia
seloNegócios

Chips de IA generativa: como o CEO da Nvidia ganhou R$ 32,5 bilhões em um dia

Há 12 horas
“Ninguém está interessado em bater papo com uma lata, por mais inteligente que essa lata pareça”
seloNegócios

“Ninguém está interessado em bater papo com uma lata, por mais inteligente que essa lata pareça”

Há 12 horas
icon

Branded contents

ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

leia mais