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Cogna tem prejuízo de R$ 452 milhões e vai reestruturar ensino superior

Companhia também teve queda de 21% na receita; para estancar a inadimplência adotou medidas mais restritivas de rematrícula, o que gerou mais evasão

Sala de aula da Anhanguera: Cogna teve prejuízo maior que o esperado (Germano Lüders/Exame)

Sala de aula da Anhanguera: Cogna teve prejuízo maior que o esperado (Germano Lüders/Exame)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 11h15.

Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 12h41.

A empresa de educação Cogna teve prejuízo no segundo trimestre, fortemente afetada pela queda de receita e aumento da inadimplência diante dos efeitos da pandemia do coronavírus. A companhia, que reúne as marcas Kroton, Vasta, Saber e Platos teve prejuízo de 452 milhões de reais, ante lucro de 140 milhões no mesmo período do ano anterior.

O principal problema da Cogna está em sua operação de ensino superior, que vem perdendo margem ao longo dos anos. Em comunicado aos acionistas, a companhia afirma que “a operação presencial da Kroton demandará um amplo processo de reestruturação para se adequar à nova realidade do mercado”.

A mudança inclui redução no tamanho da operação, redução da quantidade de unidades, reposicionamento de portfólio com foco em cursos mais nobres e reposicionamento de marca em algumas praças, visando o foco em produtos premium. Com isso, a expectativa é ter mais margem e geração de caixa.

A reestruturação é fruto das mudanças no mercado ocorridas no contexto da pandemia, que prejudicou especialmente os cursos presenciais. Além disso, responde a uma crise mais antiga do setor, que vem sofrendo há anos com a redução do FIES, o programa de financiamento estudantil do governo. “Unidades de ensino presencial pequenas sofreram com a redução de alunos do FIES, mas a tendência a partir de 2021 também era positiva. A pandemia mudou completamente essa dinâmica. O aluno, antes resistente ao ensino digital, agora prefere um curso híbrido equivalente, pois percebeu que esse curso pode entregar qualidade, com menor custo”, diz a companhia.

A companhia também anunciou o fim do Parcelamento Especial Privado (PEP). O programa de parcelamento próprio da Cogna tinha como objetivo atender à demanda dos alunos, devido à redução do FIES. Mas trazia como problema o risco da inadimplência. A estratégia da Cogna é reforçar os cursos digitais, cuja mensalidade é mais barata. “Para a instituição de ensino superior, apesar do menor ticket, esse movimento leva a maiores margens, maior conversão em caixa e redução sensível do contas a receber”, diz a companhia.

A Cogna adotou medidas mais restritivas de rematrícula, evitando que débitos antigos fossem renovados, o que no curto prazo gerou aumento da evasão e das provisões para perdas, mas que "a base remanescente é mais saudável e permite resultados em patamares mais sustentáveis no longo prazo", disse a empresa. A Cogna disse ainda que, como consequência da pandemia, aluno antes resistentes ao ensino digital agora prefere um curso híbrido equivalente, por isso aproveitará "para fazer a maior e mais impactante mudança no segmento de ensino superior já conduzida pela empresa".

A receita líquida da companhia também caiu, com redução de 21% na comparação anual, para 1,37 bilhão de reais, refletindo a queda do faturamento no ensino superior, a maior evasão dos alunos do ensino infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, explicou a empresa. O resultado operacional medido pelo lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), foi negativo em 139,5 milhões de reais, ante 267 milhões positivos um ano antes, também sob influência de itens ligados à compra da Somos, maior provisão para perdas esperadas com calotes no ensino superior e nos produtos de parcelamento.

Ensino básico

Enquanto o ensino superior luta para voltar a dar resultado, o principal foco de crescimento da Cogna passou a ser o ensino básico. Em agosto, a companhia fez o IPO de sua subsidiária Vasta na bolsa norte-americana de tecnologia Vasta, com captação de aproximadamente 2 bilhões de reais.

“Acreditamos que o mundo pós-pandemia resultará na necessidade de criação de escolas híbridas, e a Vasta está muito bem posicionada para suportar a transição da escola brasileira para esta nova realidade. O IPO traz recursos e garante autonomia para que a Vasta enriqueça ainda mais sua plataforma de serviços e consolide o mercado de conteúdo para escolas de ensino básico”, afirma a companhia.

A Vasta oferece conteúdo para escolas através de sistemas de ensino, como Anglo e Pitágoras, com material digital e impresso. Também possui uma plataforma digital de estudos, o Plurall, largamente usada pelas escolas na pandemia do novo coronavírus. Tem ainda soluções para educação complementar, como o ensino de línguas.

Em outra frente, oferece serviços de gestão para as escolas parceiras. Essa divisão, chamada de Plataforma Digital, é uma grande aposta da companhia para crescer. Ela oferece atualmente um serviço chamado de Livro Fácil, um e-commerce para a venda de conteúdo educacional, que também funciona como um centro de distribuição de materiais. A meta da Vasta  é se tornar um “parceiro para tudo” das escolas particulares. Para isso, o objetivo é ampliar os serviços voltados para a administração das escolas, incluindo sistema de gestão, marketing digital, marketplace de bolsas de estudos e serviço de matrícula online.

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